A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou em nota que o governo Jair Bolsonaro realizou um “genocídio” contra a comunidade yanomami, em Roraima, e disse que esse crime deve despertar a “santa indignação” das pessoas.
A entidade pede que, “diante da gravidade do que se verifica no Norte do País, das mortes, principalmente de crianças e de idosos, sejam apontados os responsáveis, para que a justiça prevaleça”.
A CNBB defendeu, ainda, que “o genocídio dos Yanomamis seja capítulo nunca esquecido na história do Brasil, para que não se repita crime semelhante contra a vida de nossos irmãos”.
Em um relatório, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à CNBB, afirmou que os problemas de disseminação de doenças, da violência e da miséria foram, no ano de 2021, agravados pela presença de garimpeiros ilegais nas Terras Indígenas.
Os garimpeiros permaneceram no território pois tinham apoio político do governo Bolsonaro.
“Os invasores passaram a realizar ataques armados sistemáticos contra as comunidades indígenas, espalhando um clima de terror e provocando mortes, inclusive de crianças”, diz o documento.
“Os ataques criminosos, com armamento pesado, foram denunciados de forma recorrente pelos indígenas – e ignorados pelo governo federal, que seguiu estimulando a mineração nestes territórios. Os garimpos, além disso, serviram como vetor de doenças como a Covid-19 e a malária para os Yanomami”, acrescenta.
Para a CNBB, “essa realidade deve despertar santa indignação no coração de cada pessoa, especialmente dos cristãos, que não podem fazer da defesa da vida uma simples bandeira a ser erguida sob motivação ideológica. A defesa da vida humana é indissociável do cuidado com o meio ambiente”.
“Os povos originários, integrados à natureza, têm sido desrespeitados de modo contumaz, a partir da ganância, da exploração predatória do meio ambiente, que propaga a morte em nome do dinheiro”, continuou a entidade.
“O momento é de tristeza e desolação, mas a Igreja Católica continuará a trabalhar, intensificando sempre mais as suas ações, em união com muitos segmentos da sociedade e do poder público, para que prevaleça a esperança, confiante de que cada Yanomami será respeitado em sua dignidade de filho e filha de Deus”, completou.
A nota é assinada pelos presidente, vice-presidente e secretário-geral da CNBB, sendo eles, respectivamente, o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, o arcebispo de Porto Alegre, Dom Mário Antônio da Silva, e o bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Joel Portella Amado.
A CNBB enviou R$ 350 mil para ajuda humanitária e emergencial para os yanomamis.
O padre Lúcio Nicoletto, administrador diocesano de Roraima, culpa as invasões de garimpeiros pela tragédia humanitária que está sendo observada.
“Entre os impactos do garimpo na Terra Indígena Yanomami (TIY) estão a devastação ambiental; a destruição das comunidades indígenas (mortes diretamente associadas à violência do garimpo; violência sexual contra moças e mulheres; desestruturação social e instigação a conflitos comunitários e intercomunitários, pela distribuição de armas, drogas e bebidas alcoólicas etc.), desequilíbrio da economia indígena; e agravamento da situação sanitária”, disse.
O governo Lula instalou um estado de emergência em saúde pública na Terra Indígena Yanomami para fazer resgates e atendimentos médicos, além de entregas de alimentos e remédios para a comunidade.
Leia a nota da entidade na íntegra:
Em defesa dos povos originários
A ofensiva contra os direitos dos povos indígenas, agravada nos últimos anos, foi denunciada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em seu relatório anual. A realidade vivida pelo povo Yanomami é, pois, síntese do que apresenta o relatório do CIMI. Os povos originários, integrados à natureza, têm sido desrespeitados de modo contumaz, a partir da ganância, da exploração predatória do meio ambiente, que propaga a morte em nome do dinheiro.
Essa realidade deve despertar santa indignação no coração de cada pessoa, especialmente dos cristãos, que não podem fazer da defesa da vida uma simples bandeira a ser erguida sob motivação ideológica. A vida tem que ser efetivamente defendida, não apenas em uma etapa específica, mas em todo o seu curso. E a defesa da vida humana é indissociável do cuidado com o meio ambiente.
A CNBB pede às autoridades um adequado tratamento dedicado ao povo Yanomami e a cada comunidade indígena presente no território brasileiro. Diante da gravidade do que se verifica no Norte do País, das mortes, principalmente de crianças e de idosos, sejam apontados os responsáveis, para que a justiça prevaleça. O genocídio dos Yanomamis seja capítulo nunca esquecido na história do Brasil, para que não se repita crime semelhante contra a vida de nossos irmãos.
A Igreja Católica no Brasil está unida ao povo Yanomami, solidariamente, com sua rede de comunidades de fé. As dores de cada indígena são também da Igreja, que, a partir de sua doutrina, do magistério do Papa Francisco, vem ensinando a importância dos povos originários na preservação do planeta.
O momento é de tristeza e desolação, mas a Igreja Católica continuará a trabalhar, intensificando sempre mais as suas ações, em união com muitos segmentos da sociedade e do poder público, para que prevaleça a esperança, confiante de que cada Yanomami será respeitado em sua dignidade de filho e filha de Deus.
Brasília-DF, 31 de janeiro de 2023
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB