Milhares de pessoas comemoraram no último sábado, em Londres, o 70º aniversário do Serviço Nacional de Saúde (NHS) da Inglaterra e repudiaram os cortes no financiamento do governo no setor. De acordo com os manifestantes, que tomaram as ruas da capital, a queda no investimento tem provocado uma drástica baixa no número de trabalhadores de saúde da União Europeia. Conforme estudos, cerca de 4 mil enfermeiras e parteiras da Área Econômica Europeia deixaram a Inglaterra em 2017, com apenas 800 chegando.
Comandada pelos funcionários do serviço de saúde, a marcha foi acompanhada por destacadas lideranças políticas, trabalhadores e intelectuais, que condenam as políticas de “austeridade” e defendem a manutenção de investimentos nas áreas sociais, em vez da ampliação dos gastos militares.
A marcha encerrou com um vibrante protesto na Praça do Parlamento, com o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, se dirigindo à multidão. Segundo os trabalhistas, os sucessivos cortes realizados têm levado à escassez de pessoal, provocando longas filas e atrasos no tratamento.
Para Thomas Hone, do Departamento de Atenção Primária e Saúde Pública do Imperial College de Londres, “é essencial manter o financiamento público” para a garantia do direito à saúde universal. “Um médico da família acompanha diretamente cada núcleo familiar. Nós também temos uma base de dados bem grande, com informações de saúde sobre cada família. A partir da atenção básica, nós conseguimos encaminhar para uma atenção secundária mais específica, quando necessário”, explica.
O especialista assinala que – apesar dos cortes que estão desmontando progressivamente o sistema NHS – os investimentos em saúde na Inglaterra correspondem a um gasto anual médio de US$ 4.350 dólares por pessoa, contra US$ 750 no Brasil. O orçamento público também ainda é significativamente superior. Enquanto, em 2017, os ingleses reservaram cerca de R$ 569 bilhões para o NHS, o governo brasileiro disponibilizou R$ 125,3 bilhões para o Ministério da Saúde. Mas, apesar de prejudicado pela política neoliberal dos sucessivos governos ingleses, destaca Hone, “a população apóia o sistema público”. “Por quê? Porque sabe que será atendida, não importa o montante financeiro que cada um tenha”, conclui.