O ano de 2021 ficará marcado pelo retrocesso na educação brasileira. Pela primeira vez, o Brasil registrou piora no aprendizado de estudantes em todos os níveis avaliados em 2021. Segundo os dados apresentados pelo próprio Ministério da Educação (MEC), a etapa que sofreu o maior impacto foi a da alfabetização, medida no 2º ano do ensino fundamental.
Os resultados são do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021, divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O completo abandono da Educação pelo governo federal durante a pandemia está agora registrado em números. Com as escolas fechadas e Estados e Municípios sem qualquer apoio ou orientação do MEC para atuar neste período crítico, as metas de desenvolvimento da Educação ficaram longe de serem cumpridas.
O Ideb, que é o principal indicador de qualidade das escolas do Brasil. O indicador considera os resultados do Saeb e o fluxo escolar, a aprovação ou reprovação e o abandono escolar. O Ideb segue uma escala de 0 a 10. O país fixou metas para serem cumpridas a cada etapa de ensino até este ano, o ano do bicentenário da Independência do Brasil. O Ideb 2021 era, portanto, o último com metas fixadas.
Os resultados mostram que o país, em um contexto de pandemia, não cumpriu nenhuma das metas estabelecidas para a Educação. Para os anos iniciais do ensino fundamental, até o 5º ano, o Ideb 2021 foi 5,8, a meta era 6. Nos anos finais, o Ideb foi 5,1 e a meta era 5,5. No ensino médio, o Ideb foi 4,2 e a meta era 5,2.
No Saeb, os resultados mostram que houve piora em todas as etapas de ensino. A maior queda ocorreu na etapa da alfabetização. A pontuação obtida pelos alunos do 2º ano do ensino fundamental em língua portuguesa passou de 750 pontos em 2019, em média, para 725,5. As pontuações são distribuídas em 8 níveis, de acordo com os conteúdos aprendidos. A queda de 24,5 pontos entre um ano e outro significa que a média brasileira caiu em um nível.
LEITURA INSUFICIENTE
A porcentagem dos estudantes do 2º ano nos três primeiros níveis, ou seja, que não conseguem sequer ler palavras isoladas, passou de 15,5% em 2019 para 33,8%, em 2021. Na outra ponta, a porcentagem daqueles no nível 8, o mais alto, caiu de 5% para 3%.
Em matemática, a porcentagem dos estudantes nos três primeiros níveis passou de 15,9% em 2019 para 22,4% em 2021. Esses estudantes não são capazes de resolver problemas de adição ou subtração. A média nacional caiu de 750 pontos para 741 pontos. Uma queda de 9 pontos. Nessa etapa, as provas são aplicadas de forma amostral, a apenas um grupo de estudantes de escolas públicas e particulares.
RETROCESSO
Nos demais anos, a avaliação é feita de forma censitária, com a aplicação a todos os alunos presentes. No 5º ano do ensino fundamental, o aprendizado dos estudantes tanto em língua portuguesa quanto em matemática retornou ao patamar de 2015. Em língua portuguesa, a média nacional foi de 208 pontos, mesma pontuação de 2015 e uma queda de 7 pontos em relação aos 215 obtidos em 2019.
Em matemática, a pontuação média foi 217, uma queda de 11 pontos em relação a 2019, com 228 pontos; e dois pontos abaixo de 2015, quando a média foi 219.
No 9º ano, quatro a cada dez alunos estão nos três primeiros níveis de aprendizagem em língua portuguesa, essa porcentagem passou de 40,8% em 2019 para 42,4% em 2021. Cerca de 15% dos alunos estão abaixo do nível 1, com habilidades mais básicas do que o sistema consegue aferir. A média de proficiência se manteve praticamente estável, passando de 260 em 2019 para 258 em 2021.
Em matemática no 9º ano, o país tinha registrado uma melhora, passando de uma média de 258 pontos em 2017 para 263 pontos em 2019. Agora, o país volta ao patamar de 2015, com uma média de 256 pontos e com 44,4% dos estudantes nos três níveis mais baixos de proficiência.
