O “Brasil brasileiro” é, segundo o autor, “o valor e ideal supremo da Civilização brasileira”. A independência nacional se alicerça na autonomia espiritual da Civilização autóctone”, destaca o estudioso do Brasil
O professor Felipe Quintas, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de diversos textos sobre o Brasil e a questão nacional, nos brinda com mais este seu novo artigo “Princípios do Nacionalismo – Civilização”, onde faz uma reflexão sobre o papel do Brasil como uma nova civilização. Ou, como ele próprio diz, “na feliz expressão de Gilberto Freyre para designar o Brasil, o “novo mundo nos trópicos”.
Uma civilização que, segundo Quintas, “é o esteio dos ideais nacionais que, por sua vez, fundamentam os projetos de Nação, pelos quais a Nação planeja o seu futuro e controla o seu destino”. O “Brasil brasileiro” é, segundo o autor, “o valor e ideal supremo da Civilização brasileira”.
“Sem o ideal civilizatório para conferir rumo e sentido, nada se faz, pois nada se quer fazer, e a Nação se deixa guiar passivamente por valores e interesses externos, abdicando, assim, da sua soberania. A independência nacional se alicerça na autonomia espiritual da Civilização autóctone”, prossegue o estudioso do Brasil.
“No Brasil, país monumental e faraônico, gigante pela própria natureza, tudo ganha uma dimensão monumental e faraônica. Nada aqui pode existir e seguir adiante sem ser no superlativo, pois as próprias dimensões do país exigem tal amplificação”, reflete o autor.
Por isso, diz ele, “o grande estadista Getúlio Vargas afirmou que ‘o sentido da brasilidade é a marcha para o oeste’, pois somente assim o Brasil realmente tomaria posse da sua continentalidade e encontraria a si próprio”. “O acanhamento e a miudeza definitivamente não combinam com o Brasil, da mesma forma que uma roupa infantil não cabe em um adulto de mais de dois metros de altura”, assinala.
“A alma brasileira”, afirma Felipe Quintas, “se constitui de uma verdadeira diversidade na unidade, pois as tendências e configurações as mais distintas se mesclam e se compatibilizam no seio acolhedor da Pátria Mãe gentil”. “A hifenização da identidade – ítalo-, teuto-, afro- etc., natural aos povos anglo-saxões, avessos à mistura e à sintetização, é absolutamente estranha à brasilidade, que, em si, já absorve, retém e combina todas as contribuições civilizatórias, elevando-as a um patamar superior de qualidade”, argumenta o estudioso. Confira o texto na íntegra!
S.C.
Princípios do Nacionalismo – Civilização
FELIPE QUINTAS
Dos aspectos formadores da nacionalidade, a Civilização é o mais importante e de mais profundas consequências, pois se refere à essência da Nação, ao seu Ser, ao que a define como tal. A Civilização não é sobre o que a Nação tem, mas sobre o que ela é. Não diz respeito ao acervo físico e material em si, a tudo que é submetido às vicissitudes do tempo, mas aos princípios e fundamentos que, plasmados de forma consciente e inconsciente nas formas existenciais substantivas do povo, identificam e regem a Nação, balizando sua compleição e alicerçando seus valores e ideais.
Sem Civilização, uma Nação nada mais é do que um cadáver, um corpo sem vida, mero acessório de poderes externos, como se fosse objeto qualquer. A Civilização é para a Nação o que a alma é para o corpo: princípio vital que confere determinada feição essencial e orienta e determina tudo mais.
A Civilização abrange a cultura, os costumes, as crenças, os saberes e as tradições nacionais, incorporando-as em uma totalidade superior de ordem metafísica, em uma unidade transcendente imbuída de Eternidade, imune às contingências do devir histórico. A Civilização consubstancia o patrimônio imaterial coletivo na essência imutável da alma nacional, cuja permanência confere-lhe autenticidade e estabelece as possibilidades autóctones de realização da Pátria.
A Civilização possui caráter universal, não no sentido quantitativo de ser extensiva a todos os povos do mundo, mas no sentido qualitativo de abranger os fundamentos da nacionalidade e das perspectivas nacionais sobre os mais diversos elementos constitutivos da realidade. A Civilização é o esteio dos ideais nacionais, e eles, por sua vez, fundamentam os projetos de Nação, pelos quais a Nação planeja o seu futuro e controla o seu destino.
