Demitidos o vice-ministro da Defesa Vyacheslav Shapovalov e o vice-chefe do gabinete presidencial, Kirill Timoshenko, em seguida à prisão do vice-ministro da Infraestrutura, Vasily Lozinsky, por superfaturar geradores e quentinhas para os soldados no front.
Escândalos de corrupção estão abalando o regime Zelensky, com o vice-ministro da Defesa Vyacheslav Shapovalov e o vice-chefe do gabinete presidencial, Kirill Timoshenko, anunciando suas demissões na quarta-feira, o que se seguiu à prisão do vice-ministro da Infraestrutura, Vasily Lozinsky – tido como protegido do primeiro-ministro Denys Shmygal -, sob a acusação de aceitar suborno de US$ 400.000 na compra de geradores (em um país que está vivendo de apagão em apagão). A prisão foi em flagrante, feito pelo bureau anticorrupção ucraniano, o Nabu.
No mesmo dia, dois vice-ministros para o desenvolvimento de comunidades e territórios – Ivan Lukerya e Vyacheslav Negoda, o vice-chefe do Ministério da Política Social Vitaly Muzychenko e o vice-promotor geral Alexei Simonenko também perderam seus cargos.
Também foram demitidos os governadores regionais de Dnipro, Zaporizhia, Sumy e Kherson, supostamente ligados a Timoshenko.
Que o regime ucraniano instaurado pelo golpe CIA-nazis em 2014 é um dos mais corruptos do mundo é amplamente sabido, embora a mídia pró-EUA tenha passado os últimos meses fazendo de conta que não.
Aliás, para se eleger presidente, o comediante Zelensky havia encenado ser “anticorrupção” e “pela paz”, mas era tudo estelionato eleitoral. Nos tempos da União Soviética, a Ucrânia era a república mais rica, mas foi transformada pelos ladrões da privatização e seus cúmplices na mais pobre nação da Europa.
Os abalos estão acontecendo em paralelo à derrota ucraniana em Soledar e risco da principal linha de defesa ucraniana no Donbass, em Bakhmut, cair rapidamente.
“DESMONOPOLIZAÇÃO” NA LOGÍSTICA
O vice-ministro da Defesa Shapovalov asseverou que sua renúncia era por uma causa nobre, para “não representar uma ameaça ao abastecimento estável das forças armadas da Ucrânia”, diante da “campanha de acusações” relacionadas ao superfaturamento na compra de alimentos para os soldados na frente.
Segundo o Ministério da Defesa ucraniano, encarregado da logística, Shapalov realizara a “desmonopolização dos serviços de alimentação das Forças Armadas da Ucrânia e do setor de abastecimento de combustíveis e lubrificantes”.
Três dias antes do pedido de renúncia, o portal Zn.ua esclarecera, em reportagem investigativa, como funcionava a “desmonopolização” sob Shapolov. Comparando contratos atuais de fornecimento de alimentação aos militares nas regiões de Poltava, Sumy, Kiev, Zhytomyr, Chernihiv e Cherkasy com documentos semelhantes de 2021, o portal provou que os preços estavam inflados “em duas a três vezes”.
O Ministério da Defesa se defendeu, considerando que o que houve foi um “erro técnico”, não um desvio de verba, e na Ucrânia já há quem ache que o problema vai respingar no titular da pasta, Oleksei Reznikov, que está torcendo para escapar dos holofotes sobre o caso.
Já para o portal Strana.ua, a coisa pode chegar, ainda, ao primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, já que o ex-vice-ministro preso, Lozinsky, que trabalhara com ele na administração regional de Lviv, foi nomeado assim que assumiu o cargo em Kiev.
Outro episódio desmoralizante é a renúncia do vice-procurador-geral, Alexei Simonenko, após o escândalo sobre suas férias no exterior, no Ano Novo, com a família na Espanha, em plena guerra,em que usou o carro do empresário Grigory Kozlovsky.
Outro dos demitidos, Negoda, preferiu o silêncio sobre as razões do afastamento: “não é hora de denúncias”.
