Lula condenou os sigilos de 100 anos decretados por Bolsonaro: “quem não deve, não teme”. Em discurso em São Luís (MA), o ex-presidente da República disse que vai “aumentar o salário mínimo todo ano”, reduzir juros e dar crédito “para que as pessoas tenham oportunidade de trabalhar”
O ex-presidente Lula participou, na sexta-feira (2) à noite, de um comício em São Luís, capital do Maranhão, e condenou os decretos de Bolsonaro impondo sigilo de 100 anos sobre assuntos que incriminam seu governo.
“Quem não deve não teme”, disse Lula. O ex-presidente denunciou que Bolsonaro “está tentando esconder cem anos até” sobre Eduardo Pazuello, que foi ministro da Saúde e cometeu crimes na sua gestão, como atrasar vacinas, negar oxigênio para socorrer as pessoas que precisavam em Manaus, atuar para emplacar remédios que não tinham efeito contra a Covid-19, como a cloroquina, corrupção na compra de vacinas durante sua gestão. “Recebeu um prêmio: sigilo de cem anos”, disse Lula, candidato da Frente Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e apoiado por PSOL/REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros.
Situações em que o governo Bolsonaro decretaram sigilo:
1) Processo na Receita Federal que descreve a ação do órgão para tentar confirmar tese da defesa do senador Flávio Bolsonaro, com objetivo de anular a origem do caso das “rachadinhas”;
2) Sobre informações dos crachás de acesso ao Palácio do Planalto emitidos em nome dos filhos Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro;
3) Cartão de vacinação de Bolsonaro foi colocado em sigilo, em meio à pandemia de Covid-19, enquanto questionava eficácia e segurança das vacinas;
4) Processo do Exército que apurou a ida do general da ativa e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello a um ato no Rio de Janeiro com o presidente Jair Bolsonaro e apoiadores do governo, no meio da pandemia.
“Flávio Dino, pode ficar certo que o meu primeiro decreto será revogar todos os sigilos daquele cara”, afirmou Lula.
INCOMPETÊNCIA
O ex-presidente disse ainda que seu objetivo ao se candidatar a presidente em 2022 é o de melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
“Quando eu tomei a decisão de voltar a ser candidato a presidente da República, é porque eu amo esse país e eu não posso aceitar que ele seja destruído pela incompetência de um fascista”, disse Lula. “Alguém que conta sete mentiras por dia, de alguém que é capaz de decretar cem anos de sigilo”, completou.
JUROS
Lula disse que seu governo vai abrir crédito com juros baixo para microempreendedores e negociar as dívidas das famílias brasileiras para que elas possam tirar o nome do Serasa.
“Nós vamos mudar essa situação, nós vamos negociar essas dívidas. Vamos obrigar os credores a baixar as taxas de juros, a tirar todo penduricalho para que a gente possa tirar as famílias brasileiras do Serasa e não ficar com o nome sujo nesse país, sem poder comprar mais nada”, falou o candidato.
“A gente vai colocar crédito para que as pessoas tenham oportunidade de trabalhar. E crédito com juros baratos porque, eu não sei se vocês sabem, hoje, 70% da população brasileira está endividada, sobretudo as mulheres, que estão fazendo dívida para comprar o que comer dentro de casa, comprar material escolar para as crianças”, afirmou.
Lula anunciou que vai “aumentar o salário mínimo todo ano” e “fortalecer o micro-empreendedorismo criando financiamento para quem quiser abrir um negócio ou uma loja. Vamos colocar crédito com juros baratos para quem quiser trabalhar”.
O candidato à Presidência disse que vai trabalhar junto com os governadores dos Estados para retomar obras de infraestrutura, gerando emprego e renda. Segundo ele, o governo federal deve “repartir a responsabilidade” dos “três ou quatro principais projetos de infraestrutura do Maranhão” e dos outros Estados. “Quero fazer um acordo para que a gente retome o desenvolvimento econômico”.
Em seu discurso, Lula fez elogios ao governo de Flávio Dino e sinalizou que ele poderá ser ministro de seu governo. “Esse Flávio Dino, ele que se prepare. Ele vai ser eleito senador, mas não será senador por muito tempo. Se prepare, porque vai ter muita tarefa nesse país. Vai ter muita tarefa nesse país”.
“Enquanto o genocida [Jair Bolsonaro] te chamava de governador gordão, eu te chamo de governador mais competente que nós temos no Brasil, o nosso companheiro Flávio Dino”, disse.
Lula ainda discursou rebatendo os ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro de que ele irá fechar as igrejas caso seja eleito. “Eu acho que o meu Deus não é o Deus do Bolsonaro. O dele é outra coisa, porque ele sabe que não se pode falar o nome de Deus em vão. Ele mente cada vez que abre a boca”.
“Foi no meu governo que a gente criou a lei de liberdade religiosa, liberdade de criar igreja. Foi no meu governo que a gente criou a Marcha por Jesus. Foi no meu governo que nós criamos o maior grau de liberdade para professar a religião que cada um deseja”, continuou.
FLÁVIO DINO
O ex-governador Flávio Dino (PSB), candidato ao Senado, dise que “o Maranhão nunca se enganou com miliciano, nunca abaixou a cabeça com demagogia” e trabalhou para combater a Covid-19, enquanto Bolsonaro sabotava.
Maranhão tem “a menor mortalidade por coronavírus de todo o Brasil”, lembrou o ex-governador.
Dino afirmou que “o governo mais corrupto da história brasileira é o governo liderado por Jair Bolsonaro, que é o governo do orçamento secreto. Nunca se roubou tanto dinheiro federal no Brasil como nesses anos trágicos”.
O candidato a governador do Estado, Carlos Brandão, que foi vice de Dino, falou que quer ser eleito “para realizar os sonhos” dos maranhenses. “Eu tenho a obrigação de fazer um governo ainda melhor do que o do Flávio Dino”.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também participou do ato em São Luís. Para ele, Jair Bolsonaro “não é da política”.
“Ser esquerda ou de direita, liberal ou socialista é da política, mas discriminar as mulheres, como faz o coisa ruim, não é da política; detestar os negros e os indígenas não é da política. Não faz parte da política banalizar quando mais de 600 mil compatriotas foram mortos pela Covid”.
A presidente nacional do PCdoB e candidata a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, denunciou que Jair Bolsonaro “colocou um auxílio que só vai até dezembro. Mas o povo não é bobo, quem criou o Bolsa Família foi Lula. Quem fez o Minha Casa, Minha Vida foi Lula. Quem fez as universidades irem para o interior foi Lula”.
“Ninguém aguenta mais o preço do feijão, o preço do arroz, o preço da farinha, do botijão de gás. No governo Bolsonaro subiu tudo, só não subiu o Salário Mínimo do povo”, sustentou.