Usou discurso oficial na abertura do evento para mentir, atacar o adversário e jogar confetes em si próprio. Até de paladino das vacinas ele se fantasiou para tentar reverter seu desgaste
Os chefes de Estado e de governo presentes em Nova Iorque nesta terça-feira (20), para a abertura da Assembleia Geral da ONU, não acreditaram no que estavam vendo e ouvindo quando Jair Bolsonaro utilizou a tribuna das Nações Unidas, não para falar ao mundo, como era esperado, mas como se estivesse num palanque eleitoral, na tentativa de diminuir a alta rejeição do eleitorado ao seu desgoverno.
AUTOPROMOÇÃO
Ele passou boa parte do tempo se autopromovendo com dados, no mínimo, falaciosos sobre o desempenho de seu governo. Por exemplo, sobre a pandemia, ele afirmou que fala “com autoridade de um governo que não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”. No Brasil morreram mais de 685 mil pessoas, o segundo maior número de mortes em todo mundo, graças, em boa parte, à sua campanha criminosa contra a vacinação e à sabotagem de seu governo às medidas sanitárias recomendadas pelos especialistas.
Ele já tinha dado vexame em Londres, ao transformar o caixão da rainha num palanque eleitoral, como apontou o jornal britânico The Guardian, em editorial desta segunda-feira (19). Agora, ele envergonha o Brasil na Assembleia Geral da ONU ao transformar a tribuna, de um órgão que representa todas as nações, num trio elétrico do mesmo tipo que o bispo Malafaia disponibilizou a ele no 7 de setembro.
Transformou o discurso na ONU num comício de campanha. É por atitudes irresponsáveis como esta também que as pesquisas internas mostram um alto índice de rejeição ao seu governo.
Dentro do país já há uma convicção de que Bolsonaro não governa. Que ele deixa o país à deriva. Que ele prefere passear de moto o tempo todo e se divertir enquanto o Brasil vive uma de suas piores crises.
Recentemente, num desses passeios, ele questionou se alguém já tinha visto pessoas pedindo comida em frente a uma padaria. Querendo dizer que não há fome no Brasil. A afirmação gerou indignação na população.
Agora, depois destes dois vexames, o de Londres e de Nova Iorque, cresce também a convicção de que ele não representa o país nos fóruns internacionais. Usa esses fóruns para seus interesses particulares e eleitoreiros. Mente ao mundo, dizendo que está tudo uma maravilha no Brasil. Diz isso com a maior cara de pau, enquanto mais de 33 milhões de pessoas passam fome no país.
MENTIRAS
Não é por outro motivo que a maioria dos brasileiros não acredita no que ele diz.
Segundo levantamento do Ipec (ex-Ibope), divulgado na segunda (19), 59% dos entrevistados rejeitam o governo e apenas 39% o aprovam. Segundo também levantamento do instituto Datafolha, divulgado no último dia 15 de setembro, 51% nunca acreditam no que Bolsonaro diz e apenas 21% confiam em suas palavras.
Dizer que não mediu esforços para garantir a vacinação dos brasileiros é uma dessas mentiras mais desavergonhadas que o país inteiro sabe que não é verdade.
Pelo contrário, ele foi um dos que mais combateu a vacinação no Brasil. Fez uma campanha virulenta contra a ciência, contra a medicina e contra as vacinas. Tanto que nem ele próprio se vacinou. Bolsonaro causou, segundo diversos especialistas, centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. Sua sabotagem matou milhares de pessoas. Ele promoveu aglomerações, combateu as vacinas receitou cloroquina e ajudou a espalhar o vírus.
Como se não bastasse, demitiu ministros da Saúde que defendiam o uso das vacinas. Tentou impor à população uma orientação negacionista, estimulando que ela se infectasse intensamente para adquirir a chamada “imunidade de rebanho”. O mundo inteiro condenou esta atitude classificando-a de genocida. Agora, ele mente que é o paladino do combate ao vírus.
Foi contra a ajuda emergencial de R$ 600. Quando não podia mais segurar, defendeu R$ 200, mas o Congresso Nacional aprovou R$ 600. Agora diz na ONU que foi ele que criou a ajuda. Não faz a menor cerimônia em mentir para os brasileiros e para o mundo.
