Presidente ainda afirmou que “não vai existir mais garimpo ilegal” na região
Em visita à Casa de Saúde da população Yanomami, em Roraima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou Jair Bolsonaro (PL) por priorizar suas motociatas e ter “abandonado” os yanomamis.
A visita do presidente ocorreu após o Ministério da Saúde declarar emergência de saúde pública para a crise de desnutrição e fome no território Yanomami.
“É desumano o que eu vi aqui. Sinceramente, se o presidente que deixou a Presidência esses dias em vez de fazer tanta motociata tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse tão abandonado como está”, disse o presidente Lula ao averiguar a situação de abandono da população indígena, cercada por garimpeiros ilegais em seu território.
Em quatro dias de operação do Ministério da Saúde na região, foram resgatadas ao menos oito crianças Yanomami em estado grave, com quadros severos de desnutrição e malária.
O Ministério da Saúde estima que, ao longo dos quatro anos de governo Bolsonaro, ao menos 570 crianças Yanomami morreram de fome, doenças preveníveis ou em decorrência de contaminação por mercúrio, por conta do garimpo ilegal. E mais de cinco mil estão desnutridas ou passam fome. De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, as terras Yanomami, em Roraima, estão entre as que possuem maior área invadida por garimpeiros.
Veja as imagens divulgadas pelo Ministério da Saúde:
“Se alguém me contasse que em Roraima tinham pessoas sendo tratadas dessa forma desumana, como vi o povo Yanomami aqui, eu não acreditaria. O que vi me abalou. Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos”, declarou o presidente, que prometeu o envio de médicos e enfermeiros para dar assistência aos habitantes da Terra Indígena Yanomami. O plano do governo é enviar equipes de saúde para atender os indígenas dentro do próprio território.
“Eu acho que uma forma da gente resolver isso é fazer com que a gente monte o plantão da saúde. Nas aldeias, para que a gente possa cuidar deles lá. Fica mais fácil a gente transportar 10 médicos [para dentro da reserva] do que transportar duzentos índios que estão aqui”, disse Lula.
COMBATE AO GARIMPO
Lula prometeu acabar o garimpo ilegal, que passou a ser incentivado durante o governo Bolsonaro. Segundo relatórios da própria FUNAI, mais de 20 mil garimpeiros invadiram o território no último período. Enquanto a população indígena é de 28 mil pessoas. “O que eu posso dizer é que não vai existir mais garimpo ilegal”, afirmou.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou que a atuação na região será de importância à de uma epidemia. “No caso da Saúde, nós definimos que isso é uma emergência sanitária de importância nacional semelhante a uma epidemia, é isso que precisa ficar claro”, pontuou Nísia, acrescentando que o governo prepara um plano de trabalho.
“A força do SUS começará a vir a partir de segunda-feira (23) com mais profissionais médicos e enfermeiros para esse atendimento de emergência. Mas, sabemos que temos que melhorar a saúde onde as populações, onde os povos indígenas moram, nas suas comunidades”, reafirmou.
O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, também integrou a comitiva.
Mais cedo, no Twitter, a ministra Nísia já havia classificado como grave a situação. Segundo ela, foram registrados “3 óbitos de crianças entre 24 e 27/12 e 11.530 casos de malária no último ano.”
Estavam com Lula os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), General Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional), e o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno.
O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), e o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique, recepcionaram o presidente e a comitiva de ministros na Base Aérea.