“A Civilização é o esteio dos ideais nacionais, e eles, por sua vez, fundamentam os projetos de Nação, pelos quais a Nação planeja o seu futuro e controla o seu destino”
Sem o ideal civilizatório para conferir rumo e sentido, nada se faz, pois nada se quer fazer, e a Nação se deixa guiar passivamente por valores e interesses externos, abdicando, assim, da sua soberania. A independência nacional se alicerça na autonomia espiritual da Civilização autóctone.
A Civilização em si não é tangível, pois diz respeito às definições espirituais da nacionalidade, mas, por isso mesmo, ultrapassa e fundamenta a realidade material da Nação, constituindo a ordem superior e metafísica da qual os aspectos terrenos e físicos se arraigam, quando bem estabelecidos. O nacionalismo procura organizar a política, a economia e a defesa do país à luz da Civilização nacional, dos seus princípios e valores inerentes, do ideal que dela se alimenta e que norteia a ação coletiva.
Diferentemente dos grupos ideológicos, ele não procura fora da alma nacional as referências e os paradigmas de construção e de existência nacionais, pois sabe que a Civilização própria é o repositório das respostas para os desafios de hoje e de sempre. O poder, a riqueza e as instituições, necessários como são, representam dimensões genuínas da vida nacional somente na medida em que participem da Civilização pátria e nela finquem suas raízes.
Eles não são fins em si mesmos, sendo, mais exatamente, instrumentos e acessórios pelos quais a nacionalidade realiza a si própria e busca alcançar os objetivos que ela se coloca a partir do seu ideal. Quando organizados segundo paradigmas e referenciais estranhos aos fundamentos civilizatórios e ao Ser nacional, reduzem-se a elementos exóticos e artificiais incapazes de mover e animar a nacionalidade, tornando-se verdadeiros patógenos cujo “progresso” significaria o adoecimento e o declínio vital da Nação, com as consequências as mais funestas para todo o corpo coletivo.
O Brasil brasileiro é o valor e ideal supremo da Civilização brasileira. Sua característica fundamental é a continentalidade, não apenas geográfica, mas também, e consequentemente, existencial e espiritual. No Brasil, país monumental e faraônico, gigante pela própria natureza, tudo ganha uma dimensão monumental e faraônica.
“O Brasil brasileiro é o valor e ideal supremo da Civilização brasileira. Sua característica fundamental é a continentalidade, não apenas geográfica, mas também, e consequentemente, existencial e espiritua”
Nada aqui pode existir e seguir adiante sem ser no superlativo, pois as próprias dimensões do país exigem tal amplificação. Seja a população, o Estado, a economia, a sociabilidade, tudo só pode ser autenticamente brasileiro se for colossal, se estiver ajustado aos imperativos de grandeza inerentes a um país continental e habitável em toda a sua extensão, abundante de todos os recursos necessários para a subsistência e o desenvolvimento humanos.
Por isso, o grande estadista Getúlio Vargas afirmou que “o sentido da brasilidade é a marcha para o oeste”, pois somente assim o Brasil realmente tomaria posse da sua continentalidade e encontraria a si próprio. O acanhamento e a miudeza definitivamente não combinam com o Brasil, da mesma forma que uma roupa infantil não cabe em um adulto de mais de dois metros de altura.
Porém o brasileiro nem sente o esforço de viver e trabalhar num país portentoso, porque a visão e alma nacionais já são dilatadas por adaptação ao meio e vocação à grandiosidade. Nascido e criado em uma casa de grandes dimensões, nas quais se vive e se respira Brasil ao longo de largas distâncias, que em outros continentes atravessariam vários e tão distintos e conflitivos países, o brasileiro nem se dá conta da estatura e do alcance do seu Ser, apenas o vive, impregnado das possibilidades que tal gigantismo lhe oferece. O Brasil é faraônico e só pode se manter de pé e prosperar se pensar, sentir e agir de maneira faraônica.
A fartura de espaço e a grandeza do Ser abrem as portas do futuro e convidam à criação e à invenção. A Civilização brasileira é essencialmente futurista, de amplas possibilidades em aberto, como não poderia deixar de ser em um país cuja inesgotável vastidão e abundância ainda está longe de ser devidamente explorada e aproveitada.