DEFENSOR DO MEIO AMBIENTE
Entre outras falácias, Bolsonaro se fantasiou de defensor do meio ambiente. Disse que 80% da Floresta Amazônica permanecem intocados. “Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500″, afirmou.
Bolsonaro, apoiador de garimpo em terras indígenas, que destruiu os órgãos de fiscalização e que teve um ministro que defendeu “abrir as porteiras para as boiadas”, acaba de anunciar anistia para criminosos ambientais. O presidente do IBMA, indicado por Bolsonaro, calcula em R$ 16,2 bilhões o montante do perdão das multas aplicadas entre 2008 e 2019.
Levantamento feito pelo consórcio MapBiomas apontou que o Brasil tinha, em 2021, 66% de seu território coberto por vegetação nativa, o que representa dois terços do total. No entanto, a mesma pesquisa revela que essas áreas não são conservadas em sua totalidade, logo não se encontram “exatamente como estavam quando o Brasil foi descoberto”, ao contrário do que diz o presidente
ATAQUES AO ADVERSÁRIO QUE LIDERA PESQUISAS
Usou a tribuna da ONU para atacar Lula, seu adversário, que lidera as pesquisas. Disse que havia corrupção e que agora isso é um assunto do passado. Puro cinismo de quem está no epicentro de um escândalo de corrupção de grandes proporções: a aquisição, por ele e por sua família, de 107 imóveis, sendo 51 deles, incluindo mansões de luxo, em dinheiro vivo. Sem falar no orçamento secreto, maior desvio de dinheiro público desde o escândalo dos anões do orçamento.
Até agora Bolsonaro não explicou como uma família de posses reduzidas como a dele conseguiu adquirir tantos imóveis, inclusive mansões, e também não disse por que pagou boa parte desses imóveis em dinheiro vivo. Seu filho, Flávio, por exemplo, adquiriu uma mansão em Brasília no valor de R$ 6 milhões. Não tinha renda que justificasse essa compra. Mas, curiosamente, ele é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de desviar exatos R$ 6 milhões dos cofres públicos através do esquema criminoso da rachadinha operado por ele na Assembleia Legislativa do estado.
Ou seja, empacado nas pesquisas e rejeitado pela maioria da população, Bolsonaro se utilizou de uma viagem oficial, bancada com recursos do contribuinte, onde ele deveria representar todos os brasileiros, dizer o que o país pensa do atual momento mundial, para oportunisticamente atacar Lula, mentir e fazer autopromoção.
Uma cena tão patética quanto o discurso eleitoreiro e desesperado que ele fez nos funerais da rainha Elizabeth II. Tão incomodado ele estava com as recentes pesquisas que voltou a atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ameaçar não respeitar resultado das eleições. Disse que se ele não ganhar “é porque houve alguma coisa estranha”.
DEFENSOR DAS MULHERES
E, depois de atacar adversários, desrespeitar países vizinhos e tripudiar a fome dos brasileiros dizendo que o Brasil “alimenta o mundo”, ele afirmou que é também é um paladino dos direitos das mulheres. Já que ele tentou vender a imagem de “defensor das vacinas”, não custava nada mais uma mentirinha. Ele achou que podia se passar por defensor das mulheres.
O mesmo misógino que no último debate, quase se engalfinhou com uma jornalista. Que agrediu uma deputada chamando-a de vagabunda e dizendo que não a estuprava porque ela era feia. O mesmo que insinuou a uma outra repórter mulher que ela queria “dar o furo”. É muito cinismo querer se passar por defensor das mulheres e inventar que criou 70 leis de proteção às mulheres.
Em suma, o desastre eleitoral de Bolsonaro está fazendo o Brasil passar vergonha em praticamente todos os fóruns internacionais. A expressão dos chefes de Estado presentes nesta terça-feira na Assembleia Geral da ONU era de espanto com o “comício”, assim como foi a dos embaixadores quando ele defendeu o golpe há alguns meses. Porque estamos sendo obrigados a ouvir um candidato que está mal nas pesquisas usar a tribuna da ONU para jogar confetes em si próprio e atacar seu adversário, como se estivesse num comício de campanha, devem ter pensado. O Brasil certamente terá que recuperar a imagem de respeito internacional que tinha e que Bolsonaro estragou nesses quatro anos de seu triste mandato.
