“Tem que aumentar os salários, não a miséria”, exigia faixa. Reajustes este ano foram em média de 2,5%, diante de inflação de quase 6%, enquanto as contas de eletricidade e gás se tornam insuportáveis. Macron quer aumentar para 65 anos a idade mínima de aposentadoria.
Para exigir a recuperação do poder aquisitivo e protestar contra a carestia e a iníqua ‘reforma da previdência’ que o regime Macron tenta retomar para aumentar para 65 anos a idade mínima de aposentadoria, dezenas de milhares de manifestantes, atendendo convocação das centrais sindicais CGT, FSU e Solidaires, apoiada pelas entidades juvenis e populares, foram às ruas por toda a França na quinta-feira (29), em duzentas cidades e vilas, de Paris a Marselha, de Lion a Estrasburgo.
É “um primeiro aviso ao governo e empregadores para que rapidamente se engajem nas negociações salariais”, afirmou o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, no ato em Paris, que marchou da Praça Denfert-Rochereau até a Bastilha, reunindo mais de 40 mil pessoas.
Várias categorias realizaram greves, como ferroviários e professores; a maior refinaria do país, da Total, ficou paralisada. A Torre Eiffel não funcionou. O transporte foi afetado.
Faixas denunciavam que as tarifas da eletricidade e do gás dispararam, mas os salários estão “bloqueados”, enquanto acionistas de monopólios privados são aquinhoados por polpuda distribuição de dividendos, sobre os lucros extraordinários, em meio à crise.
Em Nantes, a manifestação local era encabeçada pela faixa “aumentar nossos salários, não a miséria”. Segundo o jornal La Croix, a média dos reajustes salariais este ano ficou na ordem de 2,5%, quando a inflação é de quase 6% – o que implica em perda real de salário de 3,5%.
Inicialmente convocada por causa da carestia e da perda de poder aquisitivo, a mobilização na França serviu para reativar a luta contra a famigerada “reforma da previdência” do governo Macron, que estava ponto morto desde 2019 – primeiro, por causa das maiores greves na França em um bom tempo; depois, pela pandemia.
A reativação da luta é uma consequência de Macron, aliás, ‘Júpiter’, pelas poses que encena, ter decidido enfiar, agora, goela abaixo dos franceses, a prorrogação para 65 anos da idade mínima de aposentadoria, para entrar em vigor em 2023.
Com a Europa a caminho da recessão, esse arrocho sobre os trabalhadores, que pela lei atual estão prestes a se aposentarem, soa ainda mais perverso.
Na manifestação em Paris, o líder comunista Fabien Roussel pediu que a reforma da previdência seja submetida a um referendo, depois de se pronunciar contra a extensão da idade de aposentadoria.
Tentando atrair as centrais sindicais, o governo anunciou para a próxima semana uma rodada de “consultas” com os sindicatos, sob a batuta de Olivier Dussopt, ministro do Trabalho.
Macron, que perdeu a maioria absoluta nas últimas eleições, ameaçou inclusive com a dissolução da Assembleia Nacional [e portanto novas eleições parlamentares], para chantagear pela aprovação da sua lei anti-aposentados. Embora ainda lhe restem outros instrumentos legais para oprimir os trabalhadores franceses, em prol de banqueiros e monopolistas.
Um manifestante ouvido pela RT-fr se disse indignado com as declarações do governo Macron ameaçando dissolver a Assembleia Nacional se sua ‘reforma da Previdência’ encontrar oposição. “É uma forma de nos dizer: ‘vai passar de qualquer jeito’”. O que – acrescentou – motiva os manifestantes para uma próxima rodada de protestos.
Em várias regiões, entidades ligadas a outras centrais sindicais, como a FO e até a CFDT, também engrossaram as manifestações dessa quinta-feira. No dia 3 de outubro está marcada uma reunião com todas as centrais francesas para unificar a luta e definir a continuação dos protestos.