“Na área militar não me lembro de nada marcante que tenha prejudicado as Forças Armadas. Pelo contrário, foi uma convivência normal. E acredito que vai ser normal também. Não tem nenhuma razão para ficar com apreensão nessa área”, completou.
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz afirmou que a relação de Lula com as Forças Armadas durante seus dois mandatos de presidente foi respeitosa e “sem nenhum problema”.
Santos Cruz afirma que a relação continuará boa nos próximos quatro anos.
“Das outras duas vezes não me lembro de ter problema nenhum das Forças Armadas ou do Ministério da Defesa com o governo do presidente Lula. Não vejo nada disso”, disse o general em entrevista à revista Carta Capital.
“Na área militar não me lembro de nada marcante que tenha prejudicado as Forças Armadas. Pelo contrário, foi uma convivência normal. E acredito que vai ser normal também. Não tem nenhuma razão para ficar com apreensão nessa área”, completou.
Para ele, o governo de Lula deve ser marcado pelo “diálogo”, buscando a “união nacional”. “Um governo que restabeleça o respeito nas discussões, nas diferenças de posicionamento. Até para diminuir esse clima de animosidade e de confrontação que existe hoje. Ele [Lula] tem de ter essa visão de ser um governo para todos os brasileiros, inclusive para sua grande oposição. Que isso seja construtivo para o País”, comentou.
Por outro lado, as atitudes golpistas de Jair Bolsonaro e de militares da reserva fanatizados pelo bolsonarismo podem ter gerado um desgaste para as Forças Armadas, ainda que elas, enquanto instituição, não tenham qualquer relação com isso, comentou o militar.
“Esse desgaste não é por conta delas, mas por conta comportamental da pessoa do presidente”.
“Os militares da reserva que trabalham na área política e exercem funções públicas não têm nenhuma influência no andamento da instituição militar. Mas, como a gente carrega o título no nome, acaba sempre tendo um desgaste político, ainda mais nesse ambiente que se criou no Brasil, de polarização política”.
“As Forças Armadas, na realidade, não participam disso. Mas a impressão para a população é de que sim, então, acaba tendo um desgaste. Mas isso é plenamente recuperável com comportamento profissional”, disse.
Na entrevista, Santos Cruz comentou que os atos de bolsonaristas em frente aos quartéis, pedindo um golpe militar com Jair Bolsonaro no poder, são estimulados pela “interpretação absurda (…) de que as Forças Armadas têm esse direito de atuar como um Poder Moderador, baseado no artigo 142 da Constituição”.
Jair Bolsonaro já falou algumas vezes sobre um possível uso do artigo 142 contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde que perdeu as eleições, Bolsonaro tem feito pouquíssimas aparições públicas e não tem feito discursos ou dado entrevistas.
Esse silêncio, na avaliação do general Santos Cruz, “é inaceitável, não pode acontecer”.
“Um presidente da República – ou qualquer autoridade pública – ganha para trabalhar e tem de se manifestar sobre os principais problemas nacionais. É uma obrigação”, apontou o general da reserva do Exército.
Santos Cruz é um dos militares mais influentes no Brasil e internacionalmente. Ele comandou as forças da ONU no Haiti e no Congo, foi secretário Nacional de Segurança Pública e ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência no governo Bolsonaro.
“A pessoa não tem o direito de ficar calada em uma função dessas. Tem de se manifestar, tem de dizer o que ela pensa. Tem a obrigação de transmitir paz social ou uma orientação segura”, disse.
Ao mesmo tempo em que fica em silêncio, Bolsonaro tem impulsionado as manifestações golpistas através de seus aliados. Carla Zambelli (PL-SP) foi a um dos acampamentos e discursou a favor do golpe. O pastor Silas Malafaia publicou um vídeo pedindo o uso das Forças Armadas contra a democracia.
Carlos Alberto Santos Cruz ainda falou que as Forças Armadas, sob o comando do Ministério da Defesa, erraram ao produzir um relatório sobre as eleições que tenta deixar aberta a possibilidade de interpretação de que as urnas eletrônicas foram fraudadas.
“Se o relatório era para ver se teve fraude ou não, tem de dizer se foi possível comprovar ou não. Mas no momento em que você deixa essa conclusão de maneira dúbia, você dá chance de interpretações, e isso aí só alimenta o tumulto”, opinou.
O relatório não aponta nenhuma evidência de fraude, mas, em alguns trechos, abre espaço para a cruzada que Jair Bolsonaro e os bolsonaristas fazem contra as eleições e a democracia. Diz, por exemplo, que um possível erro na compilação do código-fonte “pode configurar relevante risco à segurança do processo”.
“O problema não são as observações técnicas, mas na conclusão, em um ambiente extremamente politizado, colocar que não existe prova de que houve fraude, mas fazer uma outra observação de que pode ter [fraude]. Isso aí deixa margem para as pessoas interpretarem do jeito que atende a elas, e a gente tem esse tumulto com base nas interpretações”, acrescentou Santos Cruz.