Veja a íntegra do pronunciamento de Bolsonaro na ONU
Senhor Chába Corózi, Presidente da Septuagésima Sétima Assembleia-Geral das Nações Unidas, Senhor António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, Senhoras e Senhores chefes de Estado, de governo e de delegações, Senhoras e Senhores, começo por cumprimentá-lo, Embaixador Chába Corózi, pela eleição para presidir esta Assembleia Geral. Esteja certo de contar com o apoio do Brasil.
O tema escolhido para este Debate Geral gira em torno de um conceito que se aplica perfeitamente ao momento que vivemos: um divisor de águas.
Senhor Presidente, Nossa responsabilidade coletiva, nesta Assembleia Geral, é compreender o alcance dos desafios que compõem esse divisor de águas. E, a partir daí, construir respostas que tirem sua força dos objetivos que são comuns a todos nós.
A tarefa não é simples. Mas, a rigor, não temos alternativa.
Esse esforço tem de começar no interior de cada um dos nossos países. Antes de tudo, é aquilo que realizamos no plano interno que dá a medida da autoridade com que agimos no plano internacional.
Deixe-me falar da perspectiva do meu País.
Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos.
Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados.
O nosso objetivo foi proteger a renda das famílias para que elas conseguissem enfrentar as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia. Beneficiamos mais de 68 milhões de pessoas, o equivalente a 1/3 da nossa população.
Em paralelo, lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a Covid-19.
Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um.
Da mesma forma, no terreno da economia, o Brasil traz a autoridade de um país que, em nome de um crescimento sustentável e inclusivo, vem implementando reformas para a atração de investimentos e melhoria das condições de vida de sua população.
No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares.
O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para a bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas.
Esse é o Brasil do passado.
Aprimoramos os serviços públicos com redução de custos e investimento em ciência e tecnologia. Hoje, por exemplo, o Brasil é o 7º país mais digitalizado do mundo: são 135 milhões de pessoas que acessam 4.900 serviços do meu governo. O Brasil foi pioneiro na implantação do 5G na América Latina.
Levamos adiante uma abrangente pauta de privatizações e concessões, com ênfase na infraestrutura.
Concluímos o projeto de transposição do Rio São Francisco, levando água para o Nordeste brasileiro. Adotamos novos marcos regulatórios, como o do saneamento básico, o das ferrovias e o do gás natural. Além disso, melhoramos o ambiente de negócios, com a lei de liberdade econômica e a lei de start-ups.
Como resultado, criamos oportunidades para o jovem empreender e ter empregos de qualidade.
Coroando todo esse esforço de modernização da economia brasileira, estamos avançando, a passos largos, para o ingresso do Brasil como membro pleno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE.
Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada.
Os números falam por si só. A estimativa é de que, no final de 2022, 4% das famílias brasileiras estejam vivendo abaixo da linha da pobreza extrema. Em 2019, eram 5,1%. Isso representa uma queda de mais de 20%.
O Auxílio Brasil, programa de renda mínima criado pelo meu governo, durante a pandemia, que atende 20 milhões de famílias, faz pagamentos de quase US$ 4 por dia as mesmas.
O desemprego caiu 5 pontos percentuais, chegando a 9,1%, taxa que não se via há 7 anos. Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto.
Desde junho, o preço da gasolina caiu mais de 30%. Hoje, um litro no Brasil custa cerca de US$ 0,90. O preço da energia elétrica também teve uma queda de mais de 15%. Quero ressaltar que o custo da energia não caiu por causa de tabelamento de preços ou qualquer outro tipo de intervenção estatal. Foi resultado de uma política de racionalização de impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional.
Em 2021, o Brasil foi o 4º maior destino de investimento estrangeiro direto do mundo. Nosso comércio exterior alcançou a marca histórica de 39% do PIB, mesmo diminuindo ou zerando impostos de milhares de produtos.
No plano interno, também estamos batendo recordes em três áreas: arrecadação fiscal, lucros das empresas estatais e relação entre dívida pública e PIB. Aliás, em 2021 tivemos superávit no resultado consolidado de contas públicas. O PIB brasileiro aumentou 1,2% no segundo trimestre. A projeção de crescimento para 2022 chega a 3%.
