Um mês depois, deputados, senadores e servidores do Poder Legislativo se manifestaram para reafirmar compromisso com a democracia
Os servidores do Congresso — Câmara dos Deputados e Senado Federal — realizaram ato a favor da democracia nesta quarta-feira (8) e contra os golpistas bolsonaristas que invadiram e depredaram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, num espetáculo de terror repudiado no Brasil e no mundo.
Os golpistas, inconformados com a vitória de Lula nas urnas, queriam um golpe contra a democracia e desrespeitar o resultado legítimo da eleição.
“O caminho inverso: Ato pela Democracia” começou às 14h, horário próximo ao início dos ataques em 8 de janeiro, quando manifestantes que questionavam o resultado das eleições de 2022 invadiram e depredaram as sedes dos três poderes da República.
O primeiro local do Congresso que foi invadido pelos vândalos, o Salão Negro, foi escolhido para o início da cerimônia. O espaço liga o Senado e a Câmara dos Deputados. Durante o ato, os servidores leram manifesto. Na ocasião, policiais legislativos e servidores também deram depoimentos.
O policial legislativo da Câmara Adilson Paz lembrou do barulho das bombas “que explodiram na nossa linha”. “Vimos um campo de batalha dentro do maior palco da nossa democracia: o Parlamento.”
PACHECO
O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), destacou que a depredação aos prédios dos Três Poderes foi atentado contra a democracia. O senador afirmou ainda que a violência de ínfima minoria que não aceitou o resultado das eleições não representa o povo brasileiro ou a vontade da maior parte da população.
Pacheco lembrou que o Brasil e o mundo assistiram estarrecidos às cenas de vandalismo, mas que a resposta das instituições foi rápida.
No dia seguinte aos atentados, em reunião inédita e histórica, realizada em caráter emergencial, os chefes de Poderes e os representantes dos estados brasileiros vieram a Brasília demonstrar solidariedade e união. A reunião de forças demonstrou a resiliência da democracia.
O presidente do Senado elogiou a atuação dos servidores da Casa na recuperação do espaço físico do Congresso. E disse que os responsáveis pela depredação não ficarão impunes.
PARLAMENTARES
Vários deputados discursaram para elogiar os servidores e o fortalecimento dos vínculos democráticos do país após os atentados de 8 de janeiro. O primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara, deputado Luciano Bivar (União-PE), foi um dos representantes da direção da Casa no evento.
“A Mesa Diretora é despida de cor e ideologia. Ela é feita para manter aquilo que diz respeito a toda condução de funcionamento desse palácio que simbolicamente representa o Parlamento. Eu me congratulo com todos vocês que estão aqui em defesa da nossa democracia”, disse.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) considerou simbólico ocupar a tribuna do plenário da Câmara dos Deputados passado um mês da invasão, depredação e pilhagem das sedes dos Três Poderes da República e reafirmou que prevaleceu a democracia.
“É importante que nós digamos que o governo federal, as instituições brasileiras, a sociedade brasileira, na sua maioria, como também a comunidade internacional, não apenas repudiou, condenou, como também reagiu e reafirmou que a democracia venceu. Nós estamos aqui”, disse a deputado do PCdoB.
O deputado Vicentinho (PT-SP) chamou o 8 de janeiro de “tragédia anticívica”. Ele afirmou que é fundamental reverter o quadro que levou à radicalização antidemocrática dos golpistas que invadiram a capital. “Dia 8 de janeiro nunca mais! Viva a democracia! Viva o Estado Democrático de Direito!”, disse.
Durante o evento, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) agradeceu “a resposta imediata dos Três Poderes” diante dos atos golpistas de 8 janeiro e afirmou que “a democracia não pode ser negociada”.
LEGADO DE BOLSONARO
Para o deputado Valmir Assunção (PT-BA), a invasão dos palácios é “o legado de Jair Bolsonaro”. “Faz um mês que os bolsonaristas entraram aqui nesta Casa, destruíram praticamente toda a estrutura desta Casa. Repetiram o mesmo no Senado, no Planalto e no Supremo Tribunal Federal. [Foi] isso que eles construíram durante o período que ficaram no governo. Essa é a prática dos bolsonaristas”, afirmou.
Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), o 8 de janeiro é “uma data infame”. Ele disse que a invasão foi tentativa de golpe dos bolsonaristas utilizando-se de “horda fascista”. Ele cobrou a responsabilização dos responsáveis.
“Nada pode ficar impune”, disse. O deputado Alencar Santana (PT-SP) foi na mesma linha e também defendeu a punição de todos os envolvidos. “Quem financiou, quem participou, tem que pagar e nós temos que reafirmar a democracia”, pontificou.
TRABALHO DE RECUPERAÇÃO
No Senado, os atos antidemocráticos foram reprimidos pela Polícia Legislativa da Casa e pela Polícia Militar. Em 30 dias, o trabalho de recuperação da Casa avançou em ritmo acelerado.
A diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, classificou as invasões aos prédios dos Três Poderes como violência. Para Ilana, é como se o corpo institucional do Senado tivesse sido violado. Ilana ressaltou que os vândalos atacaram o coração da República, quando depredaram os prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF.
Ela disse que ainda sofre com as lembranças, mas apontou que o Senado e as instituições deram rápida resposta aos ataques, como forma de mostrar a importância dos papéis institucionais e de reafirmar o compromisso do País com a democracia.
“Eu acho que isso mostra que as instituições, primeiro, eram fortes. O que se faz ali foi uma violência contra a democracia, mas que as instituições são fortes e resistem. Acho que simbolicamente a gente ter recuperado fisicamente tão rápido é também uma resposta a isso.”
APOIO INTERNACIONAL
Entidades internacionais também se manifestaram em defesa da democracia brasileira, como o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que enviou mensagem de vídeo. A Associação de Ex-membros do Congresso dos Estados Unidos (FMC) divulgou carta de solidariedade aos brasileiros. Já a presidente da Fundação PopVox, a norte-americana Marci Harris, fez questão de comparecer pessoalmente no ato público.
O ato público foi encerrado com um abraço simbólico no gramado em frente ao Palácio do Congresso.
(com informações da Agência Câmara de Notícias).
M. V.