No 9º ano foi aplicada pela segunda vez, de forma amostral, avaliações de ciências no 9º ano. Mais da metade dos estudantes está nos três primeiros níveis de proficiência. Essa avaliação foi aplicada pela primeira vez em 2019, quando foi registrada a pontuação média de 250 pontos em ciências humanas e em ciências da natureza. Em 2021, a média cai para 244,6 pontos em ciências humanas e para 247,4 em ciências da natureza.
Aplicado a cada dois anos, desde 1990, o Saeb é a principal avaliação nacional de aprendizagem. Nele, estudantes do 2º, do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio resolvem questões de língua portuguesa e matemática.
Alguns estudantes do 9º ano respondem, ainda, a questões de ciências humanas e ciências da natureza. Ao todo, 5,3 milhões de estudantes foram avaliados em 2021.
No ensino médio, no último ano escolar, a média da proficiência caiu de 278 pontos em língua portuguesa em 2019 para 275 pontos em 2021. A pontuação coloca o Brasil no nível 3 de aprendizagem, em uma escala que vai até o nível 8. Isso significa que os alunos, em geral, não sabem, por exemplo, identificar a finalidade e a informação principal em notícias – habilidade do nível 4 de proficiência.
Em matemática, a média de pontuação no ensino médio passou de 277 para 270 entre 2019 e 2020, o que posiciona o país no nível 2 de 10 níveis.
FALTA DE PRIORIDADE PARA A EDUCAÇÃO
Os dados mostram que a pandemia levou ao fechamento de escolas em todo o país. A maior parte das escolas, 92%, adotou de mediação remota ou híbrida e 72,3% das escolas recorreram à reorganização curricular com priorização de habilidades ou conteúdos. Ou seja, os estudantes do país, mesmo cursando o mesmo ano escolar, não aprenderam necessariamente os mesmos conteúdos e, por isso, não é possível saber se tinham ou não aprendido o que foi cobrado no momento da avaliação.
Na avaliação da presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, os impactos da pandemia no sistema educacional brasileiro foram graves devido à falta de prioridade à área. A educação não foi priorizada na pandemia, essa é a verdade, a gente não pode esconder essa situação”, disse em entrevista ao canal CNN.
“As escolas ficaram um tempo demasiado fechadas, o Brasil acabou priorizando a reabertura de outros setores muito antes que as escolas, essa escolha cobrou um preço, e cobrou um preço muito maior às crianças em situação de menor vulnerabilidade”, acrescentou Priscila Cruz.
Bolsonaro transformou o MEC em balcão de corrupção, condena UMES-SP
Estudantes destacaram o abandono da Educação pelo governo federal. Lucca Gidra, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), denuncia que Bolsonaro preferiu transformar o MEC em um “balcão de corrupção”, ao invés de enfrentar os problemas causados pela pandemia.
“O governo federal ignorou a gravidade da pandemia e abandonou os estudantes ao longo do último período. Enquanto as escolas permaneciam fechadas, não houve qualquer empenho do governo para o fornecimento de internet aos estudantes de escolas públicas”, disse Lucca.
Ele relembra que a fome e a miséria contribuem diretamente para o abandono escolar. “A política de morte deste governo colocou o povo brasileiro numa situação de miséria e fome. Muitos estudantes foram obrigados a abandonar as escolas para trabalhar, ou cuidar de outras crianças para que os pais e mães trabalhassem”, disse.
O estudante ressalta, ainda, que “foi o governo Bolsonaro que se negou a comprar vacina e, mesmo com elas disponíveis, atrasou a vacinação da população brasileira. Isso causou um impacto gigantesco na Educação, já que com o atraso, o retorno seguro às aulas foi severamente prejudicado”.
GOVERNO CORRUPTO
“Durante todo este período não houve qualquer iniciativa, ou até mesmo anúncio de alguma iniciativa, por parte do Ministério da Educação para socorrer os estudantes brasileiros. E o motivo nós sabemos bem: o governo Bolsonaro preferiu transformar o MEC num balcão de corrupção, onde o próprio ministro negociava junto a pastores a propina. Barras de ouro e até mesmo bíblias com fotos do ministro e dos seus aliados foram distribuídas ao custo da Educação brasileira”, pontuou Lucca.