“O GRANDE ROUBO”
No gabinete de Zelensky, o vice-chefe Timoshenko estava incumbido de tocar o projeto multibilionário intitulado “Grande Construção”, que envolvia obras para melhorar o transporte, educação e infraestruturas desportivas no país inteiro, também alvo de várias denúncias no final do ano passado. Popularmente, o projeto se tornou mais conhecido pelo alcunha de “Grande Roubo”.
A primeira coisa que chamou a atenção sobre Timoshenko foi o desvio de finalidade, de uma SUV Chevrolet Tahoe, doada pelo pela General Motors para supostamente retirar cidadãos da zona de guerra e missões humanitárias, para uso pessoal. Diante das denúncias, ele passou a utilizar um Porsche Taycan de 2021, no valor de US$ 100.000, registrado na empresa de um empresário privado, Vemir Davityan.
A seguir, foi descoberto que o vice-chefe de gabinete de Zelensky estava alugando uma enorme mansão do empresário Igor Nikonov, uma das cem pessoas mais ricas da Ucrânia. Cuja empresa, a KAN Development, é a maior desenvolvedora imobiliária de Kiev.
Em uma postagem no Telegram, o destituído Timoshenko agradeceu a Zelensky pela “oportunidade de fazer boas ações todos os dias e todos os minutos”.
NOITE DOS PUNHAIS
O terremoto no palácio de Zelensky ocorre pouco depois da confirmação de que o ex-integrante da delegação ucraniana às primeiras negociações em Minsk, foi realmente assassinado pelo serviço secreto SBU, à revelia dos militares e do palácio. E foi considerado postumamente não um traidor, mas um “herói”.
Também, na semana passada, o ministro do Interior, seu vice, e o procurador-geral ucraniano morreram na queda do helicóptero que os transportava nas imediações de Kiev. Há quem considere estranho o incidente, e o atribua a disputas entre os serviços de segurança e os militares sobre divisão do butim da revenda, ao exterior, no mercado negro, de armamento fornecido pelos EUA/Otan.
Outra recente defecção foi do porta-voz Oleksei Arestovych, por ter cometido a indiscrição de revelar que fora o sistema antiaéreo ucraniano que desviara um míssil russo do alvo em Dnipro para um prédio residencial, causando dezenas de mortos.
Para o ex-embaixador da República Popular de Lugansk na Rússia, Rodion Miroshnik, não há “nada de pessoal” nas demissões, “é somente negócios”, ele ironiza. “Obviamente, Timoshenko não decidiu renunciar por conta própria. Ele já foi colocado neste lugar para lavar dinheiro por meio de esquemas complexos de corrupção. Além disso, todos os fios de uma forma ou de outra levam ao presidente Zelensky, que não será tocado, e a Yermak”.
“Os americanos já tomaram a Ucrânia por seus locais de corrupção. A corrupção sempre existiu, mas só agora é que puxaram o fio”, ele acrescenta. Já para o ex-deputado ucraniano Oleg Tsarev, são “as pessoas associadas a Soros que estão falando sobre corrupção” e o Nabu é subordinado a Washington.
Ao jornal russo neoliberal Kommersant, a cientista política Larisa Shesler assinalou que “a corrupção monstruosa sempre foi parte integrante do governo ucraniano. E o influxo de capital ocidental no contexto de uma operação especial apenas estimulou os políticos locais ao peculato”.
Embora a mídia afiliada ao esforço de guerra por procuração dos EUA/Otan contra a Rússia não vá poupar esforços para manter a encenação que Zelensky de fato é, vai ser mais difícil empurrar a corrupção que impera na Ucrânia para debaixo do tapete.
Agora mesmo, uma congressista republicana, Lauren Bobert, pediu que os EUA auditem todos os fundos alocados para a Ucrânia no contexto das demissões de autoridades ucranianas por corrupção. “Precisamos de uma auditoria completa de cada dólar enviado por Joe Biden para a Ucrânia com urgência!” disse Bobert. Aliás, o envolvimento direto de Biden, desde o golpe, nos esquemas de corrupção na Ucrânia são amplamente conhecidos, e aí estão seu filho Hunter e respectivo ‘laptop do inferno’, ex-diretor da empresa de gás ucraniana Burisma, para não dar margem à dúvida.