Na segunda-feira (13), mais uma notícia de dificuldades financeiras de empresas, não fraudulentas como a da Americanas, veio à tona com o pedido de auto falência da Pan Produtos Alimentícios. A empresa foi fundada no início da década de 30 do século passado, com uma tradição que se construiu geração após geração.
Está na memória afetiva de muita gente os hoje proibidos cigarrinhos Pan, sucesso absoluto por décadas, ou então, as moedas de chocolates moldadas com papel alumínio dourado, uma perfeição, entre outros tantos produtos destinados ao público infantil. E, ainda, uns poucos destinados ao público adulto, como bombom recheio conhaque, nestes dias, à venda no marktplace da Magalu a R$ 83,29 o display com 12 caixas de 50g. cada.
Na sexta-feira a notícia, um pouco menos dramática, de que o Grupo Raiola, fundado em 1938 por imigrantes italianos, produtor de conservas, com grande participação de mercado de azeitonas, teve seu pedido de Recuperação Judicial deferido pela 3ª Vara de Recuperações e Falências de São Paulo, fato que já tinha causado algum mal estar na indústria e no comércio.
Os dois casos referem-se a indústrias de alimentos, voltadas basicamente para o mercado interno, ambas com raízes no processo de industrialização do país, na década de 30, após a revolução comandada por Getúlio Vargas. As duas de porte médio, integrantes de segmento muito representativo da indústria nacional e com respectivos passivos a descoberto de R$ 260 milhões e de R$ 163 milhões.
Na raiz das dificuldades financeiras a queda no consumo das famílias, redução nas vendas, a necessidade de aumentar o capital de giro, os empréstimos bancários para manter a operação e os fatais juros alucinados do Banco Central com seus 13,75% de taxa básica Selic.
Sobre o vilão dessas histórias, seja pelo lado do consumo ou da produção, centenas de economistas assinaram o manifesto “Taxa de juros para a estabilidade duradoura: Manifesto de economistas para o desenvolvimento do Brasil”, que veio ao público na sexta-feira (10).
Declaram que “A taxa de juros no Brasil tem sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central e está hoje em níveis inaceitáveis”. Encabeçam o documento Luís Carlos Bresser-Pereira, Leda Paulani, Monica de Bolle, Luís Gonzaga de Mello Belluzzo, Luciano Galvão Coutinho, Nelson Marconi, Antônio Correa de Lacerda, Clélio Campolina, Paulo Nogueira Batista Jr. e Lena Lavinas, entre outros.
Os dois casos são muito representativos dos tempos atuais, sinalizando, caso não haja uma correção de rumos, na direção da recessão. Os ingredientes são os mesmos da recessão mais recente e a dose, dentro de uma economia mais debilitada, o que provoca inevitáveis apreensões.
O economista André Lara Rezende, também crítico das taxas de juros mantidas pelo Banco Central nas alturas, em entrevista ao Canal Livre da TV Bandeirantes, no domingo (2), bate na tecla da ameaça que os juros descontrolados podem trazer: “coloca o país em uma possível recessão muito séria”, alertou o entrevistado.
Outros sinais vão reforçando o alerta. As lojas do setor varejista começam a sentir o impacto do caso Americanas sobre as linhas de créditos. As lojas de roupas femininas Marisa, com dívidas de R$ 600 milhões e receita de até R$ 250 milhões por mês, corre para renegociar dívidas.
O processo de reestruturação da Marisa vem desde 2017, mas a pandemia e a desaceleração da economia nacional (com juros altos e menor poder de compra dos brasileiros, entre outras questões) reduziram as vendas e “deterioraram a operação da empresa”, segundo a Infomoney.
As dificuldades que as lojas Marisa enfrentam podem ser só o começo das dificuldades de outras varejistas. Dias atrás, os acionistas da companhia anunciaram mudanças em seu Conselho de Administração. Marcelo Doll Martinelli renunciou ao cargo de presidente do Conselho e foi substituído por João Pinheiro Nogueira Batista. As ações da empresa já sofreram queda de 44,2% em fevereiro.
Em entrevista ao podcast Flow, o empresário Caito Maia, dono da Chilli Beans, disse que está “revoltado” com a fraude nas Americanas, justamente pelo impacto que vai gerar sobre fornecedores, redes varejistas e, até mesmo, no desempenho econômico do Brasil em 2023.
O ditado popular diz “do couro sai a correia”. Com os bancos drenando sem parar, anos a fio, com seus juros extorsivos, a indústria, comércio e o setor de serviços não financeiros, como se produzir o “couro”, as riquezas? E, sem ela,s onde vamos parar? Não terão esses senhores da banca pretensões a um novo Proer, mas, um só já não teria sido regalia demais?
J.AMARO