
Como Lula e Aécio, corrupto posa de vítima
Cada vez mais isolado, chefe da gang chama presidente da Câmara Federal de “criminoso”
Nas vésperas de ser julgada, pela Câmara, a autorização para que Temer seja processado no STF, o depoimento de Lúcio Funaro, operador de propinas da cúpula do PMDB, expôs a alentada carreira de crimes do ocupante atual do Planalto. Sua publicação – pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, atendendo ofício da presidente do STF, Carmen Lúcia – fez Temer, através de seu advogado, chamar a divulgação de “criminoso vazamento”. Dois dias depois, o advogado pediu desculpas a Maia – que não aceitou. Em carta aos deputados, Temer chama a denúncia de seus crimes de “conspiração”, “urdidura conspiratória” e fala em golpe de Estado, exatamente como Lula, Aécio e outros corruptos que a cada dia estão mais parecidos. O sujeito rouba, todo mundo sabe que ele é ladrão – mas acha que pode provocar o povo brasileiro, dizendo-se “perseguido”.
No Brasil dos tempos atuais, todo ladrão – não os de galinha ou de roupas estendidas no varal, mas os do dinheiro público e da propriedade pública – é, por definição, inocente. Todos. Sem exceção.
INOCENTES
Se o Temer é flagrado (e gravado) quando acertava uma propina com o Joesley da JBS – que maior prova pode existir da sua inocência?
Se o Lula é pego com a boca na botija – quer dizer, com a mão no triplex do Guarujá ou no sítio de Atibaia ou com o bolso no departamento de propinas da Odebrecht ou nas contas do Joesley da JBS no exterior – não tenha dúvida, leitor, só pode ser perseguição política. Nada disso existe. Somos todos nós que estamos acometidos de alucinações incoercíveis.
Se o Aécio é agarrado em flagrante ao acertar uma propina de R$ 2 milhões com o capo da JBS (algo que era tão propina, tão propina, que o próprio Aécio diz para Joesley, sobre o intermediário para entregar – ou pegar – o dinheiro: “Tem que ser um que a gente mata ele antes dele fazer delação”) – não tenha dúvida, amigo leitor, estamos diante de um inocente. Só pode ser perseguição política.
Assim, diz Temer em carta aos deputados, se Funaro, operador do PMDB, relata como ele – presidente do partido, vice-presidente da República e presidente – levava propina em cada ladroagem (na Petrobrás, nas hidrelétricas do Rio Madeira, no FI-FGTS, na Caixa Econômica ou vendendo medidas provisórias) – ora, leitor, isso só pode dizer que ele está sendo vítima de um golpe de Estado.
Lançada pelo PT, a moda de berrar “golpe” quando se descobrem os malfeitos e os golpes reais da própria lavra, foi adotada agora por Temer. Cada vez os corruptos estão mais parecidos.
Em sua carta, Temer fala de “torpezas e vilezas”, “vocabulário chulo”, “urdidura conspiratória” – uma linguagem saída (embora, com muito menos cultura e muito mais estupidez) de algum ossário da República Velha. Por pouco não condena a frascaria e a lubricidade das alcachofras em flor.
Mas fala do “diálogo sujo, imoral, indecente” dos “dirigentes da JBS”, como se o seu próprio diálogo – oculto, na calada da noite, em pleno Palácio do Jaburu –, acertando propina com o principal desses dirigentes, não fosse uma sujeira, imoralidade e indecência ainda maior.
Entretanto, todo mundo sabe – porque ouviram – que ele é um ladrão. O depoimento de Funaro confirma, com alguma riqueza de detalhes, o que todo mundo sabe.
CUNHA
Aliás, a única prova que Temer, em toda a carta, apresenta de que está falando a verdade é a honradez do nobre ex-deputado Eduardo Cunha, tratado como um baluarte da limpeza na vida pública. É difícil encontrar prova que funcione tão exatamente ao contrário. Principalmente quando o depoimento de Funaro descreve, com precisão, como Temer, em troca de propina, avalizava os achaques de Cunha.
Mas Temer queixa-se de que estão tentando “enlamear” seu nome e sua honra.
Naturalmente, não existe honra sem identificação com a Nação, com os seres humanos – e sem a consequência desta identificação: o respeito à verdade.