Temos a tranquilidade de quem está no bom caminho. O caminho de uma prosperidade compartilhada. Compartilhada entre os brasileiros e, mais além, compartilhada com nossos vizinhos e outros parceiros mundo afora.
É isso que vemos, por exemplo, na produção de alimentos. Há quatro décadas, o Brasil importava alimentos. Hoje, somos um dos maiores exportadores mundiais.
Isso só foi possível graças a pesados investimentos em ciência e inovação, com vistas à produtividade e à sustentabilidade. Faço aqui um tributo à pessoa de Alysson Paulinelli, candidato brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz, por seu papel na expansão da fronteira agrícola brasileira com o uso de novas tecnologias.
Este ano, o País já começou a colheita da maior safra de grãos da nossa história. Estima-se pelo menos 270 milhões de toneladas. O Brasil também, em poucos anos, passará de importador a exportador de trigo.
Para o período 2022/2023, a previsão é que a produção total ultrapasse os 300 milhões de toneladas. Como afirmou a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo.
O nosso agronegócio é orgulho nacional.
Senhor Presidente, quero lembrar que, também na área do desenvolvimento sustentável, o patrimônio de realizações do Brasil é fonte de credibilidade para a ação internacional do nosso País. Em matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo.
Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional.
É fundamental que, ao cuidarmos do meio ambiente, não esqueçamos das pessoas: a região amazônica abriga mais de 20 milhões de habitantes, entre eles indígenas e ribeirinhos, cuja subsistência depende de algum aproveitamento econômico da floresta. Levamos internet a mais de 11 mil escolas rurais e a mais de 500 comunidades indígenas.
O Brasil começou sua transição energética há quase meio século, em reação às crises do petróleo daquela época. Hoje, temos uma indústria de biocombustíveis moderna e sustentável. Indústria que contribui para a matriz energética mais limpa entre os países do G20.
Cerca de 84% da nossa matriz elétrica atualmente é renovável, e esse é o objetivo que muitos países desenvolvidos esperam alcançar somente depois de 2040 ou 2050.
No ano passado, o Brasil foi escolhido pelas Nações Unidas como país “campeão da transição energética”. Temos capacidade para ser um grande exportador mundial de energia limpa. Contamos com um excedente, já em construção, que pode chegar a mais de 100 Gigawatts entre biomassa, eólica terrestre e solar, além da oportunidade, ainda não explorada, de eólicas marítimas de 700 Gigawatts, com um dos menores custos de produção do mundo. Essas fontes produzirão hidrogênio verde para exportação.
Parte desta energia 100% limpa abre a possibilidade de sermos fornecedores de produtos industriais altamente competitivos, especialmente no Nordeste brasileiro, com uma das menores pegadas de carbono do mundo.
A agenda do desenvolvimento sustentável é afetada, de várias maneiras, pelas ameaças à paz e à segurança internacional. Erguemos as Nações Unidas em meio aos escombros da Segunda Guerra Mundial. O que nos motivava, naquele momento, era a determinação de evitar que se repetisse o ciclo de destruição que marcou a primeira metade do século XX. Até certo ponto, podemos dizer que fomos bem-sucedidos.
Mas, hoje, o conflito na Ucrânia serve de alerta. Uma reforma da ONU é essencial para encontrarmos a paz mundial. No caso específico do Conselho de Segurança, após 25 anos de debates, está claro que precisamos buscar soluções inovadoras. O Brasil fala desse assunto com base em uma experiência que remonta aos primórdios da ONU.
É pela décima-primeira vez que ocupamos assento não permanente no Conselho. Temos buscado dar o melhor de nós para a solução pacífica e negociada dos conflitos internacionais, sempre guiados pela Carta da ONU e pelo Direito Internacional.
O Brasil também tem um longo histórico de participação em missões de paz da ONU. De Suez a Angola, do Haiti ao Líbano, sempre estivemos ao lado da manutenção da paz.
Também contribuímos para a paz ao abrirmos nossas fronteiras para aqueles que buscam uma chance de reconstruir suas vidas em nosso país. Desde 2018, mais de seis milhões de irmãos venezuelanos foram obrigados a deixar seu país. Muitos deles vieram para o Brasil.
