PF suspeita que ela tenha usado “laranja” para comprar o imóvel. No ano passado, o ex-empregado de Ana Cristina e de Bolsonaro, Marcelo Nogueira, fez a mesma acusação, que nunca foi contestada pela advogada
O pequeno entorno do presidente Jair Bolsonaro — atual mulher, filhos e ex-mulheres — é um poço sem fundo de problemas graves. A novidade, agora, que ronda o chefe do Executivo tresloucado é a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher dele, que exibiu, quarta-feira (31), no Instagram dela, foto com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), André Mendonça, indicado por Bolsonaro para a Corte.
Desde terça-feira (30), ela voltou às manchetes e entrou na mira da Polícia Federal após informar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ser dona da mansão que dizia ser alugada.
A foto postada por Ana Cristina no Instagram, todavia, não foi feita nesta quarta-feira. A advogada, que, sob o nome Cristina Bolsonaro, tenta vaga de deputada distrital pelo PP, publicou série de fotos antigas feitas com pessoas famosas. A postagem já foi deletada, o que mostra que o objetivo da postagem não era nada nobre.
O objetivo é se promover, mostrando que se dá, tem amizade, com pessoas importantes para influenciar na campanha eleitoral dela.
NA MIRA DA PF
A Polícia Federal suspeita que ela tenha usado “laranja” para comprar o imóvel. No ano passado, o ex-empregado de Ana Cristina e de Bolsonaro, Marcelo Nogueira, fez a mesma acusação, que nunca foi contestada pela advogada. Fez-se, assim, silêncio tumular sobre o dito, que ficou, então, pelo não dito.
Investigações da PF apontam que há indícios de utilização de “laranjas” na compra de mansão no Lago Sul na qual vivem Ana Cristina Valle (PP) e Jair Renan, filho do presidente. Os dois se mudaram para o imóvel, avaliado em R$ 3,2 milhões, em junho do ano passado.
Sempre que era questionada, Ana Cristina afirmava que a propriedade de luxo era alugada. No entanto, conforme revelou a coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, a ex-mulher de Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral que o mesmo imóvel era agora de propriedade dela e valeria R$ 829 mil.
De acordo com relatório produzido pela PF, “a casa avaliada em R$ 3,2 milhões, ao que indicam os elementos de provas disponíveis, foi supostamente adquirida e financiada pela investigada Cristina Valle por meio de pessoa interposta sem ser possível identificar a origem de valores”.
Ainda segundo as apurações, “há indícios de utilização de terceira pessoa interposta para obtenção de financiamento imobiliário. Tal conduta possui alcance típico de delito contra o sistema financeiro”.
O imóvel foi comprado em 31 de maio, alguns dias antes da mudança de Ana Cristina do Rio de Janeiro, onde vivia com o “04”, como são conhecidos os filhos de Bolsonaro, para Brasília.
ENTENDA O CASO
A ex-mulher de Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral ser dona da mansão no Lago Sul, em Brasília, avaliada em R$ 3,2 milhões. O imóvel é o mesmo que, há cerca de 1 ano, ela negou ter comprado.
O caso foi revelado pelo portal UOL naquele ano. A reportagem levantava suspeitas de que a casa tenha sido comprada por “laranja”.
Naquela ocasião, quando se mudou para o local acompanhada de Jair Renan, filho “04” de Bolsonaro, Ana Cristina negou veementemente ser dona do imóvel. Ela ganhava um salário líquido de pouco mais de R$ 8 mil como assessora parlamentar, da deputada Celina Leão (PP-DF), enquanto o aluguel era estimado em torno de R$ 15 mil.
A mudança reforça a suspeita de que ela e o filho tenham comprado a mansão usando “laranja”. Naquele ano, o imóvel foi adquirido por R$ 2,9 milhões por Geraldo Machado, que, apesar de ser dono da mansão, morava em um sobrado simples em setor de “classe média” baixa no DF.
TUDO MUITO RÁPIDO
Naquele momento, apesar de dizer que o sonho dele era mudar para a mansão, o homem alugou o imóvel para Ana Cristina um mês após a aquisição.
Ele negou ser “laranja” e citou dificuldades financeiras que resultaram na opção da locação do luxuoso espaço.
O relato, então, de Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e ex-funcionário dela, dizia que Ana teria comprado a mansão com a venda de imóvel no Rio de Janeiro reforçavam naquele momento as suspeitas em torno do negócio.
Todavia, ainda não está claro quando a mansão passou a ser posse de Ana Cristina, já que não há registros cartoriais de venda do imóvel à ex-mulher de Bolsonaro, conforme apuração do portal UOL.
Procurados, Machado e Ana Cristina não comentaram nada sobre as dúvidas e suspeitas que pairam sobre esse “negócio da China”.
Ao se declarar dona do imóvel à Justiça Eleitoral, Ana Cristina, que disputa vaga como deputada distrital sob a alcunha de Cristina Bolsonaro (PP-DF), o registrou com um valor bem menor do que o de mercado. Ela informa ao TSE que a casa de 800 m² construídos vale, apenas, R$ 829 mil.
MAIS IMÓVEIS
Esses Bolsonaros terão de ser estudados como caso de sucesso milagroso nos negócios. Além da mansão, ela ainda declarou ter outros dois imóveis, um em Resende, no Rio de Janeiro, no valor de R$ 48 mil, e uma sala comercial no Centro do Rio de Janeiro, de R$ 73 mil.
Há ainda, segundo a declaração apresentada ao TSE, R$ 19 mil depositados em conta corrente, um carro avaliado em R$ 63 mil e quase R$ 15 mil em investimentos em ações de empresas.
Trata-se, pois, de “sucesso” e “prosperidade”, que merecem estudo, e também, investigação, não necessariamente nesta ordem.
COMPRA DE MAIS DE 50 IMÓVEIS EM DINHEIRO VIVO
O caso, não se pode esquecer, veio à tona apenas 1 dia após a compra de mais de 50 imóveis em dinheiro vivo pelo círculo íntimo de Bolsonaro ser revelada.
Ana Cristina, no caso, é uma das listadas nos negócios que levantam suspeitas contundentes de lavagem de dinheiro.
Ela também é apontada, constantemente, como a grande responsável pelo esquema de “rachadinha” — peculato — que é o nome “engraçadinho” para apropriação indébita de dinheiro público nos gabinetes do clã Bolsonaro.
M. V.