Salário dos conselheiros de administração passará de R$ 5.440,36 para R$ 200.000,00
O presidente do Conselho de Administração (CA) da Eletrobrás privatizada, Ivan de Souza Monteiro, convocou uma assembleia geral extraordinária para o dia 22 de dezembro com o objetivo de aprovar um “novo modelo de remuneração” para a cúpula administrativa da empresa, através de um mega-aumento dos salários de seus membros.
O maior deles é a do salário dos conselheiros de administração, que passará de R$ 5.440,36 para R$ 200 mil, uma alta de 3.576%. O salário do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Jr, que presidiu a então estatal com o tarefa de privatizá-la no governo Bolsonaro, passará de R$ 52,4 mil para R$ 300 mil mensais, um aumento de 472%.
O reajuste será retroativo para o período de abril de 2022 e até março de 2023. No total, serão pagos R$ 35,9 milhões a diretores, conselheiros de administração, fiscais e demais integrantes de comitês estatutários de assessoramento ao conselho, mais do que o dobro aprovado na assembleia realizada em abril, de R$ 15,441 milhões.
O fato de o capital da empresa estar agora privatizada, não significa que os custos da alta administração não sejam pagos pelos usuários dos serviços da empresa. Os consumidores vão pagar a conta com as já altas tarifas de energia.
As privatizações que estão sendo feitas há 30 anos não trouxeram rios de dinheiro e um novo ciclo de desenvolvimento como aqueles que a defendem alardearam e ainda o fazem. Na verdade, se efetivou como uma brutal transferência de patrimônio público para capitais privados estrangeiros. Além das altas tarifas à população, o que se vê é a precarização nos serviços e a concentração em áreas mais lucrativas, deixando milhões de brasileiros à mingua.
Em meio a essa proposta de mega-aumentos dos salários para a cúpula da empresa, a Eletrobrás anunciou este mês o primeiro plano de demissão voluntária (PDV) para mais de 2 mil funcionários. São servidores, com conhecimento e experiência no setor, que há anos trabalham na maior empresa de energia da América Latina, cuja privatização, promovida por Bolsonaro, aconteceu na contramão do mundo.
Não é propriamente uma novidade essa abordagem nos processos de privatização, também em outros países, ou mesmo as transferências da propriedade de empresas, mundo afora, num processo de concentração de capital jamais visto. Querem o retorno sobre o capital investido rápido, o quanto antes. A redução de despesas com pessoal é um alvo frequente do movimento desses capitais. Esse é o verdadeiro “alinhamento dos interesses dos Administradores com os interesses dos acionistas da Companhia”, como defendido na proposta pela direção da Eletrobrás.
Os aumentos das tarifas, se não por outros motivos, acontecerá por esta circunstância, especialmente quando entregam a um grupo privado uma empresa monopolista, submetendo o mercado ao arbítrio dos seus interesses, com frequência indesejada, contrários, à sociedade brasileira. O único propósito que os motivam é o superlucro, os dividendos à frente de qualquer coisa, até mesmo com perdas para as empresa compradas.
O caso em curso na Petrobrás ilustra bem do que estamos falando. No caso da petroleira, os acionistas privados, na maioria estrangeiros, nem precisaram assumir o controle acionário da companhia, bastou ter um presidente e um ministro da Economia entreguistas para garantir seus bilhões em dividendos.
No final da quarta-feira (23), a Associação dos Empregados de Furnas (ASEF) acionou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a proposta feita pelos donos da Eletrobrás privatizada.
“É preciso muito cuidado e responsabilidade para que os acionistas avaliem este pedido de reajuste de remuneração da direção da Eletrobrás. O documento menciona meritocracia, no entanto recentemente a companhia registrou prejuízo no trimestre, coisa que não ocorria há muito tempo. Ao que parece os percentuais são exorbitantes e retroativos. Não soa razoável também que um assunto tão delicado seja avaliado em AGE no dia 22/12, às vésperas do Natal, no apagar das luzes de 2022”, diz Felipe Araújo, diretor-financeiro da ASEF.