
Presidente cobrou diagnóstico da área durante encontro do GT de Saúde da Transição. “Ele encomendou as melhores propostas para melhorar o acesso aos serviços assistenciais do SUS e para recuperar rapidamente as coberturas vacinais”, destacou Nésio Fernandes, presidente do Conass
“Participei agora de reunião online com especialistas em saúde sobre o Programa Nacional de Imunizações, nosso programa de vacinas, que sofreu tanto nos últimos anos. Vamos trazer de volta o Zé Gotinha e fazer do Brasil mais uma vez referência mundial em vacinação”, disse o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pelo Twitter, após participar de uma reunião virtual na quinta-feira (24), com representantes da saúde das instituições.
O encontro, que ocorreu de forma virtual, já que Lula se recupera de uma cirurgia nas cordas vocais em São Paulo, teve a presença de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan para discutir a situação da vacinação no país.
A reunião contou com a presença de integrantes do grupo técnico (GT) de Saúde da transição, entre eles o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP). Além de Padilha, estavam presentes outros quatro ex-ministros da Saúde: senador Humberto Costa (PT-PE), Arthur Chioro, José Gomes Temporão e José Agenor.
Lula afirmou que vai cobrar de lideranças evangélicas apoio às campanhas de vacinação. “Eu pretendo procurar várias igrejas evangélicas e discutir com o chefe delas: ‘Olha, qual é o comportamento de vocês nessa questão das vacinas?'”, disse Lula.
VACINA
O presidente eleito assegurou que os primeiros cem dias de seu governo terão como foco a recuperação do Programa Nacional de Imunizações (PIN), o aumento da cobertura vacinal e o resgate da confiança da população nas vacinas, que, segundo ele, foi afetada por fake news sobre o tema.
“Vamos ter de agora pegar muita gente que combateu a vacina que vai ter de pedir desculpa”, asseverou Lula, que instou os representantes da saúde a apresentar as melhores propostas para a área porque ele quer o que há de mais eficaz para o povo brasileiro. Prometeu que não faltará recurso para a área.
“O governo federal não pode somente reclamar da falta de recursos para a saúde, nosso trabalho será encontrar esses recursos e investir no SUS, em especial no resgate do Programa Nacional de Imunização para retomar a confiança da população nas vacinas”, defendeu Lula durante a reunião.
O encontro contou também com a presença do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes.
“Ele não pediu, ele encomendou as melhores propostas para melhorar o acesso aos serviços essenciais do SUS e para recuperar rapidamente as coberturas vacinais”, afirmou o presidente do Conass. “E nós topamos”, completou Fernandes.
Também nesse sentido, o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, avaliou que a reunião foi excelente porque mostrou, segundo ele, que o presidente eleito contribuirá para a melhoria do Programa Nacional de Imunizações (PIN).
“Muito bom saber que nós temos um presidente que participa da reunião com a sociedade de especialistas e que se compromete [com a pauta]. O Brasil vai contar com o presidente da República liderando a retomada do nosso programa nacional de imunização e do enfrentamento da pandemia”, avalia.
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que “haverá uma grande campanha de vacinação que precisa ser acompanhada de uma série de precauções, cuidados, principalmente porque hoje há muita dúvida de parte da população sobre as vacinas”. Sobre os “problemas que podem causar, frutos do resultado desse trabalho de negacionismo que o presidente da República [Bolsonaro] e os seus apoiadores fizeram o tempo inteiro”, observou.
ORÇAMENTO
Os representantes da Saúde esperam a recomposição do orçamento da saúde, que sofre uma defasagem de cerca de R$ 22 bilhões no orçamento para 2023 por conta dos cortes impostos pelo governo Jair Bolsonaro para manter o criminoso teto de gastos. A equipe de transição já deu sinais de que pretende revisar essa medida aviltante.
“Lula, o novo dirigente principal do Brasil, está dando um novo teto institucional e político para o SUS. Durante a pandemia quiseram ajoelhar a ciência e as vacinas. Lula quer fazer o SUS ‘voar’”, afirma Nésio Fernandes, que também é secretário de Saúde do Espírito Santo.
Durante a reunião, Lula disse aos participantes que deve começar a escolher “nos próximos dias” os ministros do futuro governo e defendeu que será necessário enfrentar a “burocracia da máquina pública”. “O povo está muito sofrido, até consegue ir numa UPA, mas depois não consegue mais nada. Não podemos deixar isso”, disse ele.
O presidente eleito defendeu também que o novo governo não pode permitir que brasileiros esperem por “meses” ou “anos” atendimentos especializados após consultas em uma Unidade de Pronto Atendimento.
O presidente eleito disse que outro desafio de sua gestão será levar médicos ao interior do Brasil. Também citou o cuidado com o autismo como prioridade.
Participaram, também, do encontro virtual, representantes do Instituto Butantan, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da Fiocruz, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems ) e ex-chefes de PNI, entre outros órgãos.
A reunião do presidente eleito com os representares da Saúde ocorreu em um momento em que o Brasil começa a enfrentar uma nova onda de casos de Covid-19. Em contrapartida, observa-se números insuficientes da imunização contra essa e outras doenças. Entre elas, poliomielite, difteria e tuberculose. A constatação é do GT da Saúde do Gabinete da Transição.
Atualmente, não há cobertura adequada para imunizar bebês com menos de 1 ano. No caso da Covid-19, o problema é ainda mais grave em função da nova onda da doença. Segundo o GT da Saúde, 85 milhões ainda não tomaram a terceira dose.
Nesse meio tempo, faltam imunizantes para crianças acima de 3 anos de idade. Por conta do descaso do governo Bolsonaro, até hoje não foi feito o reforço de meninas e meninos acima de 10 anos.
Um novo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacinação contra difteria, tétano e coqueluche não alcança a meta no Brasil desde 2013. Os dados são da Fiocruz, realizados pelo Observa Infância, usado para monitorar a cobertura vacinal em crianças menores de 5 anos no Brasil. Em 2021, de acordo com o levantamento, apenas 75% das crianças menores de um ano receberam o imunizante, a segunda menor taxa desde 1996. O recorde negativo foi registrado em 2019, quando 73% da população-alvo foi vacinada com a DTP.