“O foco da investigação será a veiculação de notícias falsas e comentários abusivos pela emissora, sobretudo contra os Poderes constituídos e a organização dos processos democráticos do país”, diz o MPF.
Um dia após o afastamento de Tutinha Carvalho da presidência da Jovem Pan News, agora foi a vez da emissora suspender três de seus comentaristas que têm atuado como cães de guarda do ex-presidente Jair Bolsonaro. Rodrigo Constantino, Paulo Figueiredo (neto do ditador João Batista Figueiredo) e Zoe Martinez estão afastados “por tempo indeterminado” da programação da JP.
A decisão acontece justamente quando o veículo se vê ameaçado de perder a concessão, não pelo apoio explícito a Bolsonaro, mas em razão desse apoio irrestrito envolver ampla e ferrenha prática de difusão de fake news contra seus adversários, especialmente Luís Inácio Lula da Silva (PT), que o derrotou nas eleições do ano passado.
No fim de 2022, a emissora já havia demitido outros jornalistas como Augusto Nunes, cuja imagem é indissociável do bolsonarismo.
Na segunda-feira (9) o Ministério Público Federal (MPF) comunicou ao grupo JP que instaurou um inquérito civil para apurar a conduta da Jovem Pam na “disseminação de conteúdos desinformativos a respeito do funcionamento das instituições brasileiras e com potencial para incitar atos antidemocráticos”.
“O foco da investigação será a veiculação de notícias falsas e comentários abusivos pela emissora, sobretudo contra os Poderes constituídos e a organização dos processos democráticos do país”, diz o MPF.
A decisão do Ministério Público contra o grupo de comunicação é o primeiro passo de uma investigação que poderá levar à cassação da concessão de rádio que integra a JP, bem como seu banimento do YouTube, internet e até de seu canal pago (JP News).
“O órgão realizou levantamento ao longo dos últimos meses e detectou que a Jovem Pan, a princípio, tem veiculado sistematicamente fake News e discursos que atentam contra a ordem institucional, em um período que coincide com a escalada de movimentos golpistas e violentos em todo o país”, justifica o MPF.
O órgão aponta que durante a cobertura dos atos de vandalismo ocorridos em Brasília no domingo (8), por exemplo, comentaristas da Jovem Pan minimizaram a gravidade dos fatos, e tentaram justificar as motivações dos criminosos que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
“O comentarista Alexandre Garcia, contratado da emissora, chegou a fazer uma leitura distorcida da Constituição para atribuir legitimidade às ações de destruição diante do que ele acredita ser um contexto de inação das instituições”, denuncia o MP.
“É o poder do povo. “Nos últimos dois meses as pessoas ficaram paradas esperando por uma tutela das Forças Armadas. A tutela não veio. Então resolveram tomar a iniciativa”, legitimou o bolsonarista Garcia.
Paulo Figueiredo também foi apontado pelo Ministério Público de seguir a mesma postura de Garcia. “Ele argumentou que ‘as pessoas estão revoltadas com a forma como o processo eleitoral foi conduzido, elas estão revoltadas com a truculência com que certas instituições têm violado a nossa Constituição’, ecoando notícias falsas sobre supostas fraudes eleitorais e atuações enviesadas ou omissivas de tribunais superiores e do Congresso Nacional”, cita o MP.
CONDUTA FERE PRINCÍPIOS DO JORNALISMO
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudia essa conduta por ferir “princípios básicos do bom jornalismo” e que “buscam destruir a credibilidade das instituições democráticas”.
“Para nós, causa consternação o caminho seguido por um grande veículo, como a Jovem Pan, que utiliza uma outorga de rádio e outras plataformas de conteúdo para propagar produtos da indústria da desinformação, que não têm origem certa, apuração verificável ou qualquer referencial nos princípios básicos do bom jornalismo e, no fundo, buscam destruir a credibilidade das instituições democráticas”.
“Importante ressaltar que trata-se de uma postura recorrente, que já foi objeto de contestação judicial. Nestas eleições, temos visto a reprodução da prática de veicular conteúdos parciais e, muitas vezes, inverídicos”, prossegue a FENAJ. “Exatamente por reiteradamente publicar conteúdos desinformativos, veículos de comunicação foram objeto de decisões recente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, finaliza a entidade.
DESMONETIZAÇÃO
Além de ter o Ministério Público no seu encalce, a Jovem Pan também é alvo de uma campanha de desmonetização na internet. Em novembro de 2022, o YouTube Brasil anunciou a desmonetização do canal em sua plataforma, resultado de uma análise rigorosa dos vídeos compartilhados no canal.
Na ocasião a empresa, detectou que o programa “Pingos no Is”, veiculado pela JP News cometeu um desserviço ao veicular mentiras para o público brasileiro.
“Incorreu em repetidas violações das nossas políticas contra desinformação em eleições e nossas diretrizes de conteúdo adequado para publicidade, incluindo as relacionadas a questões polêmicas e eventos sensíveis, atos perigosos ou nocivos, além de outras políticas de monetização”, apontou o YouTube.
Assim, “suspendemos a monetização do respectivo canal e dos outros que integram a rede Jovem Pan no YouTube, de acordo com nossas regras”, afirmou a plataforma ao O Globo.
O YouTube ressaltou que a decisão de penalizar a Jovem Pan pelas fake News difundidas em sua programação não teve solicitação do judiciário brasileiro. Além de perder o dinheiro gerado pelo YouTube, o canal também é investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por suspeita de favorecimento de notícias para o candidato derrotado, Jair Bolsonaro.
A Jovem Pan também perdeu dois patrocinadores durante a campanha eleitoral: Tim e Quinto Andar. As marcas, que estavam presentes não apenas na programação do canal da TV paga, mas também nos sites vinculados à rede, decidiram desvincular seus nomes do canal, apoiador do golpismo, após pressão do Sleeping Giants Brasil.
O Sleeping Giants Brasil é um movimento que atua contra o financiamento do discurso de ódio e das fake News, responsável pela campanha #DesmonetizaJovemPan, nas redes sociais.
“É na Jovem Pan que comentarista e convidados incentivam que pessoas peguem em armas e iniciem uma guerra civil. O perigo disso já vimos com os atentados de 12 de dezembro em Brasília, quando terroristas colocaram fogo em ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal.”
“Ano passado, cinco pessoas morreram após terroristas invadirem o Capitólio (nos EUA) para atacar a eleição. Recentemente, Brasília mostrou que seremos reféns de um novo Capitólio enquanto a Jovem Pan lucrar com discursos golpistas”, previu o movimento.
Já deviam ter feito isto a muito tempo. Feek News só trazem prejuízos.