A greve geral na Argentina, que teve início às 0:00 horas da segunda-feira, 25, foi contundente e parou o país. O movimento sindical argentino, organizado em 5 centrais, superou suas divergências e expressou o repúdio do povo ao acordo com o FMI, o ajuste e o aumento de tarifas que o governo de Maurício Macri busca aplicar.
À Confederação Geral do Trabalho (CGT), com a adesão das duas Centrais Gerais de Trabalhadores (CTA), se somaram pequenas e médias empresas nacionais esmagadas pela política de privatização e importacionismo.
Os principais acessos à cidade de Buenos Aires amanheceram interrompidos. Metalúrgicos, bancários, funcionários públicos, docentes, funcionários da construção civil e do sistema financeiro não trabalharam. Na região de Rosário, terceira cidade do país, onde se encontra o maior polo agroexportador da Argentina, os embarques de grãos foram paralisados pela greve de trabalhadores do porto e de funcionários da alfândega.
“A paralisação foi total, há uma realidade que não dá para ocultar. Este governo não tem como trazer soluções porque se entregou ao FMI”, afirmou Hugo Moyano, secretário-geral da CGT, e acrescentou que “não pode se esperar nada deste governo; eles nos levaram a esta situação extrema, de fome e eles mesmos nos dizem descaradamente que tudo está melhor e é isso lhe dá mais bronca às pessoas”. Héctor Daer, também da Confederação, disse que “desde dezembro de 2015 até hoje houve uma inflação de 95%, e não são os trabalhadores os culpados desse processo”. Lembrou ainda que o plano econômico vigente favoreceu “os setores que ganham mais e que mais têm, como o setor agropecuário e as mineradoras”.
O líder da CTA dos Trabalhadores, Hugo Yasky, assinalou que a greve de hoje é “um sinal de rechaço absoluto” ao FMI e que os trabalhadores não pensam “abandonar a rua nem um instante” para mudar a política econômica. “Se (o governo) não convocar um diálogo social vinculante para discutir como sair desta crise continuarão havendo manifestações e greves”, advertiu o dirigente da CTA Autônoma, Pablo Michetti.
Esta é a terceira greve geral – depois das realizadas no 6 de abril e em 18 de dezembro de 2017- convocada no prazo de 15 meses contra a política econômica do governo de Macri.
Os sindicalistas denunciam o “programa” do FMI através do qual, para conseguir um empréstimo de 50 bilhões de dólares, destinados a pagar bancos, Macri se compromete a seguir eliminando postos de trabalho no setor público, reduzindo subsídios para energia e transporte, congelando novas contratações. Além disso, o FMI exige que haja um corte de 15% em serviços e bens adquiridos pelo Estado e o fim do Fundo de Garantia Solidária, destinado aos aposentados deixando-os ainda mais desprotegidos.
Como proposta concreta, os sindicatos exigem que a negociação de aumentos salariais deste ano seja reaberta, para que os reajustes fiquem de acordo com a projeção de inflação, calculada pelo próprio Banco Central em 27%.
Na maioria das negociações, o governo impôs como referência a – já estourada – meta de inflação anual de 15%. Só o acumulado entre janeiro e maio já chega a 11,2%. Nem Macri consegue mais sustentar esse despropósito.
Os sindicalistas denunciam que essas medidas do “programa” do FMI, que atingem o conjunto da população, sequer foram aprovadas pelo Congresso Nacional.
Com uma revolta crescente pela situação econômica, todos os sectores sindicais, que se enfrentam em muitos momentos, estão atuando unidos. “Tomara que esta paralisação seja o início da unidade do movimento sindical e que possam se recompor as diferenças da CGT com outros setores. Vamos rejeitar qualquer tentativa de reforma trabalhista que prejudique os trabalhadores. O nó é o acordo com o FMI e não vamos deixar passar”, disse Pablo Moyano, do Sindicato dos Caminhoneiros.
SUSANA SANTOS