Tudo no Brasil é novo e tende à novidade, favorecendo o experimentalismo e, por vezes, mesmo a imprevidência, o que é rapidamente contornável pela amplitude de recursos à disposição para corrigir os rumos. A feliz expressão de Gilberto Freyre para designar o Brasil, o “novo mundo nos trópicos”, compreende muito bem esse aspecto, que se manifesta inclusive na nossa formação social, de caldeamento de vários povos em um dos mais vastos espaços nacionais do mundo.
“A feliz expressão de Gilberto Freyre para designar o Brasil, o “novo mundo nos trópicos”, compreende muito bem esse aspecto, que se manifesta inclusive na nossa formação social, de caldeamento de vários povos em um dos mais vastos espaços nacionais do mundo”
Miscigenado e sincrético, herdeiro de civilizações de todos os continentes que aqui se uniram em uma só, o Brasil combina diferentes influências e características que se harmonizam e se complementam entre si, formando sínteses originais e fecundas, tanto no fenótipo quanto na cultura do povo brasileiro.
A alma brasileira se constitui de uma verdadeira diversidade na unidade, pois as tendências e configurações as mais distintas se mesclam e se compatibilizam no seio acolhedor da Pátria Mãe gentil. A hifenização da identidade – ítalo-, teuto-, afro- etc., natural aos povos anglo-saxões, avessos à mistura e à sintetização, é absolutamente estranha à brasilidade, que, em si, já absorve, retém e combina todas as contribuições civilizatórias, elevando-as a um patamar superior de qualidade.
A complexidade etnocultural brasileira, manifestação da grandeza essencial da brasilidade, proporciona, assim, uma plasticidade psicossocial absolutamente benéfica e enriquecedora no sentido de facilitar a construção dos caminhos pelos quais a nacionalidade pode realizar a si própria. Não importa o que seja e de onde venha, tudo que aqui se estabelece é incorporado ao nosso amálgama civilizatório e se brasilianiza definitivamente, deixando para trás antigas barreiras e se atualizando nas condições promissoras de um futuro plural e humano no seu mais elevado sentido.
A língua portuguesa é um fator estruturante de formação e integração civilizatória nacional. Falada e entendida de norte a sul e de leste a oeste do Brasil, sem que os sotaques e dialetos prejudiquem a sua unidade gramatical, ela é uma verdadeira argamassa do sentido amplo e inclusivo de brasilidade.
Idioma ibérico-latino, dotado de imensa versatilidade e de elevada capacidade de expressão e representação do mundo, o português ajustou-se muito bem à continentalidade brasileira e contribuiu decisivamente para expandi-la e integrá-la ao longo dos séculos.
O Brasil, filho de Portugal, criado por ele pela ocupação e cultivo do espaço territorial, tornou-se brasileiro pela vivência da língua, que não se furtou em incorporar as expressões dos ameríndios, dos africanos e de outros povos, sendo a língua portuguesa no Brasil tão mestiça e sincrética quanto os seus falantes. Por meio da língua portuguesa pensamos e vivemos o Brasil de forma propriamente brasileira, por meio dela somos brasileiros, somos alguém, possuímos uma identidade coletiva entranhada no solo e na alma nativos.
“O Brasil, filho de Portugal, criado por ele pela ocupação e cultivo do espaço territorial, tornou-se brasileiro pela vivência da língua, que não se furtou em incorporar as expressões dos ameríndios, dos africanos e de outros povos, sendo a língua portuguesa no Brasil tão mestiça e sincrética quanto os seus falantes”
Outro fator central de formação e integração civilizatória nacional é o cristianismo, principalmente, mas não exclusivamente, na sua vertente Católica Romana, complementada e apoiada pelas mais diversas igrejas e missões protestantes que para cá sempre afluíram e encontraram generosa acolhida.
A mensagem salvífica evangélica, incorporada no Cristo Redentor, não à toa um dos principais ícones da brasilidade, plasmou todo um ideal nacional aberto à reconciliação e à possibilidade de recomeço dentro de uma convivência democrática e plural na qual as pessoas valem pelo seu caráter e não pela sua procedência familiar e social.
Até mesmo os antecedentes pessoais são relativizados se demonstrado sinceridade de mudança e de recuperação. O Brasil, nascido sob o signo da Ordem de Cristo, possui uma alma profundamente cristã, sempre disposta ao perdão, que sustenta a tendência tipicamente brasileira à reconciliação e à brandura dos costumes.
