Mas, mesmo assim, insistiram na criminosa representação contra o resultado legítimo da eleição. Há quem já defenda que tanto Bolsonaro quanto Valdemar respondam por esta farsa nas barras dos tribunais
O vexame dado pelo presidente do PL, partido de Jair Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto, na entrevista coletiva desta quarta-feira (23), onde ele admite não ter nenhuma prova de fraude nas eleições e, assim mesmo, segue levantando, em nome de Bolsonaro, suspeitas infundadas sobre o resultado do pleito, está sendo considerado um crime e uma afronta contra a democracia e as instituições do país.
FORA DA LEI
E, mais: ele admitiu que está agindo fora da lei ao se recusar a cumprir o que determinou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moares, de que fosse incluída na representação do partido o questionamento dos dois turnos das eleições e não apenas do segundo, como matreiramente fizeram os golpistas. Moraes deu 24 horas de prazo para que isso fosse corrigido sob pena de indeferir o pedido sem nem mesmo analisá-lo.
Afinal, argumentou Moraes, as urnas são as mesmas usadas tanto no primeiro quanto no segundo turno. Questionado por jornalistas, Valdemar Costa Neto, alegou que os técnicos do partido “não pegaram” as “falhas” no primeiro turno.
O golpista laranja de Bolsonaro negou que busque nova eleição ou impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de pedir a anulação de votos no segundo turno. “Não se trata de pedir outra eleição, não tem sentido. É um negócio que envolve milhões de pessoas. Porque um cidadão que teve 200 votos, ele tem que participar do processo […] então, é uma loucura, só o PL tinha 2 mil candidatos. Imagino que os outros partidos também. E além de atingir governadores, senadores”, afirmou.
Valdemar acabou por revelar que a ordem foi palaciana para que o evento de divulgação do relatório golpista fosse transmitido ao vivo pelas redes sociais do PL — de forma que pudesse ser replicado simultaneamente pelas redes bolsonaristas. O objetivo é estimular as ações criminosas de bloqueios de estradas e outros atentados às leis pelas hordas fascistas que não aceitam a derrota do “mito”.
RESPONDER PERANTE A JUSTIÇA
Independente das decisões tomadas pelo presidente do TSE nesta quarta-feira (3), há quem argumente que esta atitude desrespeitosa ao TSE, ao Estado Democrático de Direito e às leis do país, por parte do candidato derrotado e de seu pau mandado, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deve colocá-los perante a Justiça comum o mais rapidamente possível para que eles respondam por toda essa farsa.
Até porque, o fato de atacar o processo democrático sem nenhum fato concreto que sustente sua acusação mentirosa ao resultado do pleito não pode passar em branco.
O atentado foi perpetrado pelo candidato derrotado e replicado pelo presidente de seu partido. Eles inventaram que 279 mil urnas não poderiam ser identificadas e que, por isso, o resultado da eleição estaria sob suspeita. A empresa contratada pelo partido de Bolsonaro, pelo preço de R$, 1,3 milhão, acabou por produzir um relatório falso, sem nenhuma prova, que apenas reverbera o discurso antidemocrático do candidato derrotado.
O TSE contestou o conteúdo do relatório fajuto afirmando que o “problema” das urnas, levantado na representação do PL, é uma mentira grotesca e uma farsa. Todas as urnas podem perfeitamente ser identificadas. Os golpistas não fizeram a sua identificação porque o seu plano não era fiscalizar, mas sim criar tumulto para contestar o resultado do pleito.
INVASÃO DO CAPITÓLIO
A armação de Bolsonaro é um ato criminoso, assim como foi a invasão do Capitólio nos Estados Unidos, insuflado por Donald Trump, que também perdeu as eleições. Hoje, Trump responde criminalmente pelo fato, inclusive pelas cinco mortes ocorridas por ocasião da tentativa fracassada de golpe naquele país.
A farsa golpista de Bolsonaro é tão grotesca que Valdemar da Costa Neto citou explicitamente qual era a intenção do plano. “Se forem retiradas”, disse ele, referindo-se às urnas que supostamente não teriam número de série, fato já completamente desmentido pelo TSE e por todos os demais órgãos que fiscalizaram as eleições, “Bolsonaro teria vencido a eleição”. Ou seja, não há confissão mais evidente de que o objetivo de toda essa encenação é fraudar a vontade popular, rasgar a Constituição do país, afrontar a democracia e desrespeitar o voto de mais de 120 milhões de brasileiros.
OAB CONDENOU ATENTADO À DEMOCRACIA
O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, Ricardo Vita Porto, falou à CNN, nesta quarta-feira (23), sobre o processo eleitoral e a ação do PL enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionando possíveis equívocos nas urnas eletrônicas no segundo turno da eleição.
Vita Porto destacou que a OAB é uma das entidades certificadoras do processo eleitoral, que verificou o funcionamento das urnas eletrônicas e não constatou falhas. “A OAB, antes mesmo do Exército, é uma entidade certificadora do processo eleitoral e peticionou ao TSE dizendo que verificou, auditou também as urnas eletrônicas, e não verificou nenhuma falha”, afirmou.
De acordo com o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da entidade, a Justiça Eleitoral deve apresentar uma solução rápida para o impasse, seja refutando os equívocos ou propondo uma auditoria. “O que temos que pedir é que a Justiça Eleitoral seja rápida… nesse pedido do PL a Justiça Eleitoral precisa dizer dois pontos: que não teve nenhum impacto arquivar o pedido ou dizer que vai verificar e formar comissão para fazer a auditoria, se for feito, que seja feito muito rapidamente e concluído”, disse Vita Porto.
“As eleições precisam acabar, a gente precisa pelo menos de uma resposta rápida refutando esses equívocos ou, se vislumbrando algum indício de falha, que se faça essa auditoria. A eleição precisa acabar e o eleito precisa assumir”, concluiu o representante da OAB.