O Papa Francisco dirigiu uma mensagem ao Brasil, na quarta-feira (26), pedindo o fim do ódio, da intolerância e da violência. Há duas semanas, bolsonaristas vaiaram um bispo que pregou contra a fome e agrediram jornalistas de um canal católico.
“Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência”, falou o Papa Francisco em saudação na Praça São Pedro, no Vaticano.
Ele também pediu um aplauso “à nova beata” Benigna Cardoso da Silva, que foi beatificada no Ceará na segunda-feira (24). “Uma jovem mártir que, seguindo a Palavra de Deus, manteve pura a sua vida, defendendo a sua dignidade. O seu exemplo nos ajude a ser generosos discípulos de Cristo. A vida do mundo depende do nosso testemunho coerente e alegre do Evangelho”, continuou.
O Papa Francisco não citou nenhum candidato ou episódio específico no Brasil, mas sua fala foi feita duas semanas depois da barbárie bolsonarista no Santuário Nacional Aparecida. Jair Bolsonaro foi até o Santuário, em ato de campanha, no Dia da Padroeira do Brasil.
Seus seguidores perseguiram um fiel que usava uma camiseta da cor vermelha, beberam cerveja no local sagrado e hostilizaram a equipe da TV Aparecida, que é da Igreja Católica.
O padre Camilo Júnior, durante o sermão, falou contra o uso eleitoreiro da religião.
“Parabéns a você que está aqui dentro da Basílica, rezando. Você que entendeu que hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida. É a ela as nossas palmas, é a ela a nossa aclamação, é a ela o nosso ‘viva’. Só temos segurança nas mãos de Deus e no colo de Maria. Parabéns a você que está aqui dentro e testemunha. Parabéns a você que está aqui dentro e está rezando, porque hoje não é dia de pedir voto. É dia de pedir benção”.
Ele afirmou ainda que “tem pessoa que deseja a morte do outro, mas o outro é semelhante”.
“O contrário do amor é a indiferença. Quando eu não permito mais que a vida do meu semelhante seja importante. Podemos ver crianças abandonadas, idosos caídos nas margens das calçadas, famílias com suas mesas vazias. E eu não sinto nada. A dor do outro não mais me atinge. Se estamos vivendo assim, é porque nós nos despirmos do amor de Cristo”, continuou.
O arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, disse que “temos que vencer o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. E o dragão do desemprego, o dragão da fome. O dragão da incredulidade”.
Os bolsonaristas que estavam no Santuário Nacional Aparecida vaiaram o arcebispo.
BISPOS DEFENDEM A DEMOCRACIA
Em uma carta, bispos católicos de todas as regiões do Brasil se posicionaram contra o governo de Jair Bolsonaro e denunciaram a fome e a mentira.
“Não se trata de uma disputa religiosa, nem de mera opção partidária e, tampouco, de escolher o candidato perfeito, mas de uma decisão sobre o futuro de nosso país, da democracia e do povo”, diz a carta, divulgada na segunda-feira (24).
“Vivemos quatro anos sob o reinado da mentira, do sigilo e das informações falsas. As fake news (notícias falsas veiculadas como se fossem verdades) se tornaram a forma ‘oficial’ de comunicação do Governo com o povo”, prossegue o documento.
“Enquanto dizia ‘Deus acima de tudo’, o presidente ofendia as mulheres, debochava de pessoas que morriam asfixiadas, além de não demonstrar compaixão alguma com as quase 700 mil vidas perdidas para a covid-19 e com os 33 milhões de pessoas famintas em seu país. Lembramos que o Brasil havia saído do mapa da fome em 2014, por acerto dos programas sociais de governos anteriores”.