A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, se manifestou contra levantar o sigilo das conversas entre os empresários que defenderam um golpe e o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Lindôra, braço direito de Aras, disse que a petição que sugeriu levantar o sigilo, feita pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Humberto Costa (PT-PE) e Fabiano Contarato (PT-ES), não é válida.
Os mesmos empresários que foram flagrados conversando sobre apoiar um golpe caso Lula seja eleito tinham conversas com Augusto Aras, indicado para a procuradoria-geral da República (PGR) por Jair Bolsonaro, que até agora estão sob segredo de justiça. As conversas foram obtidas pela PF.
Lindôra Araújo disse que a petição dos senadores é ilegal e tem interesse eleitoral.
Com a identificação de conversas de Aras com os golpistas, “parece que chegamos a um novo ponto na curva de crescimento dos ruídos antidemocráticos, com alegadas suspeitas de que mesmo as autoridades mais altas da República, que deveriam bem zelar pela guarda do sistema constitucional pátrio, com a defesa da ordem jurídica e do regime democrático, podem estar, em verdade, fazendo o jogo em sentido oposto, ao se aliarem aos gritos antidemocráticos ora existentes”, argumentaram os senadores.
Para eles, o sigilo das conversas de Aras com os golpistas deve ser levantado, visto que “o conhecimento público acerca dos temas realmente tratados nas conversas mantidas entre altíssimas autoridades públicas e empresários adeptos a tensões antidemocráticas é uma medida necessária, justamente para que haja um escrutínio social e amplo das reais intenções de determinadas autoridades federais”.
Caso isso não seja possível, pedem a transferência do sigilo das conversas de Augusto Aras com os empresários golpistas para o Senado, pois este é o “órgão competente constitucionalmente para avaliar eventual crime de responsabilidade do Procurador-Geral da República, no rito próprio da ação de impeachment”.
Estão envolvidos nas conversas golpistas os empresários Luciano Hang, da Havan, José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, do Barra World Shopping, André Tissot, do Grupo Serra, Meyer Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, e Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu.
Em documento que baseou as operações de busca e apreensão contra os empresários, consta que foram identificados “fortes indícios e significativas provas” da “existência de uma verdadeira ‘organização criminosa’ de forte atuação digital e com núcleos de ‘produção’, de ‘publicação’ de ‘financiamento’ e ‘político’ (…) com a nítida finalidade de atentar contra a Democracia e o Estado de Direito”.
O documento, produzido pelo juiz Aírton da Veiga, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, ainda mostra depoimentos de parlamentares e lideranças que passaram a ser perseguidas e atacadas com fake news depois que se afastaram do governo Bolsonaro.
Um grupo profissional produziu material para atacar esses parlamentares e o Supremo Tribunal Federal, contra o qual Jair Bolsonaro começou uma guerra.