Nossa resposta a esse desafio foi a “Operação Acolhida”, que se tornou referência internacional. Já são mais de 350 mil venezuelanos que encontraram, em território brasileiro, assistência emergencial, proteção, documentação e a possibilidade de um recomeço. Todos têm acesso ao mercado de trabalho, a serviços públicos e a benefícios sociais.
Nos últimos meses, chegam por dia ao Brasil, a pé, cerca de 600 venezuelanos, a grande maioria dos quais mulheres e crianças pesando em média 15 quilos a menos do que antes, fugindo da violência e da fome.
A política brasileira de acolhimento humanitário vai além da Venezuela. Temos também recebido haitianos, sírios, afegãos e ucranianos.
Senhor Presidente, o conflito na Ucrânia já se estende por sete meses e gera apreensão não apenas na Europa, mas em todo o mundo.
Quero, em primeiro lugar, renovar o agradecimento do Brasil aos países que ajudaram na evacuação de brasileiros que se encontravam na Ucrânia quando começou o conflito. Refiro-me especialmente à Eslováquia, Hungria, Polônia, Romênia e República Tcheca. A operação foi exitosa. Não deixamos ninguém para trás, nem mesmo seus animais de estimação.
Diante do conflito em si, o Brasil tem-se pautado pelos princípios do Direito Internacional e da Carta da ONU. Princípios que estão consagrados também em nossa Constituição. Defendemos um cessar-fogo imediato, a proteção de civis e não-combatentes, a preservação de infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de todos os canais de diálogo entre as partes em conflito. Esses são os primeiros passos para alcançarmos uma solução que seja duradoura e sustentável.
Temos trabalhado nessa direção. Nas Nações Unidas e em outros foros, temos tentado evitar o bloqueio dos canais de diálogo, causado pela polarização em torno do conflito. É nesse sentido que somos contra o isolamento diplomático e econômico.
As consequências do conflito já se fazem sentir nos preços mundiais de alimentos, de combustíveis e de outros insumos. Estes impactos nos colocam a todos na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Países que se apresentavam como líderes da economia de baixo carbono agora passaram a usar fontes sujas de energia. Isso configura um grave retrocesso para o meio ambiente.
Apoiamos todos os esforços para reduzir os impactos econômicos desta crise. Mas não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções unilaterais e seletivas, contrárias ao Direito Internacional. Essas medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria Europa.
A solução para o conflito na Ucrânia será alcançada somente pela negociação e pelo diálogo.
Faço aqui um apelo às partes, bem como a toda a comunidade internacional: não deixem escapar nenhuma oportunidade de pôr fim ao conflito e de garantir a paz. A estabilidade, a segurança e a prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar.
Senhor Presidente, tenho sido um defensor incondicional da liberdade de expressão. Além disso, no meu governo, o Brasil tem trabalhado para trazer o direito à liberdade de religião para o centro da agenda internacional de direitos humanos. É essencial garantir que todos tenham o direito de professar e praticar livremente sua orientação religiosa, sem discriminação.
Quero aqui anunciar que o Brasil abre suas portas para acolher os padres e freiras católicos que tem sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua. O Brasil repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo.
Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero.
Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova cabal desse compromisso.
Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a todos os brasileiros.
Os resultados aparecem em nosso governo: queda de 7,7% no número de feminicídios e diminuição do número geral de mortes por homicídio. Em 2017 eram 30 mortes por 100 mil habitantes. Agora são 19.
A violência no campo também caiu ao mesmo tempo em que aumentamos a regularização da propriedade da terra para os assentados. No meu governo, entregamos 400 mil títulos rurais, 80% deles para mulheres.
Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem. A Primeira Dama, Michelle Bolsonaro, trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras.
Senhor Presidente, Senhor Secretário-Geral, Senhoras e Senhores chefes de Estado e de governo, Senhoras e Senhores, neste 7 de setembro, o Brasil completou 200 anos de história como nação independente. Milhões de brasileiros foram às ruas, convocados pelo seu presidente, trajando as cores da nossa bandeira.
Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, Pátria, família e liberdade.
Muito obrigado.