
Presidente em exercício do TCU chegou a afirmar que os manifestantes tentam “fabricar insurreição”, e que serão “severamente processados, civilmente responsabilizados e presos”
O presidente em exercício do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, afirmou que aquele que tentar “fabricar clima de insurreição” será “severamente processado, civilmente responsabilizado e preso”. O aviso foi dado por meio das redes sociais do ministro, na manhã desta terça-feira (1º).
Parece haver orquestração. O silêncio inexplicável do presidente Jair Bolsonaro (PL) sugere esta interpretação.
Ele perdeu, no último domingo (30), e levou quase 48 horas para vir a público reconhecer a derrota. Desse modo, os eleitores dele, mais radicalizados e desorientados, fomentam anarquia, que deixa o presidente da República mais isolado política e socialmente.
“VIVANDEIRAS ALVOROÇADAS”
O ministro chegou a afirmar que os manifestantes são “vivandeiras alvoroçadas” tentando “fabricar insurreição”.
“Vivandeiras alvoroçadas tentam fabricar artificialmente clima de insurreição num país cujo povo trabalhador e ordeiro deseja paz. Serão severamente processados, responsabilizados civilmente e presos. De tão poucos, mal encherão um pavilhão de presídio federal”.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou já ter desfeito 192 bloqueios em rodovias realizados por apoiadores de Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, na segunda-feira (31), que a PRF e as polícias militares de cada Estado liberem as vias ocupadas.
A determinação foi validada pela maioria da Corte Suprema nesta segunda-feira à noite.
CONDESCENDÊNCIA DAS POLÍCIAS
Outra impressão que se tem, é que tanto a PRF quanto a PM estão em conluio e sob algum tipo de coordenação, que dificulta a solução célere desse imbróglio.
Os bloqueios ilegais afetam rodovias de todo o país. A paralisação entra no segundo dia e já há risco de desabastecimento de remédios nos próximos dias. Em entrevista à Exame, Sérgio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, disse que os carregamentos previstos para segunda-feira não chegaram ao destino.
O presidente da entidade explicou que esses produtos entrariam nas prateleiras no próximo sábado (5).
De acordo com Mena Barreto, há relatos de cargas atrasadas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Diferentemente do que ocorreu em 2018, os caminhoneiros não abriram exceção para a passagem de veículos com medicamentos. Talvez isso demonstre o caráter ou motivo desse movimento.
“A situação das estradas e por consequência das entregas está muito ruim e a perspectiva pra amanhã não é de melhora segundo os associados”, disse.
TCU NAS ELEIÇÕES
O TCU tem acompanhado as eleições desde o primeiro turno, com o objetivo de encaminhar o período de votação. O órgão chegou a aumentar o número de técnicos na inspeção de urnas para acelerar o resultado da auditoria.
Ao fim do primeiro turno, o ministro Bruno Dantas afirmou que a Corte de Contas não registrou “inconsistência de dado incorreto” no processo de conferência de votos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022.
“A análise foi encerrada no início do dia 3 de outubro e o processo de conferência de votos por candidato para os cargos de senador, governador e presidente não registrou nenhuma inconsistência de dado incorreto”, disse.
ACOMPANHAMENTO DA TRANSIÇÃO
Na última segunda-feira, o TCU criou comitê para acompanhamento da transição governamental de Bolsonaro para Lula.
“O TCU tem larga tradição na fiscalização do cumprimento da lei. O arcabouço normativo que fixa padrão civilizado para a transição de governos no saudável rito periódico de alternância de poder é um patrimônio da democracia brasileira e merece o máximo de atenção de todas as instituições”, comentou Dantas.
Este comentário guarda relação com o fato de que a transição seja truncada porque não se espera que o chefe do Executivo seja colaborativo nesse quesito do desfecho do processo eleitoral.
M. V.