William de Jesus Conceição, de 24 anos, relata o horror que passou, sob as mãos do dono e do gerente da loja em Salvador onde trabalhava. O empresário de Salvador está sendo denunciado por dois de seus funcionários por agressão e tortura.
Os trabalhadores afirmam que sofreram sessões de espancamento após serem acusados de furtar R$ 30 dentro do estabelecimento, localizado nas proximidades da Estação da Lapa, no Centro da capital baiana.
“Eu não acreditava no que estava acontecendo comigo. Apanhei muito e teve uma hora que não suportei mais. Eu realmente pensei que ia morrer. Quanto mais ele batia, ele continuava batendo. Batia com a barra, dava murro na cara”, disse William, que teve as mãos queimadas com ferro de passar.
“Estavam batendo com ódio, eu só vi a morte”, disse.
O empresário, que seria evangélico e que não teve o nome revelado, teria deixado marcado “171” com o ferro quente nas mãos da vítima, em referência à infração penal contra o patrimônio prevista no Código Penal Brasileiro. O funcionário também informou ter sido obrigado a usar vestido enquanto era gravado pelo agressor. As imagens foram compartilhadas no WhatsApp e divulgadas pelo Bahia Notícias.
William conta que foi abordado no primeiro momento pelo gerente e conduzido para os fundos da loja. Em seguida, o patrão chegou, e os dois chefes começaram a agredir os empregados.
“Eu só chorava e tremia. Me ameaçaram de morte e falaram que iam me entregar para os caras do tráfico”, conta o rapaz. “Estou muito indignado, não esperava isso deles”, desabafa.
O segundo funcionário foi identificado pelo prenome de Marcos, acusado de furtar R$ 30. “Ele estava mudando de loja e me disse para pegar as coisas. Nisso, ele já tinha armado e colocado R$ 30 em um balcão. Coloquei o dinheiro na minha bolsa porque, como eu já trabalhava com o lojista há muito tempo, achei que já tinha confiança. Eu já estive com mais dinheiro e sempre devolvia para ele. Eu ficava sempre na loja, sozinho”, relembrou.
“O primo dele chegou, pegou um pau e bateu na minha mão. Ele começou a me bater, dizendo que não era coisa de Deus. Eu falei: ‘não te roubei, mas, se quiser, pode bater'”. O vídeo também foi disseminado no WhatsApp.
A situação causou revolta entre os familiares dos jovens. “O vídeo está circulando nas redes sociais como se meu filho fosse ladrão e ele não é. Eu tive que procurar meus direitos e inocentar meu filho”, disse a mãe de William.
O caso foi denunciado na 1ª Delegacia Territorial (DT/Barris). O titular da unidade, Willian Achan, contou que um dos suspeitos já foi interrogado e prestou depoimento. “É um caso muito forte. Ele [um dos agressores] não deu justificativa para o crime, mas acusou os funcionários de furto”, detalhou o delegado.
As vítimas denunciaram os dois agressores e o Ministério Público do Trabalho da Bahia instaurou um inquérito para apurar o caso de tortura. A Polícia Civil do estado também investiga.
DELEGADO DIZ NÃO VER MOTIVOS PARA PRISÃO
O delegado que investiga o crime de tortura contra dois trabalhadores em Salvador, afirmou que ainda não há elementos para pedir a prisão dos patrões das vítimas, no curso das investigações.
Os dois agressores, Alexandre e Diógenes Carvalho, serão ouvidos novamente nesta quarta-feira (31). Em depoimento anterior, um deles afirmou que fez “justiça com as próprias mãos”.
Ao portal G1, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) disse que aguarda a conclusão do inquérito, para oferecer denúncia à Justiça. Já o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu o próprio inquérito para investigar os empresários.
De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a tortura é um crime hediondo e inafiançável, ou seja: não cabe indulto ou liberdade provisória. Para o delegado Willian Achan, não há dúvidas de que houve a prática da tortura contra os jovens. “Eles ficaram algum tempo trancafiados, sofreram agressões e outros tipos de situações mais graves, com queimaduras, mordaças, teve mãos e pés amarrados. Então, isso foi uma crueldade bem acintosa e que justifica a aplicação da Lei da Tortura”, detalhou o delegado.