O autor da entrevista em que Bolsonaro afirmou, em 2016, que comeria carne humana, o jornalista Simon Romero, se surpreendeu com a repercussão que a matéria teve agora, na campanha eleitoral.
Romero, que era correspondente no Brasil do jornal The New York Times, disse que fez a entrevista na época com o então deputado federal Jair Bolsonaro porque “queria entender melhor a extrema-direita que estava começando a ganhar força no Brasil”.
“Nos EUA, [Donald] Trump também estava subindo nas pesquisas, então havia bastante interesse no tema”, diz.
No vídeo da entrevista, que na semana passada veio a público e viralizou nas redes, Bolsonaro conta uma história sobre um caso de antropofagismo do povo Yanomami, de Roraima, e afirma com todas as letras que “queria ver o índio sendo cozinhado” e “eu comeria o índio sem problema nenhum”.
“Eu vou te falar o que é que é comer um índio […] Tive em Surucucu (RO) certa vez […] morreu um índio e eles estão cozinhando. Eles cozinham o índio, é a cultura deles […]. Cozinha por dois, três dias e come com banana”, diz Bolsonaro na gravação, e continua: “e daí eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara falou ‘se for, tem que comer’. Eu falei, ‘eu como!’ Como a comitiva não quis ir, porque tinha que comer o índio, não queriam me levar sozinho lá, aí não fui. Eu comeria o índio sem problema nenhum, é a cultura deles, e eu me submeti àquilo”, completou.
O jornalista conta que a conversa com Bolsonaro ocorreu no Rio, no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, e que o próprio filho filmou a entrevista. “Depois o vídeo apareceu nas páginas do Bolsonaro sem nenhum aviso”, diz Romero.
“Achei muito estranho o comentário sobre um suposto ritual, no mínimo algo muito difícil de confirmar. Parecia que ele estava tentando provocar uma reação”, diz o jornalista.
“É surreal ver uma entrevista que fiz seis anos atrás ganhar nova vida. Estava de férias, fazendo trilha nas montanhas de Novo México [EUA] com um dos meus filhos, então o serviço de celular estava ruim. Voltei e tive um monte de mensagens de amigos no Brasil sobre canibalismo, a entrevista de 2016 e outros temas como maçonaria e satanismo. Foi uma surpresa”, afirmou Simon Romero.