O cinismo dos que defendem o aumento da taxa de juros reais e mais arrocho em cima da população, que sofre com a recessão que já dura quatro anos, chega ao absurdo de se tentar culpar os caminhoneiros, e sua vitoriosa greve nacional, pelo aumento da inflação.
Segundo a prévia da inflação oficial em junho, divulgada pelo IBGE, nesta quinta-feira (21), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) ficou em 1,1%. O aumento foi puxado pelos grupos Alimentação e bebidas (1,57%), Habitação (1,74%) e Transportes (1,95%), que juntos correspondem a 91% do índice do mês.
No acumulado do ano, o IPCA-15 ficou em 2,35%, contra 1,62% no mesmo período do ano passado, e em 12 meses chegou a 3,68%, contra 2,70% registrado nos 12 meses anteriores.
Mas, vejamos. A energia elétrica, apontada como o item que mais impactou o grupo de Habitação, com uma alta de 5,44% na média nacional, vem constantemente tendo altas nas tarifas, bem acima da inflação e muito antes da greve dos caminhoneiros. O governo se utiliza das bandeiras amarela, vermelha e vermelha 2, para extorquir a população nas contas de luz a pretexto de compensar o mau humor de São Pedro, com a escassez das chuvas.
Segundo o IBGE, além da vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 2, a partir de junho, quando foi adicionado a cobrança de mais R$ 0,05 a cada kWh consumido, quatro regiões do país tiveram reajustes acima da inflação antes da greve dos caminhoneiros e uma durante a greve: Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador. Ao contrário da batata e do tomate, a energia elétrica não chega na casa dos brasileiros via caminhão.
Só para citar alguns destes reajustes feitos pelo governo, antes da greve dos caminhoneiros, em Porto Alegre chegou a 9,85% a partir de 19 de abril e, em Salvador, a alta foi de absurdo 16,95%, a partir de 22 de abril.
Os preços do gás de botijão também aceleraram, ficando, em média, 2,60% mais caros, diz o IBGE.
No grupo dos Transportes, os preços dos combustíveis, que levou à paralisação dos caminhoneiros com 87% de apoio da população, tiveram alta de 5,94%. A gasolina acelerou de 0,81% em maio para 6,98% em junho e representou 28% do IPCA-15 de junho. Já o óleo diesel subiu 3,06% e o etanol 2,36%.
O IPCA-15 foi calculado com base em preços coletados entre os dias 16 de maio e 13 de junho. A greve dos caminhoneiros teve início no dia 21 de maio e durou 11 dias.
Quanto aos preços dos alimentos, é natural que haja alguma alta. Os produtos perecíveis foram os que tiveram os preços aumentados, como batata, tomate, cebola, leite, carnes e frutas, que ficaram parados em alguns caminhões. Mas, como afirmam alguns analistas com pé na realidade, logo logo os preços dos alimentos vão voltar a cair, já que esta “inflação controlada”, é resultado da recessão, do arrocho salarial, do desemprego, da queda no consumo das famílias. A batata que chegou a R$ 15,00 o quilo em alguns estabelecimentos, durante a greve, hoje já caiu para R$ 5,00. Antes da greve estava em torno de R$ 4,00. A cebola, que também custava R$ 4,00 antes da greve, e chegou a R$ 10,00, já está custando em torno de R$ 5,00.
Já os preços dos combustíveis, do gás de cozinha e da energia elétrica vão continuar subindo, em prol das multinacionais que se beneficiam da política de reajustes diários nos preços imposta à Petrobrás e das benesses dadas às distribuidoras de energia, maioria estrangeira.
Colocar o aumento da inflação na conta dos caminhoneiros é mais um tentativa do governo e de seus asseclas de tirar do foco a falência desse modelo econômico, implementado nos governos Dilma/Temer, que levou o país a mais grave crise de sua história. Com a economia no fundo do poço.