O Brasil, obra-magna do Renascimento europeu enquanto filho das Grandes Navegações e do desbravamento lusitano, porta, assim, um sentido verdadeiramente universal e humanista de humanidade, realizando o ideário humanista do Renascimento na escala ampliada da sua dimensão geográfica continental, preenchida em toda a sua extensão por condições físicas as mais favoráveis ao estabelecimento e à propagação da vida, constitutivas de uma terra onde, em se plantando, tudo dá.
Civilização jovem, recém-formada e sempre renovada pelo afluxo de emigrantes no decorrer dos séculos, não padece do desgaste e do embotamento da civilização ocidental propriamente dita, mas tende energicamente ao futuro, à realização das potencialidades até agora desperdiçadas da humanidade. O ideal brasileiro é o ideal do valor intrínseco do ser humano na humanidade reconciliada consigo própria, apontando, assim, para uma situação futura de abundância e liberdade compartilhadas.
A visão do Brasil como País do Futuro, tão mal compreendida, não se refere a uma posição jamais alcançável, mas à promessa de redenção universal que a brasilidade carrega no mais profundo do seu Ser, e que cabe a nós efetivar pela soberania e altivez com que pensemos, vivamos e sintamos a nossa Pátria.
O apego à Pátria na sua realidade e nas suas possibilidades é ainda mais fortalecido quando se participa das solenidades cívicas que rememoram os eventos fundadores da nacionalidade. O 7 de Setembro, o 22 de Abril e o 15 de Novembro são datas que eternizam o sentido épico da brasilidade, de um país-colosso construído brava e aguerridamente pela força de seu próprio povo, sobressaindo-se a liderança e a autoridade dos Heróis da Pátria, grandes nomes imortalizados na obra coletiva da Nação e exemplos ingentes de grandeza e lealdade patrióticas.
Os Heróis da Pátria não são “homens mortos”, pois vivem na realidade nacional por eles legada. Por encarnarem os valores e ideais superiores da Nação e transcenderem a si próprios, eles constituem referências permanentes da nacionalidade, cuja memória deve sempre ser cultivada e venerada para iluminar os caminhos do porvir. O heroísmo é atemporal, pois une o passado e o futuro na Eternidade que se manifesta no tempo presente no país que somos e que vivemos.
A epopeia da construção brasileira, realizada pela bravura e determinação de heróis como Pedro Álvares Cabral, Jerônimo de Albuquerque, Henrique Dias, Borba Gato, Zumbi dos Palmares, Alexandre de Gusmão, Tiradentes, José Bonifácio, Dom Pedro I, Duque de Caxias, Princesa Isabel, Barão do Rio Branco, Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Villa-Lobos e Getúlio Vargas, façanha admirável da qual temos a honra e o privilégio de sermos herdeiros, coloca em nossos ombros a missão histórica de perpetuá-la pelo civismo de que os Heróis da Pátria são modelos.
“A epopeia da construção brasileira, realizada pela bravura e determinação de heróis como Pedro Álvares Cabral, Jerônimo de Albuquerque, Henrique Dias, Borba Gato, Zumbi dos Palmares, Alexandre de Gusmão, Tiradentes, José Bonifácio, Dom Pedro I, Duque de Caxias, Princesa Isabel, Barão do Rio Branco, Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Villa-Lobos e Getúlio Vargas, façanha admirável da qual temos a honra e o privilégio de sermos herdeiros, coloca em nossos ombros a missão histórica de perpetuá-la pelo civismo de que os Heróis da Pátria são modelos”
Daí a necessidade de homenageá-los em monumentos públicos, para que possam inspirar o mais elevado reconhecimento e se cristalizem no imaginário coletivo como baluartes nacionalistas. Triste a Nação que não precisa de heróis, pois, sem uma epopeia para chamar de sua e sem referências próprias, ela efetivamente não existe, sendo, mais propriamente, uma colônia, um lamentável prolongamento subalterno de algum outro país que, esse sim, preserva a memória dos seus heróis.
Felizmente o Brasil precisa de heróis e os possui, de modo que não precisamos nos tornar tributários de quem quer que seja, pois temos, na nossa formação nacional, nossa própria bússola, dada pelos nossos grandes nomes, seus feitos e seus ideais.
O patrimônio histórico e artístico do país, como um todo, é do mais alto interesse estratégico, pois preserva justamente a identidade nacional, aquilo que faz o Brasil ser brasileiro e não qualquer outra coisa. Pelo patrimônio histórico e artístico, o país mantém viva a lembrança do que fez e de quem é, reconhecendo a si próprio pela ligação aos antepassados. Dessa forma, habilita-se a se posicionar adequadamente no percurso histórico para construir o seu futuro conforme seus próprios paradigmas e finalidades.
