“O comércio de bens e serviços, que representa grande parte do PIB brasileiro e gera a maioria dos postos de trabalho formal, sente o desaquecimento das vendas provocado pela combinação da inflação persistente com os juros elevados”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC
Inflação e juros altos assombram os empresários do comércio varejista brasileiro, refletindo na queda dos índices de confiança. Segundo dados divulgados na sexta-feira (27) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) atingiu, neste mês de janeiro, seu menor nível desde abril do ano passado. Levando o indicador a 119,0 pontos, esta é a segunda redução consecutiva nos níveis de confiança.
“O comércio de bens e serviços, que representa grande parte do PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro e gera a maioria dos postos de trabalho formal, sente o desaquecimento das vendas provocado pela combinação da inflação persistente com os juros elevados”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC. O nível de confiança caiu 3,6% ante dezembro e 1,7% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Segundo a entidade, além dos preços altos e encarecimento do crédito, a falta de movimento no mercado de trabalho e o alto nível de endividamento das famílias estão freando o consumo.
De acordo com pesquisa da CMC sobre endividamento e inadimplência, em 2022, 77,9% das famílias no país contraíram dívidas nas principais modalidades, com destaque para as dívidas com o cartão de crédito, cujo juros ultrapassaram 400% ao ano. Em termos absolutos, a cada 100 famílias, 78 se
endividaram, recorde da série anual iniciada em 2010. “A proporção de famílias com dívidas atrasadas também foi a maior em 12 anos, com juros altos e piora no nível de endividamento”, destaca a pesquisa.
Com os juros altos inibindo o crédito e o consumo das famílias, a intenção de investir no negócio registrou a 5ª queda consecutiva entre dezembro e janeiro (-3,9%), a 109,4 pontos. O indicador ainda aponta que 42,4% dos comerciantes pretendem reduzir os investimentos – o maior percentual desde junho de 2022.
O principal destaque é a intenção de reduzir investimentos em produtos duráveis, que registrou uma queda mensal de 5% em janeiro, a 103,4 pontos.
“Os juros permanecerão elevados pelo menos até o terceiro trimestre deste ano, o que deve reverberar negativamente o consumo de bens dependentes do crédito”, acresentou Izis Ferreira.
Refletindo nas contratações, houve uma redução mensal de 6,7% na intenção de contratar novos funcionários, a 122,9 pontos. Na comparação anual, a queda foi de 10,4%.
A CNC projeta, para 2023, um crescimento baixo nas vendas do varejo, de apenas 0,8%.