
O governo federal bloqueou R$ 250 milhões das verbas destinadas à saúde indígena para o próximo ano. O montante bloqueado corresponde a 15,6% do orçamento total previsto para a Secretaria Especial de Saúde Indígena para todo o ano de 2023 (R$ 1,6 bilhão) e afetará programas de assistências como saneamento básico, distribuição de medicamentos e transporte.
“É muito triste o que está acontecendo com o povo Yanomami. Estou aqui na minha comunidade. Hoje morreram mais duas crianças de malária, no Parafure”, declarou Junior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) da Terra Indígena Yanomami.
O DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) Yanomami em Roraima atende, segundo Hekurari, 31.180 indígenas em 368 comunidades e 70 unidades básicas de saúde. Muitas dessas comunidades carecem de reparos urgentes em suas estruturas, segundo a liderança indígena. “Estamos fazendo um documento para mandar para o Ministério Público, Ministério da Saúde, Ministério da Economia. Se cortar 50%, a gente vai receber o quê? Se cortarem, o povo Yanomami vai morrer muito, principalmente crianças. Já está morrendo muito”, alerta.
Em Mato Grosso, a decisão vai agravar a situação de mais de 2 mil indígenas que vivem nas 14 aldeias da Terra Indígena de Marãiwatsédé, no Nordeste do estado. Há meses, caciques das 14 aldeias da comunidade têm denunciado a falta de medicamentos no posto de saúde na comunidade.
Na região dos municípios de Alto Boa Vista e Bom Jesus do Araguaia, lideranças denunciam que há mais de seis meses não há médico nos plantões e faltam medicamentos básicos como dipirona, paracetamol e ibuprofeno.
No Tocantins, a líder indígena Eliana Karajá, integrante do Condisi, afirmou que o corte orçamentário também impacta na construção de unidades básicas de saúde indígena. Entre as obras afetadas está a construção de uma nova unidade que estava programada para a aldeia Fontoura, a segunda maior aldeia do povo Karajá, na Ilha do Bananal,
As facadas de Bolsonaro no orçamento para 2023 atingiram em cheio a área social. Entre elas, as políticas de enfrentamento à violência contra a mulher (90%). Já os programas de prevenção e controle do câncer foram afetados em 45%. A doença é a segunda que mais mata no país.
O governo também vetou o reajuste dos valores dos repasses para a merenda escolar, que desde 2017 não são reajustados, obrigando as escolas a servirem bolacha e suco para os estudantes. Com isso, o governo economizou 19,4 bilhões para as barganhas políticas via orçamento secreto.