Com o baixo crescimento nas vendas do varejo em outubro, de alta de 0,4% contra o mês anterior, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) alerta que as vendas do setor devem continuar desacelerando neste fim de ano.
Com os juros nas alturas, a inflação corroendo o poder de compra da população, além da desvalorização dos salários, os brasileiros chegaram nos últimos meses de 2022 ainda mais endividados.
De acordo com o economista sênior da CNC, Fabio Bentes, neste quadro elevado de endividamento das famílias que atinge quase 80% dos brasileiros, “este será o quarto ano seguido que o brasileiro deverá priorizar o pagamento de dívidas devido ao comprometimento recorde no comprometimento da renda”, disse.
Num quadro contrário, o 13º salário normalmente é utilizado para o consumo de bens e serviços, e assim, estimula os indicadores econômicos para cima.
Mas não será o caso deste fim de ano, segundo revela um estudo da CNC, que aponta que o pagamento de dívidas deverá ser o principal destino desses recursos (38% do total ou R$ 42,7 bilhões), seguido pelos gastos no consumo de bens (33% do total), gastos com serviços (17%) e poupança (12%).
No terceiro trimestre de 2022, o produto interno bruto brasileiro (PIB) desacelerou, ao registrar um crescimento de apenas 0,4% na comparação com o trimestre anterior – reflexo dos efeitos maléficos dos juros elevados sobre a economia que estava sustentada ainda pelos efeitos da reabertura das atividades econômicas afetadas pelas medidas de contenção da pandemia da Covid-19 e por estímulos econômicos de curto prazo promovidos pelo pacote pró-reeleição de Bolsonaro (liberação de saques do FGTS, antecipação do 13º dos beneficiários do INSS e servidores, turbinagem no valor do Auxílio Brasil, que passou de R$ 400 para R$ 600 até o final deste ano, redução dos impostos por combustíveis, entre outras medidas).
Em outubro, a inflação também voltou a subir depois de três meses de deflação puxada pela redução artificial nos preços dos combustíveis por meio de cortes de impostos federais e do ICMS, além da queda dos preços do petróleo nas bolsas internacionais.
No décimo mês deste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, indicador da inflação oficial de inflação, registrou alta de 0,59%. Para o mês de novembro, o IPCA voltou a registrar alta de 0,41% por influência da alta nos preços dos combustíveis e da alimentação.
O Brasil ainda enfrenta o peso do alto nível do desemprego, que pode avançar com uma nova queda na economia. No trimestre móvel de agosto a outubro de 2022, cerca de 9 milhões de brasileiros estavam em busca de emprego, outros 4,2 milhões de pessoas que desistiram de se empregar por não acreditar que há oportunidade ou por outros motivos (chamada de população desalentada) e outros 6 milhões subocupados por insuficiência de horas trabalhadas. No período, a “força de trabalho subutilizada” foi estimada em 22,7 milhões de pessoas.
Já a taxa de informalidade foi de 39,1%, ou 39 milhões de brasileiros no país obtendo sua subsistência de atividades de trabalho sem carteira assinada, trabalhos de PJs, vivendo dos famosos “bicos” com jornada de trabalho excessiva e renda miserável.