
Após Trump ameaçar sobretaxar os carros importados e autopeças da Europa em 25%, a União Europeia advertiu os EUA que reagirá com tarifas sobre até US $ 300 bilhões em exportações norte-americanas se Washington não recuar da chantagem.
Conforme o Financial Times, o documento de Bruxelas diz que uma “investigação americana sobre se carros e autopeças estrangeiras representam um risco à segurança nacional pode mergulhar a economia global em uma guerra comercial total”, o que, acrescenta, “irá prejudicar o setor automotivo dos EUA, responsável por mais de 4 milhões de empregos”.
A nova ameaça de Trump foi proferida depois que os europeus retaliaram as sobretaxas sobre o aço (25%) e sobre o alumínio (10%) de Trump, com tarifas no valor de US$ 2,8 bilhões em exportações norte-americanas, que atingiram jeans Lewis, uísque Bourbon, motos Harley Davidson e manteiga de amendoim. Tarifas sobre um valor adicional de US$ 3,6 bilhões em mercadorias norte-americanas serão impostas após três anos ou mais, se a OMC decidir a favor da UE.
As sobretaxas de Trump foram impostas sobre pretexto de risco à “segurança nacional”, revoltando os países que os EUA ocupam há décadas e o vizinho Canadá. Os EUA importaram quase 1,3 milhão de veículos da UE no ano passado, com as três grandes empresas alemãs, BMW, Daimler e Volkswagen, exportando 726,3 mil. Assim, se explica aquela foto famosa da cúpula do G7, com Merkel e Trump.
A Comissária europeia para Comércio, Cecília Malmström, quase pediu desculpas pela retaliação. “Não queríamos estar nesta posição. No entanto, a decisão unilateral e injustificada dos EUA de impor tarifas de aço e alumínio à UE significa que não nos resta outra escolha”. “As regras do comércio internacional, que desenvolvemos de mãos dadas com nossos parceiros americanos, não podem ser violadas sem uma reação do nosso lado”, acrescentou.
A investigação sobre a suposta ameaça “à segurança nacional dos EUA” da importação de carros foi ordenada por Trump em maio com expectativa de estar concluída até fevereiro do ano que vem, mas há rumores de que será antecipada para uso na campanha das eleições intermediárias de novembro, que definirão o controle do Congresso. Na semana passada, Trump disse a repórteres que esperava sua conclusão “em três ou quatro semanas”. O pretexto para alegar “segurança nacional” seria que o enfraquecimento das montadoras dos EUA diante dos importados acarretaria a perda da liderança tecnológica.
Pelo que saiu na mídia até agora, o documento mais parece uma tentativa infrutífera de demover Trump, ao alegar que as sobretaxas, além de prejudicar o comércio, o crescimento e o emprego nos EUA e no mundo, “enfraquece os laços com amigos e aliados e desvia a atenção dos desafios estratégicos compartilhados que realmente ameaçam o modelo econômicos ocidental baseado no mercado”.
Não parece que comoveu Trump, pois em entrevista à Fox News ele apontou que “possivelmente a União Europeia é tão ruim quanto a China, apenas menor”. Em seguida, voltou à carga: “dê uma olhada na situação dos carros. Eles enviam seus Mercedes, não podemos enviar nossos carros. Veja o que eles fazem com nossos agricultores. Eles não querem nossos produtos agrícolas”.
As grandes montadoras norte-americanas não estão achando nada de bom nessa história de sobretaxas. A General Motors advertiu que poderia ficar “menor” em declaração ao Departamento de Comércio, em que apontou que dependia de uma “complexa cadeia de suprimentos global” e que sua capacidade de manter uma “vantagem competitiva” dependia de “maximizar a eficácia de nossas operações em escala global”.
A Aliança dos Fabricantes de Automóveis, que representa as montadoras americanas mais Toyota, Volkswagen e outras estrangeiras, advertiu que “em todo o país, essa tarifa atingiria os consumidores americanos com um imposto de quase US $ 45 bilhões, com base nas vendas de automóveis de 2017”. O que foi respondido pelo assessor econômico da Casa Branca, Peter Navarro, de que o impacto das sobretaxas sobre o preço de um carro da GM seria equivalente ao custo de “um tapete de luxo”.