
Assessor de Cláudio Castro, quando ele era vereador do Rio de Janeiro, Marcus Vinícius Azevedo da Silva detalhou o esquema de recebimento de propina do governador do Rio e candidato à reeleição, enquanto era parlamentar e também como vice-governador durante a gestão de Wilson Witzel. As informações foram obtidas pelo portal Uol nesta sexta-feira, 16.
Marcus Vinícius relatou o esquema envolvendo o empresário Flávio Chadud. Entre as revelações estão pagamento de propina para uma viagem à Disney e a corroboração da suspeita de dinheiro transportado por Castro em uma mochila. O depoimento do ex-assessor foi colhido em julho deste ano pelo Ministério Público do Rio no âmbito da Operação Catarata, que investiga fraudes em projetos sociais no Rio de Janeiro.
Segundo Marcus Vinícius, como vereador, Cláudio Castro atuou junto a Marcelo Crivella (Republicanos), então prefeito do Rio, para incorporar contratos da ONG de Marcus Vinícius e de uma empresa de Chadud à Subsecretaria de Pessoa com Deficiência (SUBPD), que era comandada por integrantes do esquema.
Em troca, Castro votou a favor do aumento de IPTU na cidade do Rio, um projeto de Crivella que enfrentava resistências na Câmara Municipal.
Com os contratos com a SUBPD, Castro ganhou – além de propina – capital político. Em 2018, ele foi eleito vice-governador de Witzel.
De acordo com o ex-assessor, o esquema não só seguiu quando Castro assumiu a vice-governadoria do Rio, como já estava bem implementado. Desde 2015, Marcus e Flávio Chadud se beneficiavam de um esquema que envolvia contratos de projetos sociais da empresa Novo Olhar (de Chadud) com a Fundação Leão 13.
Na gestão de Witzel, porém, a Leão 13 ficou sob a alçada de Fabiana Bentes, então secretária de Desenvolvimento Social, que não fazia parte do esquema. Sem conseguir tirá-la da fundação, Marcus Vinícius sugeriu um decreto para passar a Leão 13 à vice-governadoria, ou seja, para as mãos de Castro.
Em 9 de janeiro de 2019, Witzel publicou o decreto e a Fundação Leão 13 ficou sob o comando do vice-governador.
DISNEY
Em um dos pagamentos de propina, o ex-assessor explicou que uma das remessas foi enviada na quantia de US$ 20 mil para bancar uma viagem de Cláudio Castro com a família para a Disney, em Orlando (EUA), entre os anos de 2018 ou 2019, afirmou ex-assessor sem saber direito da data. Em 2018, porém, a mulher de Castro, Analine Castro, publicou fotos em suas redes sociais em que aparece nos parques da Disney.
“O Cláudio foi fazer uma viagem com a família para Orlando. Levou ele, a atual primeira-dama, os filhos, levou o irmão dele, a cunhada, foi uma galera. Parte dos recursos que pagaram a viagem do Cláudio e da família lá em Orlando saiu dos cofres, da contabilidade do ‘Novo Olhar’, e foi direto para Orlando. Quando ele chegou lá, o dólar estava lá. Não precisou sacar aqui. A gente tinha como mandar recurso através de doleiro para o exterior, foi direto. Chegou lá, a pessoa só chegou e entregou para ele. Na época, acho que foi o equivalente a US$ 20 mil, se não me engano. Eu dei uma parte, Flávio [Chadud] deu outra”, explicou o ex-assessor.
MOCHILA
Marcus Vinícius também confirmou às autoridades a suspeita de esquema de propina revelada pela GloboNews. Castro foi flagrado em imagens na sede da empresa de Chadud carregando uma mochila que, segundo Bruno Selem, ex-funcionário de Chadud, continha R$ 100 mil em propina.
“Aquela gravação que depois passou na mídia, em relação à mochila, que ele [Castro] foi na manhã da véspera da operação [Catarata], aquilo ali foi para ele receber o recurso que foi destinado, que foi pago, dias antes foi liberado pelo estado. Ele foi receber a parte dele lá no escritório, R$ 120 mil, uma parte dos recursos que haviam sido liberados atrasados. […] Aquela imagem foi exatamente o Cláudio na véspera indo lá para poder pegar o recurso. Tanto que no dia da operação ainda tinha uns R$ 300 mil dentro do cofre porque o Bruno [ex-funcionário] e o Flávio ainda iam distribuir para mais agentes”, afirmou.
Marcus Vinícius se aproximou de Cláudio Castro em 2015. Na época, ele assumiu a coordenação da campanha de Castro para vereador. Ele foi seu assessor na Câmara Municipal do Rio entre abril e agosto de 2017. Dono de uma das empresas investigadas na Operação Catarata, Marcus foi preso em 2019, mas hoje responde em liberdade.
Marcus Vinícius disse ainda que apresentou Castro para Flávio Chadud, e que o empresário deu dinheiro para a campanha. “Quando eu trouxe um candidato em potencial a ser eleito vereador, o Flávio [Chadud] não perdeu a oportunidade. Ele tem um olhar como poucos. […] Ele até ajudou, deu uns R$ 50 mil para me ajudar a pagar umas despesas de campanha do Cláudio”, revelou.
A assessoria de imprensa de Cláudio Castro disse ao Uol que não irá comentar processos em segredo de Justiça e chamou o vazamento de informações de “criminoso”.
“Não comento ações que estão em segredo de Justiça. O vazamento desse conteúdo é criminoso e visa única e exclusivamente interferir no processo eleitoral. Infelizmente no Rio de Janeiro há uma indústria de delações feitas por criminosos que querem se livrar da cadeia e acusam autoridades de forma leviana”.