Além da greve localizada em Arequipa e Puno, milhares tomaram as praças das duas cidades
As praças centrais das cidades peruanas de Arequipa e de Puno foram tomadas por multidões nesta segunda (20) e terça-feira (21) para exigir eleições gerais, a imediata saída da presidente Dina Boluarte e denunciado as bancadas fujimoristas vende-pátria, que tem coonestado a política de repressão e assassinatos do governo. “Quantos mortos queres para que renuncies? Dina assassina, o povo te repudia”, entoaram os manifestantes.
Convocados pela Federação Departamental [Estadual] de Trabalhadores (FDTA) e pela Frente em Defesa do Cone Norte, milhares de manifestantes voltaram a erguer suas vozes, faixas e bandeiras pelo retorno da democracia e em repúdio à política de execuções implementada desde 7 de dezembro, quando o presidente Pedro Castillo foi destituído após fracasso de sua tentativa de autogolpe.
Segundo José Luis Chapa, dirigente da FDTA, a renúncia e convocação de eleições devem ser incondicionais, são urgentes e devem ser imediatas.
Encabeçaram os protestos os vice-governadores – as principais autoridades da sociedade aymará -, além de lideranças da sociedade civil, operários e artistas. “Voltaremos e seremos milhões”, afirmaram os aymarás, que se deslocaram de comunidades distantes para alertar sobre os enormes “riscos de uma guerra civil”, caso Dina e o Congresso insistam em se perpetuar no poder sem mais nenhuma representatividade. De acordo com as últimas pesquisas, o rechaço do Executivo e do Legislativo é superior a 80%.
Também se somaram à mobilização reservistas das Forças Armadas, que respaldaram a condenação unânime da sociedade ao banho de sangue promovido, que já soma 65 pessoas mortas em todo o país.
Segundo denunciaram as lideranças, as normas internacionais de direitos humanos proíbem o uso de armas de fogo com munição letal para controlar protestos, mas a Polícia e o Exército as têm utilizado na tentativa de dispersar as manifestações. Até o momento, o número de manifestantes feridos ultrapassa 1.200, incluindo jornalistas que foram atingidos por bombas de gás lacrimogêneo lançadas bem próximas ao seu corpo para que a sociedade não seja informada do que está ocorrendo.
“Não é por acaso que dezenas de pessoas disseram à Anistia Internacional que sentiam que as autoridades as tratavam como animais e não como seres humanos”, declarou Erika Guevara Rosas, diretora da Anistia Internacional para as Américas.
“A Promotoria Nacional deve dispor urgentemente de recursos e tempo para investigar graves violações de direitos humanos e possíveis crimes de direito internacional. Atrasar e negligenciar este trabalho crítico contribui para criar um clima de impunidade que apenas encoraja tais atos”, acrescentou Marina Navarro, diretora-executiva da Anistia Internacional no Peru.
O secretário-geral da Federação de Trabalhadores da Construção Civil do Peru, Luis Villanueva Carbajal, sublinhou que suas bases “estão em mobilização permanente até que as reivindicações do povo sejam atendidas”. “A presidente segue sustentando que não vai renunciar, em que pese não só ter uma alta desaprovação, como informes de organismos internacionais que a apontam como autora de violações de direitos humanos”, acrescentou.
Na avaliação de Villanueva, “esta pressão social não irá diminuir, como pensam. Acreditam que vão nos vencer por cansaço e que deixaremos de nos mobilizar. Estão tremendamente enganados. Como seguir sendo governados por alguém sem respaldo e que fiquem até 2026? Não darão condições mínimas para que haja paz social, para sejam implementadas políticas de Estado e o único que aconteceria seria um retrocesso total”, concluiu.