A maioria desses trabalhadores tem renda mensal de até um salário mínimo, em meio à carestia e precarização no trabalho que se alastraram nos quatro anos de Bolsonaro
Sete em cada dez trabalhadores receberam renda mensal de até dois salários mínimos no 3° trimestre desse ano, aponta levantamento da LCA Consultores, realizada com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE. A parcela de brasileiros que ganham menos de R$ 2.424 por mês, em um cenário de carestia generalizada, aumentou 2,5% desde o início da pandemia, demonstrando o empobrecimento da população.
Do total de 97,575 milhões de ocupados no país, 67,19% recebiam até dois mínimos – 65,565 milhões de pessoas. A pesquisa dividiu os trabalhadores por renda em três grupos: 35,63% recebiam até 1 salário mínimo (R$ 1.212), totalizando 34,766 milhões de pessoa: 31,56% ganhavam de 1 a 2 salários mínimos (30,798 milhões de pessoas); 32,81% recebiam acima de 2 salários mínimos (32,009 milhões de pessoas).
O estudo da LCA, publicado pelo g1, aponta que a parcela de trabalhadores que ganhava até um salário mínimo passou a ser a maior entre os três grupos a partir de junho de 2020, com exceção do mês de dezembro daquele ano.
O alto índice de informalidade no trabalho, com seguidos recordes ao longo do governo Bolsonaro, veio acompanhado da queda na renda diante da elevada inflação com os preços dolarizados da energia, gás de cozinha, gasolina, alugueis e dos alimentos, corroendo a renda das famílias e fazendo explodir a fome no país. De acordo com o IBGE, 39 milhões de brasileiros estão ocupados em atividades informais, no trabalho precário, ou seja, não têm renda fixa, estabilidade ou direitos trabalhistas.
O desemprego elevado, a carestia e a estagnação econômica fizeram a renda despencar, com os trabalhadores ganhando menos e sem reajuste real dos salários durante os quatro anos de Bolsonaro. Com o fim do desgoverno do “mito”, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que vai retomar a política de valorização do salário mínimo com reajustes acima da inflação.
Os pesquisadores da LCA adicionam que em tempos de crise, os trabalhadores também passam a negociar “por baixo” e aceitar remunerações mais baixas para não ficarem sem trabalho.
O levantamento aponta que houve alta na proporção de trabalhadores que ganham entre zero e um salário em todos os 11 setores analisados entre o último trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2022.
A maior concentração de brasileiros nessa situação de baixos salários se encontra nos setores de alimentação e serviços domésticos – que também concentram a maior parte dos trabalhadores sem carteira assinada.
No caso de alojamento e alimentação, houve alta de mais de 12 pontos percentuais entre o período pré-pandemia e setembro deste ano no grupo de quem ganha até um salário mínimo (de 38,4% para 50,9%).
“Foi o setor mais prejudicado pela pandemia e o último a se recuperar. Essa recuperação veio sobretudo via informalidade, algo já em elevado grau no setor”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
Na agricultura, o número de pessoas trabalhando por até um piso também subiu (57,35% para 60,52%). Entre quem ganha um e dois salários mínimos cresceu o número de trabalhadores: indústria, transporte, armazenagem e correio e administração pública, defesa e seguridade social. Já a maior queda foi em serviços domésticos.
Entre os que ganham acima de dois salários mínimos, houve queda em todos os setores, com destaque para transporte, armazenagem e correio, e construção.