Jair Bolsonaro está vivendo “um espetáculo bizarro” nos Estados Unidos, com visitas e presentes de apoiadores, enquanto foge da Justiça brasileira, afirmou a revista norte-americana Time. Para a revista, ele proporciona “cenas surreais na Flórida”.
Bolsonaro estava nos Estados Unidos vivendo de favor na casa do ex-lutador José Aldo, desde o dia 30 de dezembro. Ele saiu do país antes do fim de seu mandato para não entregar a faixa presidencial para Lula.
A revista Time, mais importante semanário dos EUA, fez uma reportagem sobre a vida de Bolsonaro e questionando sua permanência, uma vez que ele não tem nenhum visto vigente.
A Time chama Bolsonaro de “Florida Man”, ou “homem da Flórida”, que é uma expressão comum para pessoas que se comportam de maneira absurda.
“Há um mês, ele liderava o quinto maior país do mundo. Atualmente, ele está vagando pelos supermercados da Flórida, comendo frango frito sozinho em restaurantes de fast-food e conversando com apoiadores” em frente à casa em que está hospedado.
Bolsonaro tem recebido presentes dos apoiadores que o visitam, como “cestas de pão, morangos, flores e Nutella”, informou a revista.
“O ressurgimento de Jair Bolsonaro na Flórida é um espetáculo bizarro, mesmo para um estado com uma longa história de refúgio para personagens excêntricos”, disse o semanário.
A Time registra que “não está claro” qual o plano de Bolsonaro para os próximos anos. Suas redes sociais estão sendo alimentadas de publicações sobre supostos feitos de seu antigo governo e das conversas que tem tido com apoiadores nas ruas da Flórida.
“O que o ex-presidente do Brasil está fazendo na Flórida com seu país – e seu próprio futuro, legalmente falando – enredado em turbulência?”, questiona.
A revista se refere, em primeiro lugar, aos ataques terroristas que foram feitos no dia 8 de janeiro pelos apoiadores de Bolsonaro. Eles invadiram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional em uma tentativa de golpe para tirar Lula da Presidência.
Bolsonaro, que por anos atiçou esse tipo de comportamento golpista, especialmente com falas mentirosas sobre o sistema eleitoral Brasileiro e sobre o Judiciário, diz não ter nada a ver com o ocorrido.
Em segundo lugar, a revista Time se refere ao vencimento, no dia 31 de janeiro, do visto diplomático com o qual Bolsonaro entrou nos Estados Unidos.
O ex-presidente pediu um visto de turista, com validade de seis meses, para poder permanecer fora do Brasil e longe da Justiça. Seu advogado, Felipe Alexandre, disse que “ele gostaria de tirar uma folga, esfriar a cabeça e curtir ser turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será o próximo passo”.
A democrata Anna Eskamani, membro da Câmara de Representantes da Flórida, afirmou que Bolsonaro está “tentando evitar investigações criminais buscando abrigo nos Estados Unidos. Ele está se escondendo atrás do visto de turista”.
Apesar do pedido de visto de turista e da suposta folga que quer tirar, Bolsonaro tem dado palestras em eventos de extrema-direita. Na sexta-feira (3), ele participou de um evento organizado pela Turning Point USA (TPUSA) em Miami, na Flórida, onde discursou contra o governo Lula.
A TPUSA é uma organização ligada a Donald Trump, ex-presidente dos EUA que incitou a tentativa de golpe com a invasão do Capitólio, e que tem como fundador o supremacista branco Charlie Kirk.
Empresários ligados a Jair Bolsonaro estão articulando outras palestras para custear a presença do ex-presidente e toda a sua equipe, assim como parte de seus familiares, nos EUA. Cada palestra seria realizada ao preço de US$ 10 mil, equivalente a cerca de R$ 50 mil.
“Em um evento organizado em sua homenagem por um grupo conservador de expatriados brasileiros, Bolsonaro sentou-se sob os holofotes em um pequeno palco em um shopping center em Orlando, empoleirado em uma poltrona roxa ao lado de um pufe felpudo e uma única flor. Vídeos postados por pessoas em uma pequena multidão de fãs, em sua maioria brasileiros-americanos, que pagaram até US$ 50 para ver Bolsonaro, o mostram envolto na bandeira brasileira, cercado por pessoas rezando por ele e sendo tocado por músicos”, relata a revista