Portanto, não é um lugar-comum observar que não é possível enlamear aquilo que não existe.
Porém, em Temer, o que existe, realmente, é a lama. Mas ninguém precisou atirá-la sobre o seu nome. Ele mesmo o afundou nela.
Basta ver, no final da sua carta aos parlamentares, o auto-elogio de sua obra social.
Em um país onde, toda noite, centenas, talvez milhares de pessoas cavucam o lixo daqueles que ainda não empobreceram tanto, esse anormal gaba-se de sua obra social e de como fez o país crescer.
Nenhum escrúpulo. Nenhum respeito à verdade. Encenação de quinta categoria, penúria espiritual, indigência mental – muita burrice – e sofreguidão por roubar.
Apenas isso.
No sábado, através de seu advogado, Temer chamou a divulgação do depoimento de Funaro de “criminoso vazamento”.
O depoimento foi divulgado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de quem Temer não tem razões para se queixar. Maia divulgou o depoimento de Funaro em atenção a ofício da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia.
Portanto, a degeneração de Temer chegou ao em que nem aqueles que o sustentaram no poder conseguem segui-lo. São chamados de criminosos quando cumprem, ainda que minimamente, o seu dever.
Para apoiar completamente Temer é necessário ver o mundo pelo avesso – e num grau extremo.
CÂMARA
Sobre a suposta polêmica em torno da publicação do depoimento de Funaro no site da Câmara, obviamente, se a presidente do STF quisesse manter em sigilo os vídeos do depoimento de Funaro, por que os encaminharia ao presidente da Câmara? A alegação de que ela encaminhou um pen drive com os vídeos apenas para uso dos deputados que irão julgar se autorizam ou não o processo contra Temer, considerando que são mais de 500, significa, na prática, liberá-los para o público. Neste caso, inclusive, o presidente da Câmara tomou o cuidado, antes da divulgação, de reunir-se com a presidente do STF e com o relator da Lava Jato, ministro Fachin, para decidir o que seria publicado. Portanto, não houve vazamento, senão no circo mambembe de Temer.
Dois dias depois, o advogado de Temer pediu desculpas a Maia – e este não aceitou, por achar que desculpas eram pouco, após ser chamado de “criminoso”. O que seria uma reparação à altura da ofensa? A demissão ou auto-demissão do advogado de Temer. Às vésperas deste ser julgado pela Câmara.
Mas, deixemos esse episódio, ou as especulações em torno dele. Vejamos a situação mais geral, condicionada pelas investigações que expõem a podridão da oligarquia política, de um modo que parece interminável – mas apenas porque, se depender dos corruptos, ela será, mesmo, infinita.
Localiza-se hoje no Brasil o maior número de ladrões inocentes e perseguidos injustamente da História da Humanidade. Nunca houve tantos corruptos honestos, honestíssimos.
Basta ver o recente programa do PT, em que alguns atores repetem: “não há provas”, “não há provas”, “não há provas”, “é perseguição contra Lula”.
Obviamente, não é que não haja provas. Lula é que não consegue responder às acusações. Como são verdadeiras, tenta engrupir o público, na crença de que a repetição “não há provas” fará com que isso se torne verdade. Goebbels já tentou esse método. Ao fim e ao cabo, não deu certo. Porque a verdade existe.
Então, leitor, se é o Aécio que foi flagrado enquanto roubava, só pode ser um roubo republicano. Mesmo que seja pego comprando um carregamento de 445 kg de cocaína com dinheiro do suborno da JBS – coisa que, certamente, o senador jamais fez, nem faria (estamos apenas recorrendo a uma imagem para efeito retórico e estilístico).
Temer e seus colegas de situação penal, com certeza, gostariam de ficar soltos para roubar. Essa pantomina de “perseguidos” é um embuste (nem toda pantomina é um embuste, naturalmente).
Mas existe, também, um fato: o repúdio do povo brasileiro a essa cepa de ratos da República é tal que eles estão – ou serão – mesmo perseguidos: pela Lei, pela Justiça, pela Nação, pelo Povo.
Já é muito difícil, para qualquer deles, passear pela rua.
Vai ficar pior.
CARLOS LOPES