O editor do Wikileaks e denunciante dos crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão foi levado para isolamento máximo 24 horas por dia, 7 dias por semana, no presídio de Belmarsh, disse sua esposa
Julian Assange – o mais famoso preso político do mundo e fundador do Wikileaks – testou positivo para Covid-19 e está sendo mantido em isolamento total na prisão de Belmarsh, enquanto continua lutando contra a extradição para os EUA, informou a jornalistas sua esposa, a advogada Stella, que casou com ele em março e é mãe de seus dois filhos pequenos. “Os próximos dias serão cruciais para sua saúde geral”, disse Stella.
No sábado, em Londres milhares de pessoas abraçaram o parlamento britânico em apoio a Assange e repúdio à sua extradição aos EUA, autorizada por uma Alta Corte, revisando decisão favorável ao jornalista na primeira instância.
Protestos contra a extradição do jornalista também ocorreram na Alemanha, África do Sul, Austrália, Brasil, Bélgica, Canadá, Itália e México.
Assange ficou doente na sexta-feira com tosse e febre e recebeu paracetamol antes de testar positivo para o vírus no dia seguinte, acrescentou Stella aos jornalistas na segunda-feira (10).
No início de 2020, quando a Covid-19 estava descontrolada, o jornalista se candidatou à liberdade sob fiança, concedida na época a muitos presos, mas não a ele, apesar de sofrer há mais de uma década de uma condição pulmonar crônica e, portanto, estar na categoria de alto risco para infecção por Covid-19.
Se for extraditado para os EUA, ele estará sujeito a até 175 anos de cárcere em prisão de segurança máxima, acusado de espionagem e pirataria digital por ter divulgado, ao mundo inteiro – aliás, junto com os maiores jornais do mundo -, documentos do Pentágono registrando crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão. Inclusive o vídeo do assassinato de dois jornalistas da Reuters e mais uma dezena de civis iraquianos desarmados, bem como dossiês da tortura em Guantánamo.
Nenhum criminoso de guerra ou mandante sofreu qualquer punição por isso, nem mesmo os mostrados em vídeo, mas o denunciante, Assange, durante mais de uma década vem sendo brutalmente perseguido por trazer a verdade à tona, o que afetou visivelmente seu quadro de saúde, o que só se agravou no presídio de Belmarsh.
Em dezembro, Assange sofreu um derrame, deixando-o com uma pálpebra caída, problemas de memória e danos neurológicos aparentes, de acordo com sua esposa, que disse que o incidente foi desencadeado pelo estresse dos processos de extradição em andamento.
A manifestação de sábado com milhares de pessoas em Londres foi a primeira corrente humana conhecida a cercar as Casas do Parlamento.
“Julian Assange é um jornalista que contou a verdade incômoda em todo o mundo sobre o que aconteceu no Iraque, o que aconteceu no Afeganistão, o que aconteceu na Síria, Líbia, destruição ambiental, o poder e a interface dos grandes negócios e empresas de armas com os governos. Essa verdade deixou muitas pessoas muito poderosas muito desconfortáveis, então os EUA tentaram acusá-lo sob a Lei de Espionagem”, disse o ex-líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, durante o abraço ao parlamento.
“Se acreditamos na liberdade de expressão, se acreditamos no jornalismo independente e democrático, então Julian Assange deveria ser libertado de Belmarsh e não removido para os Estados Unidos. Então, minha mensagem para os jornalistas de todo o mundo é: assuma a profissão escolhida para assumir a responsabilidade de dizer a verdade sem medo nem favor. Diga a verdade sobre Julian e diga ao governo britânico que recuse a extradição”, registrou o Consortium News.
Na corrente humana contra a extradição em torno do parlamento britânico, duas mensagens centrais: “Jornalismo não é crime” e “Libertem Assange”. A decisão da ministra do Interior britânica – contra a qual a defesa do jornalista está apelando – foi também repudiada pela presidente da Federação Internacional de Jornalistas, Dominique Pradalié: “é vingativa e um verdadeiro golpe para a liberdade da mídia”.