Hoje há grupos de WhatsApp que reúnem garimpeiros ilegais de Roraima com a antena da Starlink – braço da SpaceX de Musk
A internet da Starlink, do bilionário Elon Musk, entrou na Amazônia há alguns anos pelas mãos de Jair Bolsonaro e, agora, é comercializada para garimpeiros que atuam ilegalmente na região dos yanomamis (RR). O serviço é fornecido via satélite e oferece uma das velocidades de conexão mais altas do Brasil, mesmo em áreas remotas e distantes de grandes centros.
Bolsonaro chegou a dizer na época que confiava mais em Elon Musk do que no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão responsável pelo monitoramento do grau de desmatamento dos biomas brasileiros, principalmente a floresta amazônica. Ele queria entregar o controle da Amazônia ao bilionário americano.
Em 2022, o governo Bolsonaro interferiu na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pela autorização da operação, em território brasileiro, dos satélites da Starlink. Hoje há grupos de WhatsApp que reúnem garimpeiros de Roraima com a antena da Starlink – braço da SpaceX de Musk.
Agora está claro o que pretendia o ex-presidente ao desmontar os órgãos de fiscalização do desmatamento e dos incêndios criminosos. Era o “liberou geral” para o garimpo e para qualquer outro tipo de crime. No Brasil não há mecanismos de fiscalização do uso de internet para atividades ilegais na Amazônia. Entregar o controle da Amazônia a Elon musk, como chegou a defender Bolsonaro, era aplaudido pelo garimpo ilegal, pelos grileiros, pelos contrabandistas de madeira e por todos os demais criminosos.
O serviço é revendido pelos próprios garimpeiros por até R$ 9,5 mil. Os termos de uso da Starlink dizem que “você não pode revender o acesso aos Serviços a terceiros como um serviço autônomo, integrado ou de valor agregado sob este acordo”. Mas as normas, disponíveis no site da empresa, não preveem nenhuma punição a quem infringir a regra. Segundo reportagem do jornal “Brasil de Fato”, os mesmos perfis de WhatsApp que revendem a internet da Starlink anunciam a compra de ouro e cassiterita extraídos ilegalmente da terra dos yanomamis.
A Starlink de Elon Musk não é a única internet revendida em grupos virtuais de garimpeiros ilegais. A reportagem também localizou anúncios da Viasat, companhia norte-americana que fornece equipamentos e serviços para comunicações militares e comerciais nos Estados Unidos. No Brasil, a Viasat provê internet para áreas rurais com autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Líderes indígenas e especialistas já afirmaram ao Brasil de Fato que a internet foi vital para que o garimpo ganhasse a escala atual no território yanomami. A conexão ajudou a aumentar a “produtividade” da atividade, em comparação com o modelo de mineração ilegal que ocorria no território há 30 anos. Além de internet, serviços diversos são oferecidos por meio de grupos de WhatsApp e Facebook, desde o transporte em áreas de garimpo ilegal até a venda de mercúrio, substância tóxica usada na purificação do ouro que envenena os rios.
Segundo o Ministério Público Federal de Roraima (MPF), a internet dificulta o êxito de operações policiais contra a mineração ilegal. Em muitos casos, os primeiros garimpeiros a serem alvos da fiscalização alertam colegas de trabalho em áreas mais distantes, diminuindo a chance de flagrante. A reportagem já flagrou esse tipo de alerta acontecendo em grupos virtuais de garimpeiros de Roraima.