Índice divulgado pela CNI mostra a crescente participação de produtos estrangeiros no consumo nacional, a maior em 19 anos
Em 2021, a indústria brasileira registrou a maior perda na participação no mercado doméstico em 19 anos, segundo estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
De acordo com o “Coeficiente de Penetração das Iimportações” que mede a participação dos bens importados no consumo aparente do Brasil, ou seja, tudo o que é produzido internamente, com exceção do que é exportado, adicionado aos bens que são importados, foi o maior resultado na série realizada desde 2003, no percentual de 24,8%.
Pela ótica da indústria brasileira, é o resultado do que ela perdeu participação no mercado doméstico para os competidores de outros países.
O indicador é um dos quatro produzidos pela pesquisa. Dois que avaliam as exportações e dois que medem a participação das importações no mercado brasileiro. Juntos compõem os Coeficientes de Abertura Comercial (CAC) divulgados na sexta-feira (16).
Não é nada surpreendente que os estudos do CAC mostrem aumento da participação de produtos estrangeiros na indústria de transformação. Há, digamos assim, um complô contra a indústria no território brasileiro e ainda mais para aquelas nacionais.
Há décadas, que o país está no topo da lista das maiores taxas de juros do mundo, escalando a dívida pública, impedindo o investimento do Estado e sua positiva atração dos capitais privados, ao mesmo tempo sancionando taxas de juros, tão insanas quanto para as empresas e as pessoas.
O mesmo pode se falar dos ajustes fiscais infindáveis em todas as administrações, cortando das necessidades básicas da população, como saúde, educação e previdência por anos a fio, para pagar os juros estratosféricos da dívida.
Tivemos ao longo de todos esses anos um câmbio defasado favorecendo as importações. A âncora cambial que era para um tempo limitado, transformou-se em política permanente, fustigando a indústria. O que surpreende é a resiliência da indústria brasileira com essa política de substituição da produção nacional pelos importados.
Outros arranjos perversos se somaram aos já tão deletérios acima indicados, como privatizações predatórias cujos capitais, em larga maioria estrangeiros, se apropriaram de ativos lucrativos, estratégicos e monopolistas com o único propósito de se apropriar dos lucros dessas “vacas leiteiras”, sem maior compromisso com investimentos, em muitos casos estratégicos, que essas ex-estatais cumpriam. A Eletrobrás é o maior e mais grave exemplo.
O diagnóstico do superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI, Renato da Fonseca, a respeito dos resultados do CAC, é a de “que seguimos com o desafio de elevar a competitividade da indústria brasileira”. Quando a competitividade é baixa “a retomada do crescimento econômico é comprometida”, declarou.
Certamente, a produtividade, entendida como a capacidade de produzir mais e melhor por conta do desenvolvimento e das inovações tecnológicas são um imperativo para um país que tem potencial para se transformar numa nova potência econômica no mundo. Só o investimento público poderá impulsionar a tecnologia que precisamos, sendo uma condição indispensável o país ser dotado de uma política econômica que permita esse impulsionamento.
Retomando a análise dos resultados da CAC, Fonseca pondera que “a necessidade de maior oferta de medicamentos e de vacinas para o enfrentamento da pandemia foi um fator que motivou o crescimento do coeficiente de penetração das importações em 2021, mas é importante ressaltar que, independente desse setor, há uma tendência de crescimento da participação dos importados no mercado brasileiro”.
Os insumos industriais importados pela indústria brasileira também registraram aumento, paralelamente à participação de produtos do exterior e, em movimento similar, o Coeficiente de Insumos Industriais Importados também cresceu.
O Coeficiente de Exportação, que mede a importância do mercado externo para a indústria brasileira, registrou uma relativa estabilidade em relação aos últimos dois anos.
A receita líquida com exportações mantém tendência de queda. Diante da estabilidade do coeficiente de exportação e do crescimento do consumo de insumos industriais importados, o Coeficiente de Exportações Líquidas, que mostra a diferença entre a receita com exportações e o gasto com insumos industriais importados, caiu em 2021, algo lógico que aconteça, comprometendo, crescentemente, o saldo da conta no balanço comercial.
J.AMARO