São 66,8 milhões de brasileiros pendurados com os bancos e financeiras, com seus juros extorsivos, e com as contas básicas de água, luz e gás de cozinha
A carestia e os juros elevados fizeram disparar a inadimplência no país. Em agosto, conforme dados da Serasa Experian, 66,8 milhões de brasileiros não conseguem efetuar o pagamentos de suas contas e dívidas. Em agosto de 2021, esse total era de 62,2 milhões de brasileiros, um acréscimo de 7,4% sobre uma base já muito alta.
São milhões de brasileiros pendurados com os bancos e financeiras, com seus juros extorsivos, mas também com as contas básicas de água, luz, gás de cozinha e mercado.
O valor total devido cresceu 15,04%. Em agosto de 2021 o montante era de R$ 244,4 bilhões, em junho de 2022, dado mais recente disponível, aumentou para R$ 281,4 bilhões.
O percentual da população adulta inadimplente passou de 38,9% em agosto de 2021 para 41,4% em junho deste ano. A maioria tem entre 26 e 40 anos de idade e totalizam 23,8 milhões de pessoas, seguido pela faixa etária de 41 a 60 anos que somam 22,9 milhões de consumidores. Idosos somam 11,5 milhões. As mulheres são a maioria do total de inadimplentes: 33,5 milhões contra 33,2 milhões de homens.
Cada brasileiro está devendo, em média, R$ 4.211,8 ante a R$ 3.928,8 que devia em agosto de 2021.
“De outubro de 2021 para cá estamos vendo onda de inadimplência mais demorada. O que tem explicado essa segunda onda mais intensa do que a primeira é a inflação, que passou para a casa de dois dígitos e continuou rodando acima de 10%. A causa não é mais a pandemia, mas o estrago que um problema macroeconômico faz na renda e na capacidade de pagamento dessas pessoas”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
“A inflação corrói o poder de compra das pessoas, que precisam gastar mais com alimentação e ficam com menos dinheiro para pagar contas”. diz o economista da Serasa. Em agosto de 2021, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) anual chegava a 9,68%. Passou a 10,25% em setembro e mantém-se em dois dígitos desde então.
Os preços do gás de cozinha e do gás encanado, por exemplo, aumentaram mais de 20%, superaram a inflação em mais do que o dobro. Os preços dos alimentos continuam subindo e assustando os consumidores.
A carestia corroendo o orçamento tem seu impacto ampliado devido à manutenção do desemprego muito alto, com mais de 10 milhões de trabalhadores buscando emprego e não conseguindo se empregar.
Os principais fatores na escalada da inflação com suas repercussões na inadimplência são resultantes de políticas que o governo Bolsonaro vem implementando.
Na frente dos alimentos, ao não regular as exportações deixando o mercado interno desabastecido, sem estoques reguladores; nos combustíveis em vincular seus preços ao mercado internacional e, portanto, ser efêmera a redução dos mesmos no curtíssimo prazo, ou até as eleições. Na energia elétrica favorecendo as empresas privatizadas do setor, mantendo no país uma das mais altas tarifas de energia do mundo. No crédito, a escalada do juros, como as seguidas altas na Selic, que é a taxa básica da economia.
Além do desemprego, a alta rotatividade da mão de obra, com o consequente achatamento dos salários, que é regra na atual situação, outras 39 milhões de pessoas estão trabalhando na informalidade, no trabalho precário, entre outros fatores que combinados derrubam a renda das famílias. Para comprometê-la ainda mais as taxas de juro extorsivas escalpelam o crediário, que ao invés de favorecer o consumo, funciona como um freio. Os tipos mais comuns de dívidas são com o cartão de crédito, o empréstimo consignado e carnês.
O Estado de São Paulo responde hoje por 21,1% dos novos inadimplentes. São 971.787 a mais do que em agosto de 2021, totalizando 15,7 milhões de pessoas, ou 43,6% da população adulta. Cada um desses tem em média R$ 4.861,35 de dívidas não pagas.
O Rio de Janeiro, por sua vez, viu os novos inadimplentes crescerem 619.009 no período e hoje acumula 6,7 milhões de pessoas, ou 49,4% da população adulta. A dívida média hoje está em R$ 4.233,07.
Minas Gerais somou 675.193 inadimplentes desde agosto de 2021 e hoje contabiliza um total de 6,4 milhões, ou 38,4% da população adulta. O valor médio devido por cada um é de R$ 3.928,8. O Amazonas é o Estado com maior percentual da população adulta inadimplente (51,9%), seguido por Rio de Janeiro e Amapá (49,3%).