É cada vez maior o número de brasileiras que recorrem ao cartão de crédito, com os maiores juros do mundo, para fazer frente à carestia e colocar comida na mesa da família
A política econômica de Jair Bolsonaro, marcada pelo descontrole da inflação e aumento deliberado dos juros, fez o endividamento das famílias alcançar níveis históricos. As mulheres são as mais atingidas: de acordo com pesquisa de setembro da Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC), 80,9% das mulheres brasileiras estão endividadas. O percentual é 5,9 pontos maior que em setembro de 2021, o que mostra que a situação, ao contrário do que vemos na propaganda eleitoral, só vem piorando.
Dentre os homens, o percentual de endividados é de 78,2%.
O diagnóstico é que as mulheres estão se endividando para comprar os itens mais básicos de sua subsistência e de sua família, ou seja, garantir comida na mesa.
Segundo a especialista em educação financeira, Aline Soares, o número de famílias que passou o usar o cartão de crédito para compras de supermercados aumentou exponencialmente no último período. Mulheres chefes de família e mães solteiras, sem alternativa para alimentar seus filhos, são as mais suscetíveis.
“Se você usa o cartão de crédito para as compras no supermercado e ainda parcela essas compras, o que tem que pensar é: as parcelas vão continuar vindo na fatura, mas as compras de alimentos que você fez provavelmente já vão ter acabado”. Atualmente, o preço de uma cesta básica de alimentos gira em torno de R$ 700 na maior parte das capitais brasileiras segundo o Dieese – o que significa as trabalhadoras e trabalhadores precisam comprometer cerca de 60% do salário mínimo para obter os alimentos básicos.
Sem recorte de gênero, a CNC informa que a maior parte das dívidas continua se se concentrando no cartão de crédito (85,6%). Além da dramática situação das rendas achatadas e da carestia, que fazem com que a população tenha que recorrer ao cartão para o básico, os bancos cobram, com o aval do governo, uma taxa de juros absurda de 398,4% ao ano, segundo o Banco Central, que beira a agiotagem, favorecendo o endividamento.
Em seguida, vêm as dívidas com carnês (19,4%), o financiamento de veículos (9,6%), o crédito pessoal (9,1%) e o financiamento de imóvel (7,9%).
O percentual total de brasileiros endividados em setembro foi de 79,3%, de acordo com a CNC.