A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABINDE) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) iniciaram uma ação civil pública contra a Boeing, acusando a empresa norte-americana de ameaçar a soberania nacional
A empresa norte-americana Boeing está praticando um assédio predatório a engenheiros brasileiros do setor aeroespacial, particularmente da Embraer, denunciam entidades do setor aeroespacial brasileiro, segundo revelou reportagem publicada pelo site de notícias Sputnik neste domingo (4).
Nesta semana, a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABINDE) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) iniciaram uma ação civil pública contra a Boeing, acusando a empresa norte-americana de ameaçar a soberania nacional ao promover contratação massiva de engenheiros aeronáuticos brasileiros. O processo corre na 3ª Vara Federal de São José dos Campos, no estado de São Paulo.
A legalidade deste comportamento predatório da empresa norte-americana está sendo questionado por essas entidades, levando-se em considerarmos que ela teve acesso a informações sensíveis da Embraer durante o processo frustrado de negociação para a aquisição da empresa brasileira entre 2018 e 2020. A alienação da Embraer foi interrompida antes de consumada.
“A Boeing teve acesso a um volume de informações extremamente alto sobre a Embraer”, disse o Dr. Oswaldo B. Loureda, fundador da Acrux Aerospace e professor de engenharia aeroespacial da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “Um volume de informações que, em uma situação natural, nunca seriam dados para uma empresa concorrente”, observou o especialista ao Sputnik.
Segundo ele, a Embraer saiu prejudicada do processo de negociação com a Boeing, uma vez que “praticamente reestruturou a empresa”, investiu capital e tempo para concretizar o negócio. Alguns dias antes de fechar o acordo e pagar os US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões) acordados à Embraer, a Boeing se retirou da mesa de negociações.
Loureda destacou que a mão de obra brasileira “trará uma economia considerável na folha de pagamentos” da Boeing. “Nesse sentido, os pesquisadores, profissionais da área aeroespacial no Brasil têm uma formação muito boa. Tão boa ou até melhor do que a americana e […] são relativamente baratos para uma empresa como a Boeing”, disse Loureda.
Segundo ele, existem problemas de recrutamento interno, uma vez que “o mercado brasileiro atualmente está desaquecido.” “Isso mostra que o setor aeroespacial no Brasil precisa de mais apoio, precisa de uma gestão governamental mais estratégica”, considerou Loureda. “O setor hoje está abandonado no Brasil, tem pouco cuidado, o governo não tem uma visão estratégica.”
O especialista nota que o setor aeroespacial é “altamente dependente de pesquisa, desenvolvimento e inovação”, sendo necessária uma coordenação de interesses entre governo, academia, indústria e sociedade. Balistiero acredita que o próximo governo poderá reverter o processo de “assédio de empresas estrangeiras aqui no Brasil” e retirar da mesa o debate sobre desnacionalização de empresas estratégicas. Durante o governo Bolsonaro, a Embraer quase foi vendida para a Boeing. Só não se consumou a venda porque a Boeing entrou e crise financeira e desistiu da compra.
A Boeing há muito tempo não consegue montar uma equipe de engenharia com nível de qualidade desejada para o setor. “Aparentemente os jovens americanos têm tido interesse cada vez menor pela engenharia e optado pela área de gestão e mercados financeiros. É uma tendência e uma preocupação para os americanos”, relatou Loureda. Neste ano, a Boeing ainda fechou o seu escritório na Rússia, gerando dificuldades ainda maiores para recrutar profissionais.
A empresa americana vem passando por uma crise no setor de engenharia e, inclusive, apresentou problemas graves na fabricação de aeronaves, como por exemplo o 737-300. Ela montou um escritório em São José dos Campos, onde fica a sede da Embraer, e está cooptando engenheiros brasileiros oferecendo salários superiores aos de suas contrapartes.
A Boeing já contratou 200 engenheiros aeroespaciais sêniores de empresas nacionais do setor, em especial da Embraer.
“Há um questionamento muito forte por parte de algumas entidades sobre essas contratações predatórias, uma vez que vemos um desvio ético significativo por parte da Boeing ao assediar, literalmente, esses engenheiros brasileiros”, disse o economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, na reportagem do Sputnik.
“O interesse da Boeing é ter acesso a uma mão de obra altamente qualificada, numa condição de mercado que ela tem muito favorecida, que é fazer os pagamentos em dólar num momento em que o dólar está muito valorizado em relação ao real”, explicou Balistiero. “Então, mesmo pagando salários abaixo do recebido pelos engenheiros da Boeing na sua sede, ela consegue atrair engenheiros brasileiros.”
Fonte Sputnik
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Trabalhei 26 anos como engenheiro na Embraer. Quem escreveiu esta matéria desconhece várias coisas. Primeiro: Bolsonaro não vende a Embraer. A Embraer é uma companhia PRIVADA, e só quem a pode vender é a maioria dos acionistas com direito a voto; segundo: criar obstáculos para a contratação de engenheiros da Embraer pela Boeing, pela Airbus, pela Lokheed Martin ou por qualquer outro conglomerado é tiro no pé. Prejudicaria a própria Embraer, pois não há bonzinho neste negócio e os Estados Unidos são o maior mercado de aeronaves Embraer. Há mais de 600 E-175 voando nas regionais lá, alem das aeronaves executivas Phenom – as mais populares no EUA na sua classe – que são montadas pela Embraer na Flórida, onde ela contratou DEZENAS de engenheiros americanos. Proibe aqui e vem reciprocidade de lá. E mais: o mercado de trabalho mundial é livre, e é direirto dos mais competentes procurarem as melhores oportunidades.
Realmente quem estava por trás da venda criminosa da Embraer para a Boeing não era diretamente o Bolsonaro. Ele designou o seu cúmplice Paulo Guedes, ministro da Economia, para operar o esquema. O governo brasileiro podia impedir a venda, sim senhor. Isto podia ser feito através da golden share. Os militares da Aeronáutica queriam impedir a venda. Paulo Guedes impediu que ela, a golden share, fosse acionada. Esta ação especial, detida pelo governo, permite que ele bloqueie qualquer decisão que coloque em risco o futuro da empresa e os interesses do país. Não há a menor dúvida que esta negociata criminosa colocava em risco o futuro da nossa empresa de aviação. Aliás, era voz corrente que a Boeing, depois de um tempo, fecharia a Embraer. Sobre a ação antinacional de “sequestrar” engenheiros formados no Brasil para tentar salvar a Boeing, que, por sinal, vive uma grave crise de inteligência – vide os fracassos e os desastres de seus lançamentos – não somos nós que estamos falando. É a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB). Veja a notícia: “A Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) iniciou uma ação civil pública contra a Boeing, acusando a empresa norte-americana de ameaçar a soberania nacional ao promover contratação massiva de engenheiros aeronáuticos brasileiros. O processo corre na 3ª Vara Federal de São José dos Campos, no estado de São Paulo”.