Apenas em um mês, abril, a Rússia vendeu metade de seus títulos do tesouro dos EUA, agora reduzidos a US$ 48,7 bilhões, o que vem causando uma polêmica sobre o significado de um movimento tão contundente e pouco comum. Os números são do Departamento do Tesouro norte-americano, já que o BC russo publica suas posições com seis meses de atraso.
Sob sanções extraterritoriais de Washington, a Rússia tem tomado medidas para conter os efeitos da dolarização sobre sua economia e ampliado os acordos com outros países para passar a usar, em seu intercâmbio econômico, as próprias moedas de cada parte. Agora, a Rússia passou para a 22ª posição como detentor de Treasuries.
A Rússia também tem aproveitado a engenharia especulativa mantida pelos EUA para depreciar o preço do ouro e, desde que os EUA impuseram sanções, vem comprando ouro intensamente. Com 1.909 tonelada, já superou a China.
Há quem vá mais longe e enxergue na venda de metade do seu estoque de Títulos do Tesouro norte-americano como um ensaio geral para a chamada “opção nuclear” da China, que é a maior detentora de Treasuries do mundo, com US$ 1,18 trilhão. O caso impensável que se tornou menos impensável desde que Trump turvou as águas da guerra comercial nos tons do “todos contra todos”.
Há, ainda, avaliações de que a Rússia vendeu os Treasuries para obter divisas para resgatar dívidas de empresas russas afetadas pelas sanções – mas o valor foi muito alto para ser apenas isso. Mais provavelmente trata-se de uma medida profilática, para prevenir possíveis confiscos sob o pretexto das sanções. Em outros momentos, a Rússia já tinha reduzido seus ativos em títulos norte-americanos, mas jamais de forma tão drástica. Ainda, quem sabe, um aceno ao yuan e ao euro.