O Boletim Focus, publicado semanalmente pelo Banco Central (BC), sinalizou na segunda-feira (16) a pretensão do mercado financeiro para o BC aumentar o percentual da Selic, taxa básica dos juros da economia que remunera os títulos do governo até o final de 2023.
As projeções da mediana feitas pelos cerca de 120 bancos, gestores de recursos e outras empresas financeiras que fazem estimativas para o Boletim indicam um aumento de 12,25% para 12,50%, nas duas últimas semanas, contra 11,75% há um mês.
No período acima considerado, portanto, o mercado financeiro quer que os títulos da dívida pública de 2023 paguem juros ainda maiores do que os atuais 13,75%.
Em 2022, foram gastos com juros R$ 700 bilhões e, com a atual Selic, podem chegar a R$ 800 bilhões em 2023. Para piorar, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em coletiva à imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), declarou que a autoridade monetária olharia o impacto nas expectativas de inflação da maior “sensibilidade fiscal”, sinalizando a favor das pressões do mercado.
Os rentistas que estão ganhando rios de dinheiro com a atual Selic, favorecendo-se de juros reais de 8,09% ao ano, ou seja, a maior taxa de juros reais, descontada a inflação, do planeta, não se contentam com essa condição, não admitem reduzir a Selic, e, pelo contrário, pretendem que o BC aumente ainda mais a taxa de remuneração.
A pressão que a Selic, nesse atual patamar, provoca em todas as taxas de juros, seja para empréstimos ou financiamentos às famílias e às empresas, se transformam em enormes obstáculos para o crescimento da economia e o desenvolvimento do país.
A produção industrial teve queda praticamente generalizada em 2022 e as vendas no varejo registraram o o pior último mês de novembro para o setor desde 2015. Nem o setor de serviços resistiu à retração dos negócios.
A atual política monetária não se reflete apenas com números que mostram os ganhos extraordinários de uma reduzida parcela da população, mas também, e principalmente, na pobreza e miséria avassaladoras que atingem quase metade dos brasileiros.
Traz encoberto uma crueldade dessa elite financista. Tentam e tem conseguido impor a remuneração da dívida pública que detém, exclusivamente, tirando, quase expropriando, os recursos existentes. Não aceitam a possibilidade de equacionar a situação da dívida através do crescimento da economia, quer dizer, melhorando a relação dívida/PIB pelo aumento do segundo ou o denominador dessa relação.
Qualquer iniciativa nesse sentido é prontamente oposta ao dinheiro que tem que ser separado para o pagamento dos juros. Alguém já disse que o interesse “pode cegar” as pessoas incapacitando-as de enxergar além deles. Pode-se acrescentar que, quantos mais vis, maior é a cegueira.
J.AMARO