A carta que Lula mandou da prisão – onde se encontra cumprindo pena de 12 anos e um mês, em regime fechado, por corrupção e lavagem de dinheiro – apresenta alguns pontos que revelam o caráter pouco afeito aos fatos, da parte do petista. Para não dizer afeito à mentira, pura e simples.
O primeiro ponto é minimizar o roubo – que agora, ele teve que admitir que existiu – de 6 bilhões de reais na estatal. Segundo sua versão, “o prejuízo causado pelo ‘plano de desinvestimento’” – que aliás começou com Bendine -, diz ele, “é dezenas de vezes maior que os alegados R$ 6 bilhões que teriam sido desviados nos casos investigados pela Lava Jato”.
Aldemir Bendine assumiu a presidência do Banco do Brasil em abril de 2009, a convite de Lula. Ficou no cargo até fevereiro de 2015, quando foi indicado por Dilma Rousseff para a presidência da Petrobrás, onde permaneceu até maio de 2016. O homem de confiança da então presidente, “o doutor Bendine”, foi escolhido pelo “desempenho no Banco do Brasil, que era um elemento, para mim, bastante valioso”, disse Dilma em depoimento a Moro, como testemunha de defesa de Bendine, em outubro do ano passado.
Quem, então, teria desviado esses R$ 6 bilhões? Lula sabe, mas não diz. Mas, os envolvidos, quase todos, já confessaram. Alguns até já devolveram o dinheiro roubado. Só o Pedro Barusco, colocado na Sete Brasil para roubar, devolveu US$ 100 milhões desviados e, com Palocci, ex-homem de confiança de Lula, a Justiça bloqueou até agora R$ 70 milhões de R$ 150 milhões roubados ou mais. Sim, e todos eles, inclusive o Palocci, dizem que o roubo era para abastecer o PT, o PMDB e o PP. Só Lula continua fingindo que não é com ele, apesar do caminhão de provas apontar em sentido contrário.
A outra afirmação enganosa que não corresponde à realidade é a de que a Lei Serra Projeto de Lei do Senado (PLS 131/2015), que escancarou o pré-sal para as multinacionais, foi aprovada no governo “golpista” de Temer. “Esse ataque vem acontecendo desde o início do governo golpista, quando aprovaram a chamada Lei Serra, que excluiu a participação obrigatória da Petrobrás em todos os campos do pré-sal”, disse ele. Só que a Lei Serra não foi aprovada no governo Temer.
Ela foi aprovada em 24 de fevereiro de 2016, em pleno governo Dilma, a sua pupila. É só lembrar a revolta dos senadores Lindberg Farias (PT) e Roberto Requião (PMDB), que na noite da votação quase romperam com o governo Dilma, ao se depararem com a ordem do Planalto para que a ‘base aliada’ votasse na Lei Serra. Nós sabemos que o Temer é um entreguista, mas, convenhamos, ele não estava sozinho nessa empreitada. Dilma não era cabeça de chapa, com ele na vice, por acaso.
SÉRGIO CRUZ