O patrimônio em imóveis do clã Bolsonaro – que, além do patriarca Jair inclui seu círculo íntimo de familiares, como filhos, ex-esposas, irmãos e mãe – cresceu consideravelmente desde 1990.
Foram negociados 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 deles foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo.
Ao todo, em valores corrigidos pela inflação, circularam mais de R$ 25 milhões em espécie nas mãos dos Bolsonaros, segundo informações fornecidas por eles mesmos a cartórios e agora compiladas pelo site UOL.
Segundo a reportagem, as compras registradas nos cartórios com o modo de pagamento “em moeda corrente nacional”, expressão padronizada para repasses em espécie, totalizaram R$ 13,5 milhões sem a correção monetária.
Todos os negócios citados no levantamento como adquiridos “em moeda corrente nacional” são de Jair Bolsonaro ou do núcleo mais íntimo do presidente.
O levantamento considera o patrimônio construído no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília por Bolsonaro, seus três filhos mais velhos, mãe, cinco irmãos e duas ex-mulheres.
Consta na lista oito imóveis do presidente e suas ex-esposas, Ana Cristina Valle e Rogéria Nantes, negociados a R$ 3,2 milhões em valores corrigidos. Os filhos são os recordistas neste modelo de negociação. Ao todo, passaram pelas mãos de Flávio, Carlos e Eduardo a quantia de R$ 15,7 milhões em dinheiro vivo pela negociação de 19 imóveis.
Até a mãe de Bolsonaro, Olinda, falecida em janeiro, aos 94 anos, teve os dois únicos imóveis adquiridos em seu nome quitados em espécie, em 2008 e 2009, em Miracatu, no interior de São Paulo.
De acordo com o UOL, não é possível saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram pagamentos de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos) porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda.
Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).
Do total de imóveis negociados pelo clã, pelo menos 25 foram comprados em situações suspeitas e passaram por investigações do Ministério Público do Rio e do Distrito Federal.
Neste grupo, estão aquisições e vendas feitas pelo presidente, seus filhos e suas ex-mulheres, não necessariamente com o uso de dinheiro vivo – mas que se tornaram objeto de apurações como, por exemplo, no caso das “rachadinhas” (apropriação ilegal de salários de assessores) envolvendo os gabinetes de Flávio e Carlos, na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal do Rio.
Flávio e Carlos Bolsonaro, além de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher de Jair, são investigados desde 2018 por suspeita de envolvimento com o repasse ilegal de salários dos funcionários de gabinetes, esquema conhecido como “rachadinha”.
O Ministério Público apurou que a compra de imóveis em dinheiro vivo era uma forma de lavar o dinheiro captado de 90% dos salários dos assessores, parte deles fantasmas.
O caso levou Carlos a ter o sigilo bancário quebrado. Com relação a Flávio, parte das provas produzidas durante as apurações foram anuladas, mas a investigação segue em curso.
No ano passado, o site UOL revelou que quatro funcionários do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro sacaram mais de 72% dos salários em espécie.
Com a chegada de Bolsonaro à política como parlamentar, no início dos anos 1990, o patrimônio da família se multiplicou. Até 1999, os membros do clã tinham adquirido 12 imóveis. Nos anos seguintes, uma parte seria vendida, outra comprada.
BOLSONARO
Bolsonaro foi denunciado por esquema de rachadinha quando era deputado federal.
Um caso: a quebra de sigilo bancário, autorizada pela Justiça, da filha de Fabrício Queiroz, a personal trainer Nathalia Queiroz, confirmou que ela repassou a maior parte de seu salário de funcionária do gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília, quando este era deputado federal.
Os dados mostram que ela transferiu R$ 150.539,41 para a conta do policial militar aposentado de janeiro de 2017 a setembro de 2018, período em que esteve lotada no gabinete de Jair Bolsonaro.
O valor representa 77% do que a personal trainer recebeu da Câmara dos Deputados. Ela morava no Rio de Janeiro e trabalhava diariamente como personal trainer.
Nathalia esteve lotada como funcionária no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro de 2007 a 2016. Depois, foi transferida para o gabinete de Jair Bolsonaro em Brasília, mesmo residindo no Rio de Janeiro.
FAMÍLIA
Em 2022, a família seguia proprietária de 56 dos 107 imóveis transacionados nas últimas décadas. Até o fim dos anos 90, o gasto com imóveis somava R$ 567,5 mil (R$ 1,9 milhão em valores atualizados). Os 56 endereços que seguem registrados, nos dias atuais, em nome da família custaram R$ 18,8 milhões (ou R$ 26,2 milhões, corrigidos pelo IPCA).
Entre os imóveis negociados com dinheiro vivo pela família, estão lojas, terrenos e casas. Há 24 imóveis negociados pelos irmãos do presidente – Maria Denise, Maria Solange, Vânia e Renato – e sua mãe, Olinda. No último caso, circularam R$ 6,6 milhões em espécie na família.
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