
A expansão do Auxílio Brasil, que teve seu valor reajustado por Jair Bolsonaro (PL) por puro interesse eleitoral, não reverteu a tendência de vitória do PT nos municípios mais pobres.
O candidato à reeleição foi o mais votado em apenas 31 dos mil municípios mais dependentes do benefício, segundo levantamento do Valor Data. Nas outras, ganhou o ex-presidente Lula.
As informações foram publicadas no jornal “Valor” desta quinta-feira (6).
Com dados do Ministério da Cidadania, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o instituto apurou que o aumento do auxílio – que passou de R$ 400 para R$ 600 por família só até dezembro, no início de agosto – não surtiu o efeito esperado.
Pela regra em vigor, o auxílio de R$ 600 será pago somente até dezembro.
O cruzamento das informações mostra ainda que na maioria destes 31 municípios, mais precisamente em 25 deles, Bolsonaro já havia sido o mais votado nas eleições de 2018. Ou seja, após o início do pagamento do auxílio turbinado Bolsonaro conseguiu virar o voto em apenas seis municípios entre aqueles que mais dependem do Auxílio Brasil.
Os mil municípios analisados estão localizados, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste.
“O programa de transferência de renda já estava muito consolidado como algo associado ao PT. E, na minha avaliação, não houve tempo para que as pessoas passassem a associar o novo programa, o Auxílio Brasil, ao governo Bolsonaro”, avalia Lucio Rennó, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).
O Auxílio Brasil foi criado no governo Bolsonaro e sucedeu o Bolsa Família, que foi uma das principais marcas dos governos petistas.
O jornal “Folha de S.Paulo” também observou o padrão de votação dos dois candidatos, considerando a cobertura do programa social que substituiu o Bolsa Família. A análise foi realizada com 99% das urnas apuradas.
Os dados apurados indicam que a probabilidade de Bolsonaro ter vencido em uma determinada cidade diminui à medida que aumenta a parcela de famílias beneficiadas com o programa de transferência de renda. Padrão inverso, benéfico ao PT, é observado desde 2006.
Bolsonaro recebeu 24% dos votos nas cidades mais pobres do país, ante 71% de Lula, considerando aquelas proporcionalmente mais atendidas pelo Auxílio Brasil – três quartos ou mais das famílias inscritas no programa.