Médico Jorge Venâncio apresentou notícia crime contra Flávio Cadegiani por injúria, calúnia e difamação. Em 2020, Cadegiani conduziu sem autorização estudo com o medicamento proxalutamida no Amazonas que resultou na morte de 200 pessoas
O médico e ex-coordenador da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), Jorge Venâncio, abriu queixa crime contra Flávio Cadegiani por injúria, calúnia e difamação após apontar irregularidades em pesquisa com o medicamento proxalutamida no tratamento de paciente com Covid-19 que resultou na morte de 200 pessoas no Amazonas.
O estudo sem autorização sofreu uma representação da Conep junto ao Ministério Público Federal e acabou baseando a CPI da Covid no Senado Federal para apontar as falhas graves que ocorreram na pesquisa com 200 mortes.
Após a denúncia do Conep, o falso estudo intitulado ‘Proxalutamida Reduz a Taxa de Hospitalização para Pacientes Ambulatoriais com COVID-19 do Sexo Masculino: Estudo Randomizado, Duplo-Cego e Controlado por Placebo’, foi retirado do ar pela revista científica Frontiers.
Inconformado com a deliberação da Revista, Cadegiani elaborou e publicou no site da Open Science Framework (OSF) um documento em inglês intitulado Frontiers fraudulent retraction (Frontiers Retração fraudulenta). Nessa publicação, o responsável pelo estudo que matou 200 pessoas no Amazonas tenta intimidar a Revista Frontiers mostrando uma série de troca de e-mails com a revista para recolocar seu estudo fraudulento no ar.
O site Open Science Framework (OSF) é uma plataforma online pública, de acesso aberto e alcance internacional, mantida pela organização Center for Open Science (COS), focada em pesquisas científicas colaborativas.
Para intimidar a revista científica, Cadegiani sai em campanha contra Jorge Venâncio escolhido por ele, em seus devaneios persecutórios, como o alvo de sua ira. Possivelmente apenas pelo médico ser o então coordenador da Conep.
Cadegiani disse que “a Secretaria de Tecnologia do Ministério da Saúde INVALIDA OFICIALMENTE as alegações do regulador, Jorge Venâncio, que ATUOU ILEGALMENTE, não apenas VAZANDO INFORMAÇÕES CONFIDENCIAIS, mas INVENTANDO FATOS para DESTRUIR A PESQUISA”.
Porém, de acordo com a queixa crime apresentada por Venâncio, “ao contrário do que é afirmado por Flavio Cadegiani, não há – nem nunca houve – uma “invenção de fatos”. Todas as irregularidades ocorridas no decorrer do estudo “The Proxa-Rescue AndroCoV Trial”, como é de conhecimento público, foram detalhadamente comprovadas em procedimento administrativo na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)”.
Todas as diretrizes da CONEP eram do conhecimento público antes do ajuizamento da interpelação judicial e, evidentemente, quando da divulgação do documento na plataforma OSF. Isto significa que Flávio – a despeito de afirmar que o Venâncio agiu ilegalmente no vazamento de informações – possuía plena ciência de que as transgressões às normas não estão (e não podem estar) sob regime confidencial.
MENTIRAS
Além disso, Cadegiani saiu proferindo mentiras sobre Venâncio publicamente para desqualificar o então coordenador da Conep e disse que a justiça federal brasileira requisitou Venâncio “respondesse à acusação criminal federal (outubro de 2021)”. Ele diz que “O Dr. Venâncio, tenta utilizar a “decisão de remoção editorial” para si em seus argumentos de defesa pessoal. *O Dr. Venâncio foi formalmente proibido de interferir na pesquisa do Dr. Cadegiani pela justiça brasileira, até que se encerre a decisão judicial com base na investigação federal”.
Porém, não há, nem nunca houve, qualquer tentativa de fabricação de provas para a elaboração de defesa criminal por Jorge Venâncio porque não existe qualquer defesa criminal para ser realizada porque não há qualquer decisão judicial – fruto de investigação federal – que o proíba de “interferir na pesquisa” do Cadegiani. E não existe decisão porque não existe esse processo criminal citado.
O uso da proxalutamida como tratamento experimental contra a covid-19 foi realizado pela Clínica de Endocrinologia Flávio Cadegiani, de Brasília. Essa medicação ainda não está aprovada para venda no Brasil, mas foi utilizada por médicos em doentes atingidos pelo coronavírus. Segundo a Conep, 200 pacientes, num universo de 645, incluídos no estudo, morreram.
A pesquisa apoiada e patrocinada pelo Grupo Samel, rede de hospitais e planos de saúde, foi considerada por pesquisadores da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como uma “violação aos direitos humanos” e um dos “mais graves e sérios episódios de infração ética” da história da América Latina.
MAIRA CAMPOS
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