No Brasil a cada mil jovens que completam 12 anos 3,65 são assassinados antes de chegar aos 19 em cidades com mais de 100 mil habitantes, segundo estudo coordenado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado na terça-feira (10).
O número é o mais alto desde que começou a ser medido, em 2005. No Nordeste, o índice é de 6,5, número que representa um aumento maior que o dobro desde 2005.
O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) engloba os 300 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes e se baseia nos dados do ano de 2014 do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Conforme a pesquisa, os assassinatos dos adolescentes no Brasil vêm subindo de forma contínua durante os governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). Em 2011, registrou 2,8; em 2012, 3,3; em 2013, 3,4, até alcançar o nível atual. No início da série, em 2005, o IHA era de 2,8. Seu valor mais baixo foi de 2,6, nos anos de 2007 e 2009.
Segundo a pesquisa, em quase todos os estados do Nordeste, com exceção de Pernambuco, há pelo menos dois municípios com índices superiores a 6. A região apresenta o IHA médio mais elevando — 6,5. Se a situação não melhorar, 16,5 mil jovens nordestinos poderão ser mortos de 2015 a 2021.
Fortaleza tem o maior índice, com 10,94 homicídios para cada grupo de mil jovens na faixa etária visada pelo relatório. Na lista com as dez capitais mais violentas, a cidade é seguida por Maceió (9,37), Vitória (7,68), João Pessoa (7,34), Natal (7,10), Salvador (6,87), São Luís (6,68), Teresina (6,59), Belém (5,32) e Goiânia (4,76). As cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo ocupam, respectivamente, a 19ª e a 22ª posição entre as capitais, com IHAs 2,71 e 2,19.
As capitais onde os adolescentes menos correm o risco de serem mortos são Campo Grande (1,89), Florianópolis (1,73) e Boa Vista (1,40).
Diferentemente de todo o estudo, o cálculo dos municípios mais letais para os jovens de 12 a 18 anos foi feito sobre as cidades com mais de 200 mil habitantes. Segundo os autores, o IHA fica mais preciso nesse universo. O maior IHA entre foi o de Serra (ES), a cidade capixaba mais populosa, estimada pelo IBGE em 502 mil habitantes. Localizada na Grande Vitória, Serra alcançou IHA de 12,71 em 2014, com 90 mortes esperadas de adolescentes, contra IHA de 13,73 em 2013 e 98 mortes. Itabuna, no sul da Bahia, com IHA de 11,88, está no segundo posto de letalidade para os adolescentes, saltando de 24 mortes esperadas entre 12 e 18 anos em 2013, para 37, em 2014.
O IHA 2014 apresenta também cálculos de riscos relativos, como sexo e raça. No tocante ao sexo, o índice é pior para os adolescentes homens: eles têm 13 vezes mais risco de morrer vítima de homicídio do que as adolescentes mulheres.
Conforme a pesquisa, em 272 municípios pesquisados, o adolescente homem tem mais risco de ser assassinado que a adolescente mulher e em apenas seis municípios o risco se inverte.
O risco relativo por sexo, de 13,16 em 2014, vem subindo sequencialmente desde 2011. Já foi pior em 2005, com 13,42, e em 2008, com 14,26.
Quando o fator de análise é o risco relativo por cor/raça, o IHA 2014 revela que o risco de um adolescente negro ou pardo morrer é 2,85 vezes maior do que um adolescente branco ou amarelo. É nova alta, depois de duas quedas consecutivas, em 2012 e 2013.
“Estes valores são elevados. Uma sociedade não violenta deveria apresentar valores não muito distantes de zero e, certamente, inferiores a 1”, explicam os autores
O estudo alerta que se as condições que prevaleciam em 2014 não mudarem, 43 mil adolescentes poderão ser mortos, entre 2015 e 2021, nos 300 municípios analisados. O IHA é calculado para cada grupo de mil pessoas entre 12 e 18 anos.
O trabalho é uma parceria com o Ministério dos Direitos Humanos do Brasil, o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).