Os sítios e cidades históricos, os museus e toda sorte de bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio cultural do país o informa da sua alma e mantém viva a sua Civilização. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), principal órgão estatal responsável por esse setor, é uma das principais instituições guardiãs da soberania nacional, pois sem a soberania da memória e da identidade, sem a soberania sobre o próprio Ser, o país nada mais poderá conservar e construir.
O país que mantém sua alma, mesmo que perca os bens materiais, poderá reconstruí-los porque guardará o princípio que permitiu a eles existir, mas o país que a perde torna-se um cadáver coletivo e nada mais poderá realizar senão tomando de empréstimo de outrem, transformando-se, assim, em plataforma colonial.
A Civilização brasileira se perpetua também através dos símbolos nacionais, que a transmitem e comunicam entre as gerações. Os símbolos expressam, sob forma acessível aos sentidos, as ideias e os valores civilizatórios transcendentes e superiores, despertando em todos e em cada um os sentimentos e os ideais da nacionalidade.
O significante, de ordem física, comporta intrinsecamente um significado de ordem metafísica, de modo que o símbolo nunca é apenas aquilo que os sentidos captam imediatamente, mas, de forma ainda mais profunda, tudo aquilo que representa. A mediação simbólica entre a transcendência e a imanência estabiliza e perpetua o valor da Civilização enquanto realidade vislumbrada e vivida, enquanto ideal e história.
Os símbolos nacionais oficiais – Bandeira Nacional, Hino Nacional, Armas Nacionais e Selo Nacional – representam a Nação como um todo, na inteireza de sua identidade, de sua história, de suas possibilidades e dos seus ideais.
Também podem ser considerados símbolos nacionais os Heróis da Pátria, eternizados nos monumentos e no patrimônio histórico e artístico do país. Eles constituem referências permanentes de patriotismo, para que sucessivas gerações possam se espelhar naqueles que lhes permitiram chegar onde chegaram e extrair os exemplos de grandeza, bravura e lealdade para com a Nação.
Eles não são apenas fragmentos de materiais, não são apenas o que as mãos podem tocar, mas são e incorporam toda a nacionalidade, neles simbolizada. Reverenciá-los é reverenciar a Pátria, é reverenciar a si próprio enquanto membro da comunidade nacional, e depredá-los e/ou corrompê-los é violentar a Pátria e trair a si mesmo.
Os sentimentos que se pode ter em relação aos símbolos pátrios são os que se tem em relação à Nação como um todo. Ninguém pode se dizer nacionalista sem ter profundo apego e respeito aos símbolos nacionais, pois eles são os arquétipos da nacionalidade e conferem valor vital ao ambiente pátrio a que se pertence.
Porém, eles, enquanto representações da Nação, apenas se confirmam na medida em que são efetivados, o que demanda o mais profundo sentido de responsabilidade cívica. Incorrem em profundo e pernicioso erro tanto os iconoclastas, que dissociam os símbolos da nacionalidade para supostamente defender a segunda em detrimento da primeira, quanto os idólatras, que cultuam os símbolos ignorando, deliberadamente ou não, o seu significado e as implicações e obrigações dele decorrentes.
A iconoclastia e a idolatria são sempre meios de desvirtuamento do nacionalismo, mobilizando intenções aparentemente benévolas contra a estrutura simbólica da Nação e, portanto, contra a sua Civilização, contra a sua alma e o seu Ser.
A defesa e a disseminação dos valores e dos ideais civilizatórios brasileiros são as principais tarefas da atualidade, sem as quais nenhuma outra poderá ser levada a cabo. Política, economia, defesa, todos esses são acessórios e instrumentos da realização dos princípios essenciais da alma nacional. A Civilização brasileira precisa estar viva nos corações e mentes de todo o povo, para que a coletividade nacional nunca perca de vista aquilo que ela é e nunca se deixe enganar pelos oportunistas e aproveitadores, que invariavelmente mascaram sua sede de poder com a roupagem de ideologias funestas e divisivas, que incitam o povo a se conflagrar para poder dominar a todos pelo medo e pelo caos.
