O ex-ministro de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, disse que o decreto golpista que foi encontrado em sua casa era “descartável” e desimportante.
O decreto, que Torres manteve guardado em sua residência, era “totalmente descartável” e “sem qualquer viabilidade política”, insistiu o bolsonarista. Ele disse que foi uma funcionária que colocou o papel na estante.
Questionado pela PF sobre de quem recebeu a minuta de decreto presidencial, disse que “não tem ideia”.
O decreto presidencial instalaria, caso colocado em prática, um “estado de defesa” golpista sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que fosse alterado o resultado das eleições presidenciais.
Ele falou para a Polícia Federal que “perdeu” seu celular pessoal nos Estados Unidos, mudando sua versão anterior de que teria deixado o aparelho no país estrangeiro.
Segundo ele, o celular foi desligado quando começou a ser procurado por “uma infinidade de pessoas” devido a seu envolvimento no atentado terrorista de 8 de janeiro. Depois, perdeu o celular que seria usado nas investigações.
A PF cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de Torres, durante o qual encontrou a minuta golpista, devido às evidências de que ele tem envolvimento com o ataque terrorista de 8 de janeiro.
ATAQUE TERRORISTA
Ainda no depoimento, Anderson Torres tentou jogar a culpa do ataque terrorista em Brasília para todos os outros agentes públicos do DF, não restando para ele nenhuma responsabilidade sobre a total desmobilização das tropas durante o atentado.
Anderson Torres assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal no dia 2 de janeiro, dois dias depois de ter saído do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. Quando assumiu, exonerou e fez trocas nos cargos de comando da Segurança.
“Foram exonerados o então Secretário Executivo de Segurança Pública (SESP) e o Subsecretário de Inteligência (SI), cargos diretamente envolvidos nos eventos realizados, afetando as atividades operacionais realizadas por esta Secretaria”, afirma em relatório Ricardo Cappelli, ex-interventor na Segurança do DF.
No dia 8 de janeiro, milhares de bolsonaristas invadiram, sem nenhuma resposta da polícia, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
À PF, Anderson Torres disse que fez sua parte e produziu um protocolo para a segurança da Praça dos Três Poderes, restando toda a responsabilidade para a Polícia Militar do DF.
O contrário é apontado por Ricardo Cappelli no relatório sobre o ataque terrorista. “Embora estivesse operando pessoalmente no campo, as evidências indicam que o coronel [ex-comandante da PM-DF, Fábio Augusto Vieira] perdeu a capacidade de liderar seus comandados diretos, uma vez que suas solicitações por reforço não foram consideradas nem atendidas prontamente”, afirma Cappelli.
Já para as ações de Anderson Torres, o relatório diz que “as mudanças, após a posse, da estrutura central de planejamento e comando operacional da SSPDF [Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal] afetou o planejamento e a execução das ações”.
“Durante os atos ocorridos no dia 08 de janeiro de 2023, o Secretário de Segurança Pública titular [Anderson Torres] encontrava-se de viagem para Orlando, Estados Unidos, embora não estivesse de férias”, acrescentou.
Sobre isso, Anderson Torres respondeu somente que viajou porque achou que o cenário da manifestação seria tranquilo, e que teria dito para o governador Ibaneis Rocha que iria viajar, apesar de não estar de férias nos dias 7 e 8 de janeiro.
A suposta avaliação de que tudo correria bem foi feita poucos dias depois que um bolsonarista tentou explodir uma bomba em um caminhão com combustível no Aeroporto de Brasília. E também quando os acampamentos em frente ao Quartel General do Exército, de onde saíram os manifestantes, pediam um golpe de estado.
Anderson Torres está preso desde o dia 14 de janeiro no 4º Batalhão da Polícia Militar, em Brasília.