“Quando se fala em responsabilidade fiscal o que se quer dizer é que os banqueiros querem ter certeza que eles vão receber os juros todo ano do governo. É isso o que eles querem”, destacou o presidente à CNN
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (16), o presidente Lula voltou a criticar os juros altos e disse que não está governando para o mercado. “Eu não estou governando para o mercado. Eu sei o que o mercado quer. O que ele faz para ganhar dinheiro. Eu estou governando para o povo brasileiro, para que ele recupere o bem estar social que ele perdeu”, disse Lula.
O MERCADO TEM QUE ENTENDER QUE ESSE PAÍS É FEITO DE POVO
“O mercado tem que ganhar dinheiro, mas o mercado tem que entender que esse país é feito de povo, e o povo precisa ser tratado com respeito”, apontou o presidente. “Eu tenho que ter sensibilidade com as pessoas que estão vivendo embaixo da ponte. Os homens e mulheres que atuam no mercado têm que ter um pouco de sensibilidade também”, destacou. “Esse país não pode ser governado pendendo apenas para um lado. Tem que pender para todos os lados, e o povo mais pobre tem que ser priorizado no bolo que nós formos capazes de produzir nesse país”, afirmou.
O presidente lembrou que o Brasil sofreu um processo de desmonte por parte do último governo. “Por que se vendeu a BR? Por que pagar 106 bilhões de dividendos e não investir pelo menos metade disso em refino para que não precisemos importar 25% da gasolina e 35% do óleo diesel”, indagou Lula. “O Brasil precisa ser autosuficiente. Esse país precisa ser dono do seu nariz”, acrescentou.
Sobre a discussão com o presidente do Banco Central, Lula disse não quer brigar “com esse cidadão do BC que eu nem conheço. Estive com ele uma vez. Eu quero que ele cumpra o que está na lei”. “Se tem uma lei que manda o presidente do BC cumprir essas funções, ele tem que cumprir essas funções. O Banco Central tem que cuidar do que está na lei. Inflação, crescimento e emprego”, assinalou o presidente.
JURO SE AUMENTA QUANDO HÁ EXCESSO DE DEMANDA
“Quando eu for visitar os lugares mais miseráveis desse país, eu vou levar o presidente do BC comigo”, disse Lula. Sobre se ele vai conversar com o presidente do BC, Lula disse que “o Haddad vai continuar conversando com o presidente do BC”. “Se eu não posso conversar com ele sobre a taxa de juros, sobre o que eu vou conversar? Quero que ele apenas cumpra as metas de inflação. Ele não pode é achar que a meta da inflação é a razão para você aumentar a taxa de juro”, explicou Lula.
“A taxa de juros você aumenta se tiver excesso de demanda. Se não tiver, você não deve aumentar taxa de juros. Não é o juro que vai resolver a taxa da inflação”, destacou.
“Aumentar o juro é importante quando você tem uma inflação demanda. Se você tem a sociedade consumindo demais, então você aumenta o juro para diminuir o consumo. Mas não é o caso do Brasil. Não tem inflação de demanda nesse país. Tem crise de crédito. Somos um país capitalista sem crédito. Qual o empresário que vai fazer um investimento pedindo emprestado a 13,75% de juros? Não vai. Isso é maior do que a taxa de retorno que ele vai querer ganhar”, apontou Lula à CNN.
A COISA NÃO ESTÁ BOA
Lula citou Antônio Ermírio de Moraes e José Alencar como exemplos de empresários que combatiam os juros altos. Ele disse que o CMN (Conselho Monetário Nacional) “não pode achar que a coisa está boa, porque não está”. Perguntado sobre a autonomia do BC, Lula disse: “vamos ver qual é a utilidade da independência do BC tem ou teve para este país. Se ela trouxe um coisa extraordinariamente positiva, não tem problema nenhum ser independente”.
Ele reforçou que o BC não é independente. “Ele é autônomo, porque tem compromisso com a sociedade, com o Congresso e com o presidente da República”, lembrou. “Isso sobre a autonomia não é uma questão de princípio. Se a autonomia do BC melhorar a economia, ótimo. Se não melhorar, tem que mudar”, afirmou Lula.
E criticou a ganância dos bancos. “Quando se fala em responsabilidade fiscal o que se quer dizer é que os banqueiros querem ter certeza que eles vão receber os juros todo ano do governo. É isso o que eles querem. Querem garantir primeiro o deles. Eu acho que eles deveriam ter um pouco de bom senso para garantir primeiro para quem está passando fome, quem esta dormindo embaixo de ponte”, disse o presidente, que observou que está emitindo “ordens de serviço de obras que eram do meu governo, de 2009 e 2010”.
ARROCHO FISCAL
“Vamos voltar a investir neste país”, enfatizou o presidente, confirmando o reajuste do salário mínimo para R$ 1.320 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 2.640. Ele disse que seu compromisso é de isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Lula considerou um absurdo o nível de taxação de quem ganha na faixa de R$ 5 mil. “Eles estão entre os 10% mais ricos da população e pagam mais do que quem ganha dividendos”, denunciou.
Lula falou, ainda, sobre Lava Jato. Disse que pretende olhar para frente e que não vai ficar pensando nisso. Falou que em seu governo dará aos seus integrantes a presunção da inocência sempre. “Se a CGU encontrar denúncias que tenham procedência, o envolvido será afastado”, disse Lula. Ele falou sobre Dilma Rousseff e disse que, se depender dele, ela será presidente do Banco dos BRICS e que isso “será maravilhoso para os BRICS e para o Brasil”.
Ao final, ao falar sobre José Dirceu, Lula faz questão de dizer que ele deve parar de ficar se escondendo. O presidente ressaltou a importância de José Dirceu para o PT. Ele comentou sobre as relações com o Congresso Nacional e disse que vai tentar impedir a continuidade do orçamento secreto.
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