Reportagens trazem revelações sobre ação de Walter Delgatti na tentativa de grampear ministro do Supremo
O cerco está se fechando em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As suspeitas de que o ex-chefe do Executivo participou de plano para grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, levantadas pela primeira vez pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES), em 2 de fevereiro, ganharam novos elementos nestas segunda (6) e terça-feira (7), com reportagens da revista Veja e do site The Brazilian Report.
Marcos do Val relatou que Bolsonaro e Daniel Silveira (PTB-RJ) lhe apresentaram uma proposta do senador se reunir com Alexandre de Moraes, com uma escuta, e arrancasse alguma declaração comprometedora do ministro, visando prendê-lo e anular as eleições.
Segundo Veja, que em agosto de 2022 tinha relatado encontro intermediado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), entre Bolsonaro e o hacker Walter Delgatti Neto (negado à época pela deputada e por Bolsonaro), houve uma segunda conversa entre os três em setembro.
Delgatti foi o responsável pelo hackeamento das conversas entre o ex-juiz, agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR), e os procuradores da Operação Lava Jato — publicadas pela série de reportagens conhecida como Vaza Jato, do portal The Intercept Brasil.
Segundo Veja, o hacker afirmou que Zambelli, na presença dele, trocou o chip do celular dela para ligar para Bolsonaro. Na conversa, o então presidente da República teria proposto que Delgatti assumisse a autoria de grampeamento ilegal de Moraes, o que foi aceito pelo hacker.
VULNERAR O SISTEMA ELEITORAL
A ideia seria, segundo a trama urdida por Bolsonaro, Zambelli e Delgatti, apresentar conversas que pudessem fragilizar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro e a isenção do ministro, atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Ainda de acordo com a reportagem, enquanto novas informações sobre o plano não chegavam a Delgatti, ele procurou funcionário da operadora telefônica TIM e ofereceu dinheiro em troca de chip com o mesmo número de Moraes. Mas o funcionário não aceitou a proposta.
Segundo a reportagem de Veja, o veículo só está publicando os relatos de Delgatti agora, apesar de os ter recebido em setembro, quando registrou os fatos em cartório, porque as acusações feitas por Marcos do Val no início de fevereiro fortalecem a exposição apresentada pelo hacker, antes desprovida de evidências suficientes.
A SOLDO DE ZAMBELLI E BOLSONARO
A reportagem do Brazilian Report, por sua vez, revela que fonte — que falou em condição de anonimato — garantiu ter provas de que Delgatti estava trabalhando para Zambelli e para Bolsonaro, e afirmou que foi procurado pelo hacker “para tentar invadir o chip do presidente do TSE Alexandre de Moraes”.
Delgatti afirmou, então, ao Brazilian Report que tem contrato de gaveta com Zambelli, prestando a ela serviços de administração de redes sociais e de site por R$ 6 mil mensais.
O hacker também reconheceu a própria voz quando ouviu áudios enviados pela fonte anônima à reportagem. Nos áudios, Delgatti diz que havia “um pessoal pagando por trás”.
Mas aos jornalistas falou que agiu por conta própria em relação à tentativa de grampo.
MINUTA GOLPISTA
Após os atos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas depredaram, vandalizaram e pilharam as sedes dos Três Poderes em Brasília, a PF (Polícia Federal) encontrou na casa de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, minuta de plano golpista para tentar anular o resultado eleitoral, manter Bolsonaro na Presidência e prender ministros do TSE e STF.
O plano golpista também incluía a quebra dos sigilos das comunicações dos ministros do TSE.
Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde dezembro de 2022, não se manifestou sobre as revelações de Veja ou do Brazilian Report. Zambelli afirmou ao site que “não tem qualquer relação com Walter [Delgatti] no que tange grampear o Moraes”.
M.V.