“A Civilização brasileira precisa estar viva nos corações e mentes de todo o povo, para que a coletividade nacional nunca perca de vista aquilo que ela é e nunca se deixe enganar pelos oportunistas e aproveitadores, que invariavelmente mascaram sua sede de poder com a roupagem de ideologias funestas e divisivas, que incitam o povo a se conflagrar para poder dominar a todos pelo medo e pelo caos”
Cumpre, então, organizar os sistemas informacionais e educacionais brasileiros, como a Imprensa, a Escola e a Academia, para a consecução desse propósito. Suas atribuições técnicas nunca estão desvinculadas de certo propósito pedagógico, de natureza espiritual e política, pois a técnica não possui finalidade intrínseca, mas somente aquela orientada pelos valores e ideais determinantes.
Desse modo, não se pode admitir que tais instituições, inseridas no contexto nacional brasileiro e definidas de acordo com a legislação nacional, estejam a serviço de falsos valores e de ideologias corrosivas do tecido social brasileiro, no mais das vezes importadas de centros imperialistas e ecoadas por seus prepostos internos.
Enquanto organismos estratégicos da nacionalidade, elas devem fundamentar sua administração e sua atuação na verdade do País, na Civilização nacional, e, assim, colaborar para a realização da grandeza brasileira. Elas se justificam apenas enquanto instrumentos da Nação, sendo desviante e inaceitável qualquer outra finalidade e vinculação.
Daí que elas tenham, obrigatoriamente, que funcionar como centros de irradiação nacionalista, não a serviço de um grupo ou ideologia específica, mas do Brasil como um todo, do Brasil brasileiro. Tudo que pertence ao Brasil e à alma brasileira deve ser obstinadamente promovido e defendido pelos sistemas informacionais e educacionais brasileiros.
A Moral e Cívica nacionalista, com a devida reverência e centralidade à língua pátria, à instituições nacionais, à memória nacional, aos símbolos nacionais, à coesão social, a tudo que define e possibilita o Brasil, deve ser o cerne da mídia, das escolas e universidades. De outro modo, elas se tornariam verdadeiras e intoleráveis ervas daninhas, corpos estranhos e hostis ao meio coletivo que possibilita sua existência.
A soberania dos valores e ideais, estruturada por todo um complexo informacional e educacional veementemente nacionalistas, é questão de sobrevivência no século 21, para o Brasil não se deixar arrastar pela voga internacional do pós-modernismo e de todos os extremismos dele resultantes, verdadeira psicopolítica dos poderes financeiros transnacionais sediados no Atlântico Norte, que pretende dissolver e desmembrar as nações e o próprio ser humano. A soberania espiritual é o alicerce necessário e incontornável da soberania política, econômica e militar, que, juntas, compõem a estrutura da nacionalidade.
A Civilização é o fundamento da Nação e precisa ser defendida e promovida a qualquer custo. Mais importante ainda do que educar o povo para a consciência patriótica é educar os grupos dirigentes neste sentido, pois sobre eles recai a responsabilidade de guiar e dirigir o País. Eles devem constituir uma elite no sentido verdadeiro do termo, um grupo de indivíduos do mais alto calibre intelectual e moral, inteiramente devotados à integridade da Nação e capazes de governá-la tendo em vista a realização do Bem Comum, isto é, dos valores e ideais nacionalistas, do Brasil brasileiro.
Cabe à elite, enquanto guardiã da Civilização, ocupar os postos vitais do País a fim de orientar as suas mais diferentes funções no justo sentido da autenticidade nacional, para que o Brasil seja brasileiro em todos os seus âmbitos e dimensões. A elite, no sentido aqui compreendido, diferencia-se da oligarquia por basear seu comando no exercício dos valores superiores da nacionalidade, não em aspectos inferiores e subordinados como a riqueza e a força.
Enquanto a elite visa o bem comum, a oligarquia visa os próprios bens; enquanto a elite governa para todos, a oligarquia governa para poucos; enquanto a elite realiza a Justiça no ordenamento social e institucional do País, a oligarquia instaura o arbítrio e o mantém pelo medo e pela intimidação; enquanto a elite possui valores e sustenta a soberania nacional, a oligarquia possui preços e contrabandeia a soberania nacional para os poderes externos que os pagam.
A adequada organização política nacional é a que, representando a Nação como um todo, melhor realiza, em termos de poder, os valores e ideais da Civilização brasileira, do Brasil brasileiro.
(*) Felipe Maruf Quintas é mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Publicado originalmente do Monitor Mercantil