Os diretores e editores dos jornais El País, The New York Times, The Guardian, Le Monde, e Der Spiegel, pediram em uma carta aberta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para acabar com a “perseguição contra Julian Assange”, informou o jornal espanhol em sua edição de segunda-feira (28).
Todos estes jornais já publicaram informações sobre as revelações do WikiLeaks sobre crimes de guerra dos EUA.
“Obter e revelar informação sensível é parte fundamental do trabalho quotidiano dos jornalistas”, escreveram os responsáveis dos jornais, sublinhando que “se este trabalho for criminalizado, o nosso discurso público e as nossas democracias ficam consideravelmente enfraquecidos”. A mídia internacional destaca que, doze anos após a publicação dos primeiros documentos, que expunham “corrupção, escândalos diplomáticos e casos de espionagem em escala internacional”, chegara a hora do governo dos Estados Unidos pôr fim à perseguição a Julian Assange”, porque “publicar não é crime”.
O grupo de diretores e editores desses cinco dos principais jornais do mundo sublinhou que “alguns de nós estamos preocupados com as acusações que constam do sumário, segundo as quais tentou ajudar na intrusão informática de uma base de dados secreta”, embora agora se unem numa carta aberta para expressar sua “profunda preocupação com a contínua perseguição a Julian Assange por obter e publicar materiais classificados”.
Os signatários apontam que a antiga lei antiespionagem de 1917 que foi usada sob a presidência de Donald Trump “nunca havia sido usada para processar uma editora ou uma rede de informação”, então a acusação contra Assange “estabelece um precedente perigoso e ameaça minar a liberdade de imprensa”.
PEDIDO DE EXTRADIÇÃO
Depois de passar sete anos como refugiado na embaixada do Equador em Londres, em 12 de abril de 2019 Assange foi preso na capital inglesa por um pedido dos EUA e permanece em uma prisão de alta segurança, normalmente usada para abrigar terroristas e integrantes do crime organizado. Se extraditado, o jornalista australiano de 51 anos seria julgado pela divulgação de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas, especialmente no Iraque e no
Afeganistão, o que levou à publicação de uma série de artigos nesses cinco grandes jornais, entre outros.
Se condenado por espionagem, Assange pode ser sentenciado a 175 anos de prisão e aguarda o recurso contra a decisão do governo britânico de extraditá-lo.
GIRO REGIONAL
Os jornalistas Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, e Joseph Farrell, embaixador da organização, estão atualmente no Brasil em busca de apoio para a campanha de libertação de Julian Assange.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com eles nesta segunda-feira (28), em Brasília, para falar sobre o caso.
“Estive com Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, e com o editor Joseph Farrell, que me informaram da situação de saúde e da luta por liberdade de Julian Assange. Pedi para que enviassem minha solidariedade. Que Assange seja solto de sua injusta prisão”, escreveu Lula no Twitter.
“Lula, ele próprio um ex-prisioneiro político, há muito fala abertamente sobre a ilegalidade da prisão de Julian Assange e a tentativa de extradição pelos Estados Unidos”, assinalou em nota o WikiLeaks. “Na reunião, o presidente Lula reiterou seu contínuo apoio a Julian Assange e seu desejo de vê-lo livre”.
Segundo o editor-chefe, Lula “tem total compreensão” do precedente que o caso pode abrir para jornalistas de todo o mundo e o perigo para a liberdade de imprensa.
Os integrantes do WikiLeaks vão, nesta 3ª feira (29.nov), ao Congresso. Serão recebidos pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, o senador Humberto Costa (PT-PE), e discursarão em plenário da Câmara.
Na 4ª feira (30.nov), a delegação estará no Rio de Janeiro, onde realizará uma reunião pública na Associação Brasileira de Imprensa. Os integrantes ainda terão uma recepção na casa do cantor Caetano Veloso antes de deixarem o Brasil.